Os trabalhadores na base da sociedade
Os operários da Autoeuropa sabem do que estamos a falar. Por trás de um automóvel ou de qualquer outra máquina, de um transporte público ou privado, do milagroso turismo transformado há vários anos no motor da economia, de um professor, etc., encontra-se um trabalhador ou trabalhadora, sem cuja atividade a sociedade não funcionaria. Segundo a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) os cerca de 5 mil operários na Autoeuropa produziram, em 2022, 71% dos 322 mil veículos “portugueses” (mais 11,2% que em 2021). Os outros 30% foram produzidos na Stellantis Mangualde, Mitsubishi Fuso Tramagal, Toyota Caetano e CaetanoBus. Daqueles,97,4% são exportados principalmente para a Alemanha, França e Itália; quer dizer, os baixos salários portugueses continuam a servir para as marcas e multinacionais acumularem chorudos lucros no mercado internacional. É o maravilhoso Euro e UE a funcionar!…
Autoeuropa: um “êxito” à custa do trabalhador
A produção de carros em Palmela em 2022 apenas é comparável aos 257 mil de 2019. Mais um “êxito” à custa do aumento do ritmo e cargas de trabalho desumanizantes, em que o operário fica subjugado à máquina e às linhas, que por sua vez são comandadas pelos objetivos da ganância do lucro. Sobre as costas dos operários e operárias acumulam-se as ameaças à saúde, as doenças profissionais, as baixas prolongadas, o desgaste provocado pela rotatividade dos turnos, o trabalho noturno, as folgas rotativas… Que também acabam por atingir as relações familiares e o desenvolvimento pessoal!
Lei Laboral: o essencial manteve-se…
Nas recentes alterações à lei laboral que entraram em vigor a 1 de maio, o Governo do PS e de António Costa reduziu-as ao mínimo necessário para colher alguma simpatia dos trabalhadores, mas acima de tudo para não beliscar os interesses do patronato. Entre outras:
- Nenhuma limitação à desregulação dos horários de trabalho, ao trabalho noturno e à laboração contínua;
- Manteve a redução da compensação pelo trabalho noturno;
- Trabalhadores com doenças profissionais ou vítimas de acidentes de trabalho não têm o seu posto de trabalho assegurado;
- Não concretizou medidas sobre a segurança e saúde no trabalho;
- Manteve a desresponsabilização das empresas na gestão dos processos de acidente de trabalho, deixando os trabalhadores nas mãos das seguradoras, ávidas de gerirem o negócio do acidente de trabalho;
- Manteve a precariedade do trabalho temporário e da subcontratação.
É preciso construir uma alternativa a sério!
Os operários da Autoeuropa e de toda a indústria sabem quanto o seu trabalho é decisivo para as “coisas” aparecerem feitas. Sabem que as máquinas estão paradas até ao momento em que eles entram na fábrica e as colocam a funcionar. No capitalismo a grande contradição é que quando elas funcionam é para gerarem mais poder e lucros para a minoria privilegiada, em vez de atender às necessidades do conjunto da sociedade. Enquanto esta minoria se mantiver no comando da sociedade, as conquistas de cada luta acabarão por dissolver-se no dia-a-dia. ‘Construir uma alternativa revolucionária’ significa que devemos acumular avanços que, mesmo pequenos, contribuam para um futuro em que quem trabalha deve comandar os destinos da sociedade. Mesmo que isso signifique não entrar nos salões dos parlamentos, comissões parlamentares, ministérios ou ‘Geringonças’.
Na Autoeuropa e em outras fábricas e contra o governo, lutar por:
- Aumentos salariais sim, mas também melhores condições de trabalho;
- Mais contratações e redução das cargas de trabalho;
- Redução da idade da reforma para os 60 anos;
- Limitação da laboração contínua e do trabalho noturno a setores essenciais ou cuja especificidade técnica o exija;
- Limitação aos 55 anos de idade e/ou 20 anos de turnos para se poder dispensar o trabalho noturno e por turnos, sem corte do subsídio de turno.
João Reis e Edu Dário
Texto originalmente publicado no jornal Em Luta, n.º 11

