Eles são sobreviventes: até 26 de julho último, cerca de 400 desportistas palestinianos foram mortos em consequência do genocídio israelita em Gaza, de acordo com o Comité Olímpico Palestiniano e a Associação Palestiniana de Futebol. Destes, 245 eram jogadores de futebol (69 crianças e 176 jovens).
Entre os atletas mortos estão nomes importantes do desporto, como o primeiro atleta olímpico da Palestina, o corredor Majed Abu Maraheel, que competiu na prova masculina de 10.000 metros nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Maraheel morreu devido a uma insuficiência renal, num campo de refugiados em junho, agravada pelo bloqueio israelita a medicamentos e alimentos.
Em janeiro, o selecionador da seleção palestiniana de futebol olímpico, Hani Al-Mossader, foi morto num ataque aéreo israelita. Nesse mesmo mês, Nagham Abu Samra, campeã de karaté que iria participar nos Jogos Olímpicos de Paris, morreu num hospital no Egito, após ter uma das pernas amputada. O futebolista Mohammed Barakat, conhecido como a “lenda de Khan Younis”, morreu em março num ataque a esta cidade do sul de Gaza.
“Israel procura sistematicamente garantir que as realizações e o potencial palestiniano em todos os domínios permaneçam enfraquecidos e sempre ofuscados pelas suas próprias realizações. Isto aplica-se aos campos político, intelectual, económico e literário. O desporto não é exceção”, explicou o escritor e conferencista Abdaljawad Omar à Anadolu Agency (AA), agência de notícias da Turquia.
Além de enfrentarem diariamente o desafio de sobreviverem às periódicas incursões militares israelitas, os atletas palestinianos não têm onde treinar. Segundo a Federação Palestiniana de Futebol, 42 instalações desportivas foram arrasadas em Gaza e sete destruídas na Cisjordânia. Israel destruiu escolas de futebol, incluindo a Academia Al-Wahda e a Academia dos Campeões, um dos projetos de futebol mais promissores em Gaza, disse à AA o jornalista desportivo Abubaker Abed. “A guerra em Gaza matou os sonhos de muitos”, lamentou.
Protestos contra Israel
Em todo o mundo imensas vozes se levantarem a exigir do Comité Olímpico Internacional (COI) o afastamento de Israel da competição deste ano devido ao genocídio em Gaza e ao apartheid e à limpeza étnica praticados na Cisjordânia. A reivindicação argumentava que, assim como o COI havia proibido a participação da Rússia e da Bielorrússia devido à guerra na Ucrânia, que violaria a Carta Olímpica, o mesmo critério se impunha a Israel. O COI não aceitou e manteve Israel nos jogos, justificando que o banimento daqueles dois países devia-se à anexação do território ucraniano por Moscovo, enquanto Telaviv não teria formalmente tomado o território de Gaza.
Não foi esse, como é claro, o entendimento de muitos espectadores e participantes dos Jogos em Paris e das multidões que têm ido às ruas para exigir o cessar-fogo e o fim do genocídio. No jogo de futebol entre Israel e Paraguai, uma faixa com os dizeres “Genocide Olympics” foi desfraldada nas arquibancadas e o hino israelita, vaiado. O pugilista Wasim Abusal palestiniano vestiu uma camisola que representava crianças a serem bombardeadas durante a cerimónia de abertura.
Dois judocas, Nurali Emomali, do Tajiquistão, e Abderrahmane Boushita, de Marrocos, recusaram-se a apertar a mão a Barch Shmailov, de Israel, enquanto Messaoud Redouane Dris, da Argélia, não compareceu à competição contra o israelita.
Um dos judocas israelitas mais conhecidos, Peter Paltchik, aparece em várias fotos ao lado do primeiro-ministro de Israel, deixando claro o seu apoio ao genocídio, e costuma confrontar com violência manifestações pelo cessar-fogo em Gaza, como aconteceu recentemente no Japão. A judoca Timna Nelson-Levy, por sua vez, dedicou a sua medalha de bronze no campeonato europeu de abril aos soldados feridos das FDI, as Forças Armadas israelitas.
Os 88 atletas israelitas estão a receber proteção 24 horas por dia da polícia francesa e do seu próprio corpo de segurança. É a única nação que tem este nível de segurança.
Em Gaza
Os habitantes de Gaza, em sua ampla maioria, não podem assistir aos Jogos Olímpicos e torcer pelos seus representantes. A viver uma situação de catástrofe total, a lutar pela sobrevivência e a tentar proteger as suas crianças, sem quase nenhuma eletricidade que torne possível a comunicação com o mundo, para eles a competição em Paris é um evento distante e quase irreal.
Mas todos sabemos que a mera participação de atletas palestinianos nos Jogos Olímpicos constitui uma forma de resistência. Foi uma vitória de um povo que luta pela liberdade e pelo direito de existir naquelas que se tornarão conhecidas como “As Olimpíadas do Genocídio”.
Sites de informação consultados:
https://www.politico.eu/article/gaza-war-cast-shadow-the-olympics-france-israel/

