A política das direções sindicais conduziu ao beco sem saída
A FENPROF chegou tarde, mas quando entrou na luta recusou sempre a unidade com o STOP e boicotou o crescendo da luta, promovendo sempre as formas de luta próprias que não incomodassem o Governo, priorizando as greves por distrito e uma manifestação nacional, claramente insuficiente para fazer frente à política ditatorial de Costa&Costa.
O STOP teve o grande mérito de ter iniciado a greve em dezembro de 2022, dando voz ao descontentamento dos professores e promovendo a sua organização democrática e pela base, numa ação combativa e radical que abalou o Governo e o sindicalismo tradicional de calendário e conciliação de classes. No entanto, exatamente pelo peso que ganhou, também o STOP tem responsabilidade nos destinos desta luta.
Os professores sabiam que precisavam de uma grande luta em unidade de todos os setores sindicais para poderem derrotar o Governo. Apenas uma grande greve unitária de vários dias no país, incluindo professores e também funcionários, em torno da defesa da Escola Pública, poderia de facto derrotar o Governo. Todavia, depois da entrada em cena da FENPROF, o STOP não desafiou de facto a FENPROF e a sua condução do processo, porque não soube construir uma proposta de luta unitária consequente, e priorizou a sua autoafirmação. Aceitou a política de cada um para seu lado, mantendo divididas as greves da FENPROF e do STOP, o que o impediu de disputar de facto uma direção combativa para o processo, enquanto o Governo continuava a mandar e desmandar.
Além disso, depois de inicialmente abrir a luta dos professores a outros setores, o STOP cedeu a uma política corporativista e mostrou-se incapaz de mobilizar o apoio sistemático de outros sindicatos e da sociedade civil para ampliar a sua luta à classe trabalhadora de conjunto.
Nesse sentido, a derrota atual é imposta pela força autoritária do Governo Costa, mas também pela política das direções do setor, com maior responsabilidade central da FENPROF, mas onde a política do STOP não esteve à altura dos desafios dos professores.
A luta pela educação pública precisa de uma alternativa revolucionária
Assumir as derrotas do ano anterior não pode, no entanto, levar-nos a baixar os braços.
A greve de 18 a 22 de setembro organizada pelo STOP acerta quando não quer deixar morrer a chama. Todavia, o STOP insiste numa política de cada um para seu lado, enquanto a FENPROF aponta uma greve para o dia 6 de outubro. Depois de uma derrota, é ainda mais importante reconstruir um caminho de mobilização e juntar forças. Enquanto se dividem os caminhos da luta de cada um para seu lado, são os professores que continuam a não ver uma direção alternativa que dê voz aos seus anseios. Isso reforça o peso da derrota e dificulta o retomar da luta. O primeiro desafio do ano letivo é, por isso, juntar as forças de todos os sindicatos para encostar o Governo à parede e recusar os simulacros de negociação que Costa tanto gosta de encenar.
Ao mesmo tempo, a maioria absoluta do PS mostra bem que para vencer esta luta não basta uma política corporativa de setor e é preciso uma perspetiva política e de classe sobre como defender hoje a Escola Pública e de Qualidade. Para o Em Luta, esta tem de estar ligada não só à luta contra este Governo, mas também à contra o sistema capitalista de conjunto, pois não será mais um deputado no Parlamento, eleito com um programa reformista, que vai resolver os problemas dos professores e da classe trabalhadora, como a Geringonça bem demonstrou.
É preciso reconstruir a confiança na luta dos professores com uma direção sindical combativa, com uma proposta de luta unitária e combativa, que não baixe os braços. Mas ao mesmo tempo saber que será apenas uma luta política revolucionária da classe trabalhadora, junto com os professores, pais e funcionários, poderá reverter de forma duradoura a destruição da Escola Pública em curso.
Maria Silva
Texto originalmente publicado na edição em papel do jornal Em Luta, n.º 43

