O contexto político eleitoral onde a extrema-direita cresce, capitalizando um espaço de descontentamento e canalizando esse sentimento para o ódio xenófobo e racista, é o mote para grupos neonazis apresentarem a sua performance. Contudo, não nos enganemos, para além das eleições, o crescimento do racismo e da xenofobia é fruto do acumular de tensões no país num contexto de grave crise social, e é parte da resposta dos poderosos de agitar um falso culpado para que os verdadeiros continuem impunes.
Os ataques aos imigrantes asiáticos em Olhão, ao casal LGBTI imigrante no Porto e o assassinato de um indiano em Setúbal, foram sinais do crescimento da violência contra imigrantes na nossa sociedade.
Repudiamos estes acontecimentos nefastos como parte de um projeto de país racista, onde os imigrantes pobres e/ou populações racializadas são parte fundamental da base da exploração do país, sendo ao mesmo tempo os que têm piores condições, recebendo mal, vivendo amontoados, em ameaça e perseguição permanente por tribunais e polícias. E são também os principais bodes expiatórios políticos para sectores como o Chega, num país marcado pelo fantasma do colonialismo, onde a classe trabalhadora nativa é permanentemente disputada para uma falsa consciência de superioridade racial.
Nos 50 anos do 25 de Abril é necessário disputar o conteúdo anticolonial e internacionalista da revolução portuguesa. A combinação entre as lutas pela autodeterminação dos povos africanos e a resistência ao fascismo, permitiu um processo de luta poderoso e combinado. A lição de Abril que os sucessivos governos foram esvaziando, é a necessidade da solidariedade internacional antirracista, pela emancipação de todos os povos oprimidos contra a exploração e a opressão.
O Governo do PS enaltece de maneira hipócrita o multiculturalismo do país e os grandes contributos dos imigrantes para a Segurança Social, pois é o principal responsável pela situação de vulnerabilidade destes setores, submetendo os imigrantes à mercê do subemprego. Para o PS (Partido Socialista), os imigrantes são uma base indispensável do seu país da precariedade, salários baixos e alto custo de vida – quanto mais submissos e sem direitos melhor.
Por isso, perante a uma manifestação racista, xenófoba e de incitação ao ódio, o Governo e as instituições não dão a resposta devida.
Contudo, calar ou relativizar, diferente do que afirmam até mesmo algumas organizações da esquerda, não é a melhor política para combater a ameaça xenófoba.
Somamo-nos aos ativistas e organizações que exigem a ilegalização da manifestação contra a islamização da Europa. Em um momento em que a nível internacional se discute e combate a violência e genocídio conduzidos por Netanyahu e o estado de Israel contra o povo palestino, estes senhores inventam uma suposta islamização da Europa, tentando apagar os crimes em curso daqueles; estes senhores são mesmo os palhaços úteis dos genocidas israelitas!
A islamofobia é parte das ideologias que buscam justificar o genocídio do povo Palestino em Gaza. É a ideologia que tenta justificar à perseguição à imigrantes e as mortes no Mediterrâneo na Europa fortaleza. É parte das ideologias que buscam dividir os mais oprimidos e explorados na nossa sociedade. É uma ideologia reacionária de incitação ao ódio e à violência física contra grupos já discriminados. E, por isso, deve ser reprimida.
Mas isso não basta. A exigência da ilegalização como única resposta, como faz o BE, é insuficiente. A pressão social pela ilegalização da manifestação foi importante e garantiu a mudança de postura da Câmara de Lisboa. Contudo, perante a afirmação de Mário Machado que manterá a manifestação, quem vai garantir que a mesma não aconteça?
Não temos ilusões nas instituições para defender os setores imigrantes e não brancos, tampouco para defender os mais oprimidos e explorados. As instituições do Estado servem para cumprir os interesses de quem manda no Estado, dos ricos e poderosos. Não podemos ignorar também que um importante setor da polícia em Portugal está infiltrado pelas próprias organizações da extrema-direita.
A defesa dos debaixo deve ser organizada pelos debaixo. Dessa maneira, é necessário denunciar as organizações xenófobas e racistas, mas combinar esta denúncia com mobilização dos ativistas para organizarem a sua autodefesa. É preciso integrar cada vez mais os setores imigrantes nas organizações políticas e sindicais. É preciso rodear estes setores com solidariedade ativa das organizações sindicais e políticas dos trabalhadores. Organizemos a resistência.

