A NOSSA CLASSE AVIAÇÃO

TAP (des)projeto dos patrões para a aviação

Os últimos anos foram anos de ouro para a aviação civil em Portugal no que toca a recordes de passageiros e de carga aérea transportados. Mas aos trabalhadores do setor foram impostos sucessivos ataques, com pouca ou nenhuma resistência das suas organizações tradicionais, comprometidas com a Geringonça.

O antes e o depois da privatização da TAP

No final de 2014 iniciava-se mais uma tentativa de privatizar a TAP, que acabou por concretizar-se. Um ano depois, com o chumbo do governo de Passos Coelho no Parlamento e a Geringonça a preparar-se na casa de partida, é assinado em privado o contrato com Neelman e Pedrosa.

Privatizou-se a TAP sem que as organizações representativas dos trabalhadores organizassem a resistência. A greve dos pilotos nos primeiros dez dias de maio de 2015, embora fosse pela revindicação da sua quota na privatização, por isso não lutavam contra a privatização em si, tinha o repúdio do governo de Passos Coelho-Portas e aparecia assim em sua oposição, aspeto que se tornava contraditoriamente progressivo. Daqui para a frente, com esta derrota e com a Geringonça de esquerda pela frente, o Governo atuou de forma a congelar a luta dos trabalhadores no setor da aviação, ajudado pelos seus aliados parlamentares, que eram agentes da conciliação política e sindical. Sobre isto devem os militantes do PCP e BE – especialmente os primeiros pelo seu maior papel sindical – fazer um balanço do que aconteceu com a Geringonça e pensar em alternativas políticas e sindicais que façam melhor do que as do presente.

O próximo capítulo com a “esquerda”

Já no governo da Geringonça a “reversão da privatização” foi propagandeada vitoriosamente em direto pela TV, no Parlamento e pelas organizações dos trabalhadores ligadas sobretudo ao PCP e ao PS. Contudo, a manobra não resolveu nada. O acordo deixava a gestão e os lucros ao privado e o Estado ficava com a responsabilidades e as garantias. Veio a provar-se que o privado mais não fez do que aprofundar as dificuldades da companhia, facto desmascarado pela pandemia.

A pandemia, entre 2020 e 2021, só no grupo TAP – considerando TAP, Portugália, CateringPor, Groundforce, etc. –, despediu mais de 3000 trabalhadores. Destes, mais de dois terços eram precários com contratos que à data já lhes deviam a efetividade. O restante terço foram os sacrificados do primeiro Plano de Reestruturação da Companhia sob a batuta da UE e a orquestra do PS. Em 2021, para além do Plano de Reestruturação da TAP, a Groundforce entrou em insolvência, e hoje navega à vista na mira da UE em busca de mais um predador privado. É disso que vai tratar o Plano de Reestruturação da empresa de handling da TAP: mais ataques à contratação coletiva e sacrifícios para os trabalhadores, preparando-a para maior rentabilidade para os novos patrões.

Ou vamos à luta unidos ou uma nova derrota é o mais provável

No final do ano passado, o Governo, através de uma resolução do Conselho de Ministros (*) “renova a declaração da TAP, S. A., da Portugália, S. A., e da Cateringpor, S. A., em situação económica difícil”. Permite assim continuar a mexer nas contratações coletivas, como anunciam para o primeiro semestre deste ano. Governo e patrões, no passado e no presente, continuam a ver o quadro de conjunto, ao contrário de sindicatos e comissões de trabalhadores, que por compromissos políticos e sectarismo, não unificam as lutas como o governo unifica os ataques nas suas Resoluções. Deixemo-nos de sectarismos. É preciso passar a palavra Unidade do papel para as ruas. A luta de toda a TAP, com Groundforce incluída, é fundamental para fazer tremer os alicerces do Parlamento!

(*)Resolução do Conselho de Ministros n.º 185/2021 | DRE

Por Carlos Ordaz