Devemos reconhecer que o crescimento da extrema-direita em Portugal está intrinsecamente ligado a crises mais profundas, refletindo descontentamentos reais e acentuando a polarização social. O Chega, neste contexto, emerge como uma força política que busca capitalizar esse descontentamento. Seu discurso supostamente anticorrupção e populista esconde sua verdadeira agenda: servir aos interesses dos grandes empresários e dos super-ricos. Está aí a primeira mentira de André Ventura, longe de ser contra o regime, o Chega é financiado pelos grandes burgueses que se beneficiam do status quo, revelando sua verdadeira lealdade aos interesses da elite econômica.
Os financiadores do Chega não são os “negligenciados” que supostamente representa, mas sim os super-ricos que buscam preservar seus privilégios e ampliar seu controle sobre o Estado. São indivíduos e grupos empresariais que lucram com políticas neoliberais e autoritárias, às custas dos direitos e bem-estar da classe trabalhadora. Por isso, a segunda mentira de André Ventura é quando se diz contra a corrupção, mas é sustentado financeiramente por super-ricos como Champalimaud, Carlos Barbot, Miguel Félix da Costa (da Castrol), João Maria Bravo (da Sodarca), entre outros. Defende mais PPPs e vistos gold (berços da corrupção), a destruição ainda maior dos direitos da classe trabalhadora e o racismo e a xenofobia para garantir os lucros dos seus financiadores.
O Chega é capataz da política neoliberal e autoritária ao serviço dos patrões, por isso tem um programa para aumentar a crise social
A terceira mentira de André Ventura é de que vai defender a melhoria das condições de vida de quem trabalha. O Chega tem em seu programa medidas que levariam à destruição dos serviços públicos, por que pretende igualar as escolas públicas às escolas privadas, a saúde pública à saúde privada, a segurança social pública à privada, dando mais dinheiro do Estado para os ricos e fazendo com que quem trabalhe pague ainda mais pelos serviços e receba ainda menos pela segurança social.
A quarta mentira é quando afirma que os imigrantes são responsáveis pela crise social. Os imigrantes contribuem para o crescimento do país e não são subsidiodependentes, são vítimas da superexploração e não os culpados pela crise, como tenta insinuar o discurso xenófobo do Chega. André Ventura aponta a mira para os setores mais oprimidos e explorados da sociedade, enquanto favorece os seus amigos poderosos, pois o seu discurso identitário racista nacional, traz consigo os fantasmas do Salazarismo e do colonialismo. Ao contrário dos partidos do poder, para nós o combate ao racismo é fundamental para unir os trabalhadores pelos seus interesses comuns, já que quem beneficia dessa divisão é o patronato, a quem interessa enfraquecer os trabalhadores e naturalizar a superexploração dos imigrantes.
E a quinta mentira de André Ventura é de que defende a soberania nacional de Portugal, mas pretende continuar no Euro e na UE, aceitando as suas regras e imposições que impedem uma verdadeira mudança do país. Não é possível defender os serviços públicos, as empresas estratégicas do país, o emprego com qualidade e os direitos dos trabalhadores e povo pobre dentro da UE e do Euro, que só servem os interesses dos grandes capitalistas.
O que leva ao crescimento do Chega?
É fundamental rejeitar as generalizações simplistas sobre a extrema-direita, que muitas vezes tentam equipará-la ao fascismo. É um facto que o projeto do Chega não é apenas nacional, mas também está inserido em uma rede internacional de extrema-direita, compartilhando estratégias e ideologias com figuras como Steve Bannon, Trump e Bolsonaro, o que não significa um sinal de igual às organizações fascistas. Mas por se alimentar do descontentamento dos setores médios da sociedade e fortalecer o discurso de ódio, o Chega pode ser sim um fermento para o crescimento do fascismo.
Contudo, a base eleitoral do Chega, longe de ser meramente ideológica, é composta por aqueles descontentes que clamam por mudanças radicais. Com seu discurso populista, o Chega acaba por ocupar o espaço do descontentamento gerado pela crise social que assola o país.
A grande questão que temos de nos colocar é por que o Chega ocupa o espaço dos descontentes? E para isso, temos de ir mais atrás. Durante a crise anterior e as lutas contra as medidas da Troika, há uma viragem à esquerda do país, que se via com a hegemonia das lutas da classe trabalhadora e dos movimentos sociais, dificultando os planos de Passos Coelho (PSD) e da Troika. BE e PCP canalizaram esse processo para as eleições e para as expectativas no Governo da Geringonça, que, como sabemos, não reverteu a página da austeridade. A política do PCP e BE, combinado com a ausência de uma alternativa revolucionária, afogou o espírito de resistência e ânimo da classe trabalhadora em 2011-2013, levando-a a várias derrotas; isso é o principal fator que dificulta hoje que a classe trabalhadora (ao contrário do que aconteceu em 2011-2013), seja a referência que arraste atrás de si os setores dos pequenos proprie e classes médias descontentes com a situação atual de crise.
É urgente resistir a esse avanço da extrema-direita, construindo uma alternativa política da classe trabalhadora independente do PS. É necessário unir a classe trabalhadora, com os setores mais pobres e oprimidos em defesa dos direitos sociais, económicos e democráticos, rejeitando as mentiras e manipulações da extrema-direita, mas também a crise social do PS/AD. Só uma alternativa independente da classe trabalhadora pode mostrar o caminho.

