Internacional

Palestina: As mentiras do sionismo e a cumplicidade dos grandes media criam o terreno para a ‘solução final’ de Israel em Gaza

O dia 7 de outubro vai ficar na história da luta pela libertação nacional na Palestina e no Médio Oriente. Foi o dia em que a resistência palestiniana conseguiu infligir uma derrota ao exército ocupante e romper por um período o cerco a que são submetidos diariamente por Israel, há 16 anos. Uma incursão preparada e coordenada conseguiu romper em vários pontos a cerca em volta de Gaza, que impede a saída de qualquer palestiniano. As câmeras e dispositivos de vigilância não funcionaram porque foram inutilizadas pelos combatentes. Até esse dia, a fama acumulada por Israel em várias guerras contra seus vizinhos árabes e da guerra permanente contra os palestinianos havia dado um prestígio macabro, a tal ponto que a sua tecnologia de vigilância, os seus carros blindados de repressão à população vinham sendo exportados para muitos países.

Foi um fiasco do exército israelita. Em geral, os especialistas da área apontam centralmente para uma falha do aparato de inteligência, tais como a Mossad. A nosso ver, não foi somente esse o fracasso. A reação das tropas da brigada que vigia Gaza foi derrotada facilmente pelos militantes do Hamas. Pelas informações que foram divulgadas, muitos oficiais e até mesmo coronéis e generais foram aprisionados. A reação do restante do exército foi tardia e lenta. O que pode estar por trás dessa derrota são dois fatores: 1) toda a ocupação colonial leva a um desgaste das tropas envolvidas, e vai gerando uma incapacidade crescente para combater. Foi o que aconteceu com as tropas francesas na Indochina e na Argélia, as norte-americanas no Vietnam. A sua atividade quotidiana é reprimir a população desarmada de forma perversa e covarde. 2) Quando os oprimidos se rebelam e enfrentam essas tropas elas não têm confiança nas suas próprias forças, ficam assustadas com a reação dos rebeldes oprimidos. No caso dos soldados sionistas em Gaza, os vídeos gravados mostram esse tipo de reação das tropas da guarnição a cargo da repressão em Gaza.

Mas o que é trazido para nós e se vê de forma esmagadora nos media é que tudo se tratou de um atentado terrorista do Hamas contra a população civil de Israel. Não tem nenhuma causa, a não ser a sanha assassina’ dessa organização.

E como aconteceu na guerra do Iraque, e em muitas outras do Médio Oriente, uma série de notícias falsas foram sendo divulgadas. A falsa história da suposta decapitação de bebês chegou a ser divulgada pelo presidente dos Estados Unidos, Biden, que chegou a mentir dizendo que viu essas fotos, quando eram apenas uma invenção de um blogueiro israelita de ultra direita, sem nenhuma comprovação. Ela acabou sendo desmentida, mas sem nenhum destaque. Vídeos distribuídos como prova de ‘ataques a civis’ mostravam, na verdade, um ataque a uma base militar israelita em que soldados surpreendidos tratam de se esconder de uma coluna do Hamas, que acaba invadindo, e depois esses mesmos soldados aparecem mortos. Ou seja, era uma batalha militar. E invasões a aldeias e bairros de cidades israelitas vizinhas a Gaza são apresentadas como ataque premeditados a civis, quando numa guerra assimétrica como essa entre o Estado de Israel e a faixa de Gaza, cercada e bombardeada sistematicamente, as aldeias e cidades próximas a Gaza fazem parte do dispositivo militar do ocupante, no caso Israel, e, portanto, têm que ser enfrentados quando fazem uma incursão militar em resposta ao cerco, são alvos militares. Pelo menos, é assim que Israel trata tanto Gaza como a Cisjordânia há décadas, e é essa a fonte de toda a violência, mas esses mesmos meios de comunicação não dizem uma palavra de condenação quando os colonos e o exército sionista invadem aldeias, destroem as casas da população e matam os seus habitantes.

O que chama a atenção é que para os media e os governos e partidos dos EUA e da UE, os bombardeios massivos sobre Gaza que matam civis numa quantidade impressionante são apenas “uma retaliação” de Israel! Portanto, segundo eles, justificada. Ou seja, seguem o mesmo roteiro do ministro da defesa israelita, que classificou os habitantes de Gaza como “animais humanos”. O máximo que alguns fazem é sugerir ‘contenção’ aos genocidas.

Os media não mostram nada do sofrimento das crianças palestinianas, nem antes, nem depois dos ataques. Não dão nenhuma importância a factos como: 9 funcionários da ONU em Gaza foram assassinados pelo exército de Israel quando tentavam socorrer os habitantes feridos. Mas Israel declara que todos os seus alvos são militantes terroristas que “se escondem nas casas dos palestinianos’, e, portanto, qualquer alvo residencial ou até mesmo instalações médicas e escolas em Gaza são parte dos seus objetivos de guerra.

Estamos a assistir, em tempo real, nos media mundiais e nas redes sociais, a cenas idênticas à Nakba de 1948. O governo israelita, não contente com o deslocamento forçado de mais de um milhão de pessoas em poucas horas, declara que devem sair do território imediatamente para não serem atingidos pelos seus bombardeamentos. E ainda mandou bombardear um comboio de palestinianos que tentaram sair do Norte para chegar ao Sul da Faixa de Gaza. E o que dizem os media ? Diz que é parte da “contraofensiva” de Israel, que de princípio está justificada, e não mostra nenhuma foto ou filmagem das atrocidades e dos assassinatos de civis palestinianos em Gaza.

Há mais uma omissão vergonhosa dos media mundiais: inundam a TV e os jornais com as declarações das entidades judaicas sionistas e ligadas a Israel, todas defendendo os ataques do estado racista de Israel (chegam a dizer que um Estado que nasceu de uma limpeza étnica, que mantém uma ocupação durante décadas e trata os palestinianos como cidadãos de segunda classe ou prisioneiros nas suas cidades é a única democracia do Médio Oriente!).

Mas não dão uma linha aos movimentos judaicos que se colocam contra a linha genocida de Israel. Alguns deles são bastante fortes, como Jewish Voices for Peace (Vozes judaicas pela Paz) dos Estados Unidos, que tem mais de 440 mil membros e apoiantes. Movimentos como esse já vinham fazendo campanhas contra o apartheid israelita e o racismo colonial. E, nesse momento, mantiveram a sua postura frente ao processo em Gaza. A seguir reproduzimos um trecho do pronunciamento de Jewish Voices for Peace (JVP) do dia 7/10/2023:

“O governo israelita pode ter acabado de declarar guerra, mas a sua guerra contra os palestinianos começou há mais de 75 anos. O apartheid e a ocupação israelitas – e a cumplicidade dos Estados Unidos nessa opressão – são a fonte de toda esta violência. A realidade é montada depende do momento histórico em que se começa a história.”

Durante o ano passado, o governo mais racista, fundamentalista e de extrema-direita da história de Israel intensificou impiedosamente a sua ocupação militar sobre os palestinianos em nome da supremacia judaica, com expulsões violentas e demolições de casas, assassínios em massa, ataques militares a campos de refugiados, cercos implacáveis e humilhação diária. Nas últimas semanas, as forças de Israel atacaram repetidamente os locais muçulmanos mais sagrados em Jerusalém. Durante 16 anos, o governo israelita sufocou os palestinianos em Gaza sob um bloqueio militar aéreo, marítimo e terrestre draconiano, prendendo e matando de fome dois milhões de pessoas e negando-lhes assistência médica. O governo israelita massacra rotineiramente palestinos em Gaza; crianças de dez anos que vivem em Gaza já ficaram traumatizadas por sete grandes campanhas de bombardeamento nas suas curtas vidas”.

Nos Estados Unidos existiam pesquisas recentes apontando que mais de 50% da juventude judaica desse país não se sente identificada com Israel, um dado que assusta os dirigentes sionistas locais e a Organização Sionista Mundial. Há outros movimentos que unem esses setores a movimentos progressistas e comunidades de origem árabe ou muçulmana nos EUA, como mostra a carta escrita pelo Comité de Solidariedade com a Palestina de Graduação de Harvard, que afirmava que os estudantes “responsabilizam inteiramente o regime israelita por toda a violência em curso”, carta que foi assinada por 33 grupos de estudantes. Que tenha sido em Harvard, universidade de elite desse país surpreendeu a sua cúpula. A reitoria pronunciou-se diferenciando-se da carta, assim como vários ex-alunos, que foram ou hoje são executivos de grandes empresas ou ministros no governo americano. Também na New York University (NYU), os alunos se expressaram numa declaração contra o genocídio de Israel.

Os media tampouco dão cobertura aos protestos dos judeus ultra religiosos que vivem em Jerusalém, no bairro Mea Shearim, são anti-sionistas, e colocaram uma bandeira palestiniana no seu templo para mostrar repúdio ao massacre. Por causa disso, foram duramente reprimidos, golpeados pela polícia israelita e o seu templo foi invadido para retirar a bandeira palestiniana.[1] Só há uma verdade e um ponto de vista válido para os media e o establishment imperialista: o do governo genocida de Netanyahu e do seu defensor incondicional, o imperialismo norte-americano, através do governo Biden.

Qual é a situação dos palestinianos na Cisjordânia?

Na Cisjordânia, existem ‘áreas’ segregadas: umas para palestinianos e outras para os colonos judeus, que já somam 750 mil. Estes têm total liberdade de entrada e de saída, tanto na Cisjordânia como em Israel. Jerusalém Oriental, que pela própria partição de 1948 deveria pertencer ao estado palestiniano a ser criado, foi anexada, em 1967, à Jerusalém judaica sob controle dos sionistas.  Para os palestinianos, circular de uma área para a outra somente através de inúmeros checkpoints, onde muitas vezes passam horas submetendo-se a revistas humilhantes pelas tropas israelitas. Os colonos têm um comportamento abertamente racista e agressor sobre os palestinianos, e são protegidos pelo exército. O mesmo acontece com os palestinianos que vivem na cidade de Jerusalém.

Um dos argumentos falaciosos dos defensores de Israel nos media é que se trata de uma “guerra contra o Hamas”, não contra todos os palestinianos. Por isso, a questão está em Gaza. Essa é outra mentira. A guerra contra os palestinianos centra-se em Gaza hoje, mas ao mesmo tempo está submetendo a Cisjordânia a um cerco semelhante e a assassinatos de civis. Esse processo já vinha desde muito antes, mas agora multiplicaram-se de forma macabra a partir de 7 de setembro. Segundo relatórios de agências de notícias, do Crescente Vermelho (a Cruz Vermelha dos muçulmanos) e de organizações dos direitos humanos, desde o dia 7 de setembro ao dia 14, 55 palestinos foram assassinados e 1.100 feridos por ataques dos colonos sionistas na Cisjordânia, com a cumplicidade ou participação das forças armadas israelitas. Todos eram civis, famílias indo de uma cidade para outra, trabalhadores ou pequenos comerciantes tentando abrir os seus negócios. Até mesmo o cortejo de um funeral foi atacado a tiros, matando pelo menos 4 participantes palestinianos. Em nenhum desses ataques os seus integrantes eram militantes do Hamas. Só tinham uma característica em comum: eram árabes palestinianos. Essa é mais uma demonstração de que a política é de guerra e expulsão de todos os palestinianos.

O estado racista de Israel nasceu em 1948 com a Nakba, a limpeza étnica que expulsou 750 mil árabes das suas terras. Mas como não pôde livrar-se completamente dos palestinianos, seguiu a sua ação nestes 75 anos. A partir de 1967, com a ocupação de Gaza e da Cisjordânia, manteve os seus habitantes submetidos a um regime militar, que tratava os habitantes como prisioneiros e beneficiava do seu trabalho escravo, não lhes reconhecendo quaisquer direitos. Ao mesmo tempo, colonizavam novas terras expropriando os palestinianos, seja em Jerusalém Oriental, seja na Cisjordânia, com colonos judeus.

Devido à resistência permanente, as duas Intifadas em 1988 e 2000, e a persistente resistência, a sua estratégia tem mudado. Agora, frente à resistência armada, essa estratégia tornou-se explícita: a limpeza étnica de todo o território da Palestina. Para eles, ou saem da Palestina, ou morrem. Por isso, se veem os colonos da Cisjordânia gritarem: “Morte aos árabes” e atuarem de acordo com as suas palavras, ou seja, executando pogroms. Da mesma forma que os antissemitas faziam contra os judeus na Europa Oriental. Os últimos foram em Huwara y Turmus Ayya, na Cisjordânia.

Netanyahu apresentou, na sessão da ONU do último mês de setembro, um ‘novo mapa’ da região. Nele, não existe mais Palestina, nem sequer territórios ocupados. Só existe Israel, ocupando todo o território entre o mar Mediterrâneo e o Rio Jordão:

Mapa apresentado por Netanyahu na ONU

Uma analogia com a resistência judaica contra os nazis: o Levante do Gueto de Varsóvia

A partir da invasão nazi da Polónia, em 1939, o ocupante alemão decidiu concentrar os judeus de todo o país numa pequena região da capital, que ficou conhecida como “Gueto de Varsóvia”[2]. Os nazis assim o fizeram para poder controlá-los como numa prisão: tinha muros e cercas em toda a volta do gueto, de modo tal que só podiam sair os que tinham determinado cartão, com a finalidade de utilizar o seu trabalho em forma semelhante à escravidão. A comunidade judaica na Polónia era a maior dos países ocupados por Hitler.

Essa política dos nazis para os judeus polacos concentrados em Varsóvia durou até que aqueles decidiram avançar para a ‘solução final’, em 1942: construir os campos de concentração com câmaras de gás para exterminar todos os judeus. A partir daí, foram capturando os que ainda sobreviviam no gueto e enviados para a morte. Dos 380 mil residentes no início do gueto, cerca de 300 mil foram enviados para a morte entre 1942 e 43.

Quando perceberam que esse era o destino que esperava a todos, os judeus sobreviventes resolveram resistir armados, mesmo estando numa enorme inferioridade militar e logística. Formaram uma organização de resistência unida, a ZOB, e organizaram um levante, em abril de 1943, que conseguiu enfrentar os soldados alemães por mais de 30 dias, causando baixas importantes às tropas nazis. Sabiam que havia uma decisão de serem levados e mortos nas câmaras de gás dos campos de extermínio nazis. Optaram por resistir e morrer lutando. Os nazis chamavam “terroristas” aos combatentes judeus .

Como afirma Haidar Eid, professor da Universidade al Aqsa, em Gaza, no seu artigo Gaza 2023: O nosso momento semelhante ao Levante do Gueto de Varsóvia[3], “uma clareza do destino que Israel impôs aos palestiniaos de Gaza e também da Cisjordânia levou-os a assumir o mesmo tipo de decisão: “Em Gaza e Jenin[4], recusamo-nos a marchar para as câmaras da morte de Israel. Em Gaza e Jenin – na verdade, em toda a Palestina histórica – deixamos absolutamente claro que resistiremos ao regime de colonos, ao regime colonial e de apartheid entre o Rio Jordão e o mar Mediterrâneo.”

É nesse quadro que tem de se entender a luta armada desencadeada pelos residentes palestinianos. 

Do genocídio lento ao extermínio

O que está a acontecer hoje, face à resistência armada palestiniana e ao fracasso do intento sionista de escravizar o povo palestino e obrigá-lo a viver em condições sub-humanas para sempre, é a decisão de Netanyahu de arrasar toda a Gaza, transformar o genocídio em marcha lenta dos últimos 30 anos em genocídio direto através dos bombardeamentos contra todos os habitantes, corte definitivo de abastecimento de água e de energia.

O governo israelita fez um apelo cínico a quem quiser sobreviver, que saia de Gaza imediatamente, isso ao mesmo tempo que Israel bombardeia a passagem entre Gaza e o Egito, a única ainda aberta. Como denunciaram os médicos da Cruz Vermelha e funcionários da missão da ONU em Gaza, assim como a própria Organização Mundial de Saúde, ligada à ONU, é uma ordem impossível de ser cumprida por uma população de mais de um milhão e equivale a uma condenação à morte de doentes e feridos hospitalizados em Gaza. Ou seja, com a escusa de estar fazendo uma ‘retaliação’ aos ataques do Hamas, Israel condenou à morte toda a população residente sob a cobertura de destruir os ‘terroristas’. De forma semelhante ao que Hitler fez contra os judeus a partir da ‘solução final’ de 1942 em diante e frente à revolta, decidiu acabar com o gueto de Varsóvia pela sua destruição.

Com a cobertura dos governos ocidentais, da esmagadora maioria dos media e a cumplicidade dos governos que se dizem ‘amigos dos palestinianos’, como Lula, no Brasil, Israel argumenta que tem o “direito a defender-se” para declarar guerra e praticar um massacre de um povo inteiro em Gaza e na Cisjordânia. O representante israelita na ONU ficou irritado porque houve alguns embaixadores que sugeriram que tentasse poupar os civis palestinianos em Gaza. Ele reafirmou que não é hora de se preocupar com os ‘danos colaterais’, e sim em liquidar o Hamas, nem que para isso tenha que demolir e destruir totalmente a cidade. Ou seja, os mais de 2,2 milhões de habitantes, que obviamente incluem uma grande maioria de civis, dos quais mais de metade são mulheres e crianças, não lhes importa. E esse governo tem o cinismo de se fazer de vítima e chamar o Hamas de terrorista. Outra característica copiada do regime nazista: a propaganda mentirosa de Goebbels, que tinha uma frase definidora: “uma mentira repetida inúmeras vezes vira verdade”.

Um governo que tem entre seus ministros defensores de matar ou expulsar os árabes de todo o território palestiniano, como Itamar Ben Gvir, que já foi processado como terrorista até pelos tribunais israelitas, mas foi libertado e hoje é ministro da Segurança Nacional. Ele declarou publicamente que todos os árabes devem ser mortos, de tal forma que até os liberais israelitas o classificam de “fascista”. Ou o seu ministro da defesa, Yoav Gallant, que declarou abertamente que vai manter um cerco total a Gaza e cortar todo o abastecimento de água, combustível e energia, porque assim destruirá Hamas. E, obviamente, matará dezenas se não centenas de milhares de civis, em especial crianças, o que constitui um crime de guerra para o ICIC. Anistia Internacional e Human Rights Watch já tinham classificado o regime de Israel como um regime de apartheid. O embaixador de Israel na ONU fala abertamente e adverte publicamente na ONU “que não me venha barrar o caminho com essa preocupação pelos ‘civis palestinianos’”.

Netanyahu é um sucessor político de Vladimir Jabotinsky e Menachem Begin, que eram dirigentes da ala diretamente fascista do sionismo, que manteve um grupo terrorista próprio chamado Irgun Zvai Leumi, que atacava os árabes tratando-os como um povo inferior; esse grupo foi responsável pelo massacre de Deir Yassin, no qual assassinaram todos os palestinianos que puderam, para criar um pânico que levasse à retirada dos árabes da Palestina, como parte da Nakba.[5]

Por isso, é um cinismo abjeto de Netanyahu ao reivindicar estar vingando o assassinato em massa dos judeus pelo nazismo ao mesmo tempo que praticam a mesma metodologia de Hitler, quando eles são hoje o nazi-fascismo sionista. A diferença com o nazismo original é que desta vez se dá contra os palestinianos. O cinismo de Netanyahu não surpreende, só que desta vez contra os palestinianos, mas o cinismo maior vem do coro que inclui os dois partidos norte-americanos, Democrata e Republicano, o governo Macron da França, Scholz da Alemanha, Sunak da Inglaterra, que publicamente se colocam ao lado deste genocida, projetando a bandeira de Israel nos seus prédios icónicos, como a Torre Eiffel, em Paris, ou o Portão de Brandeburgo, em Berlim, e assim como a União Europeia se enfileiram apoiando o “direito de Israel a se defender”. Ou seja, os fascistas sionistas querem licença total para liquidar o povo palestiniano, e estão a conseguir.

A solidariedade à resistência palestiniana

O repúdio à ação genocida de Israel e a essa campanha demonizadora dos palestinianos pela via de colocar o Hamas como “terrorista” e classificar todos os que apoiam a resistência de terroristas ou apoiadores de terroristas está a gerar indignação e importantes manifestações.

Houve muitas manifestações em distintos países, as maiores no Médio Oriente, como na Jordânia, no Iémen, Iraque, Egito. Na Jordânia cantavam “somos Hamas, se Hamas é terrorista, nós somos terroristas”. Estão havendo mobilizações também nos EUA, Inglaterra, França, em outros países da Ásia, como Coreia do Sul, e ainda na Austrália e na Indonésia. Apesar do apoio incondicional a Israel por governos como Macron, em França, e Sunak, na Grã-Bretanha, apareceu a resistência do movimento que, embora reprimido, saiu às ruas contra o genocídio do povo palestiniano.

Em Paris, a polícia usou gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar uma manifestação de apoio aos palestinianos após o governo francês ter proibido qualquer protesto do tipo. Apesar da proibição, milhares de manifestantes reuniram-se em Paris, Lille, Bordéus e outras cidades na quinta-feira 12/10.

Em Inglaterra, a polícia britânica alertou que qualquer pessoa que demonstre apoio ao Hamas, uma organização considerada “terrorista” pelo governo britânico, ou que se desvie da rota, poderia ser presa. Mesmo assim, milhares de pessoas saíram às ruas em Londres, Manchester, Liverpool, Bristol, Cambridge, Norwich, Coventry, Edimburgo (Escócia) e Swansea.

Na Alemanha, Scholz disse aos deputados do Bundestag (Parlamento alemão) que a segurança de Israel era uma política de Estado alemã. E proibiu as manifestações pró-Palestina.

Agora, frente à continuação da guerra genocida de Israel contra Gaza, abre-se um espaço para intervir com coragem nos organismos do movimento sindical democrático, propondo que se pronuncie contra o genocídio sionista em Gaza, e apelar a manifestações de apoio em todo o mundo. Apoiamos o BDS, um movimento amplo de boicote a qualquer investimento e intercâmbio artístico e desportivo em Israel até que termine o regime de apartheid, seguindo o exemplo do boicote internacional contra a África do Sul e o seu regime de apartheid nos anos 70 e 80.

E chamamos ao apoio à resistência palestiniana, que é a forma direta para enfrentar o estado racista de Israel e o seu regime de apartheid. Como se mostrou em mais de 20 anos após os acordos de Oslo, o caminho do ‘diálogo’’, da “paz” e da não violência não levou a nenhum resultado concreto, a não ser desarmar a luta palestiniana e a criar autoridades que não têm nenhum poder, fora o de obedecer às ordens do colonizador, como sempre foi a ANP de Mahmoud Abbas.

Qualquer alternativa de buscar um caminho do meio, tipo “dois estados” só paralisa o movimento. Inclusive já ficou completamente impossibilitado pela colonização sionista em toda a Cisjordânia.

 A saída é o fim do estado racista de Israel e o surgimento de uma Palestina laica, democrática e não racista, uma Palestina livre, do rio ao mar, como parte da luta socialista em todo Oriente Médio.

Cartaz do Jewish Voice for Peace de 15/10/23

As nossas diferenças com o Hamas

Apoiamos a resistência palestiniana porque é a forma direta e legítima de enfrentar e derrotar o apartheid sionista. E o Hamas esteve à cabeça desse ato de resistência que mostrou um caminho para o povo palestiniano. As nossas diferenças não são sobre se é justo fazer ações armadas contra o regime sionista genocida, como fizeram todas as revoluções coloniais contra os seus opressores.

Mas consideramos a proposta que eles apresentam como saída, a criação de um Estado Islâmico, é equivocada e estreita, afastando os setores seculares palestinianos, democráticos e socialistas do seu projeto. Também tem uma política repressiva para a luta das mulheres e dos LGTBQI+, como se vê no Irão atual. Por isso, a sua gestão em Gaza partindo dessas premissas teve um efeito negativo para a necessária unidade e democracia no interior do movimento palestiniano.

Mas hoje é fundamental apoiar a resistência palestiniana nesse combate de David contra Golias, e que hoje é encabeçada pelo Hamas. E não caímos nas armadilhas do imperialismo, nem de setores que se dizem democráticos e de uma parte da esquerda que, devido a esses problemas, retira o seu apoio à resistência palestiniana, cedendo à pressão do imperialismo e do sionismo, ao aceitar o argumento que os palestinianos são atrasados enquanto Israel é avançado, devido a algumas leis como o matrimonio LGTBQI+. Nenhuma dessas medidas pode fazer-nos esquecer que Israel, hoje, tem o objetivo de exterminar todo o povo palestiniano, e que temos de estar ao lado da resistência palestiniana a esse intento genocida.

Jose Welmowick

Texto originalmente publicado, a 17 de outubro de 2023 aqui.


Notas

[1] “A polícia israelense queria retirar as bandeiras palestinas no bairro judeu. Os judeus não permitiram isso e entraram em confronto com a polícia. A polícia israelense invadiu o bairro de Mea Shearim, onde os judeus vivem em Jerusalém, e queria retirar as bandeiras palestinas do bairro. Os judeus não permitiram isso, opuseram-se à polícia sionista e a polícia espancou brutalmente os judeus”. Publicado por Torah Judaism, 11/10/2023

[2] Essa prisão nazista a céu aberto foi chamada de ‘gueto’ em referência aos bairros que os antigos reinos europeus da Idade Média obrigaram a que se concentrassem os judeus daquela época, para poder controlá-los melhor e submete-los a massacres (os pogroms) quando bem entendessem. Esses bairros eram chamados de guetos.

[3] Publicado por Al Jazeera 10/10/2023.

[4] Jenin é uma cidade na Cisjordânia, onde está um campo de refugiados  que tem se destacado por uma forte resistência aos massacres sionistas

[5] O Irgun chegou a explodir o hotel Rei David em 1946, matando ingleses, árabes e até judeus ainda durante o mandato britânico (para assustar os ingleses pois o Irgun não concordava que se reservasse qualquer parte da Palestina aos árabes)