Montenegro dá vivas à aprovação do seu Orçamento de Estado, com ele banqueiros e grandes capitalistas dão vivas à estabilidade, governabilidade e “perspetivas de crescimento”, que se repercutem nos nossos meios de comunicação.
Mas há outro país. O país dos que vivem do seu trabalho e da ampla maioria da juventude para quem este Orçamento é apenas mais do mesmo: não resolve a crise da habitação, que deixa cada vez mais pessoas na rua ou a ter de escolher entre comer e pagar a renda. Não resolve ainda os problemas dos baixos salários ou da falta de perspetiva dos jovens no país. Não resolve os problemas da educação e da falta de professores e agrava cada vez mais a privatização da saúde. Não só não resolve, como na sua política liberalizadora e da meritocracia acima de tudo, acentua as desigualdades sociais. O direito à saúde, à educação, à habitação e tantos outros na constituição, são uma realidade apenas para os mais ricos. E é assim que o governo de Montenegro quer que seja ainda mais.
Há também outro país que saiu à rua no dia 26 de outubro para reclamar justiça para a morte de Odair Moniz. O país dos setores mais pobres e marginalizados em guetos sociais, onde predominam a população racializada para quem o acesso a saúde, educação e trabalho digno é uma miragem. O país dos que se levantam de madrugada para limpar a cidade dos ricos e construir as casas de luxo para vender a fundos imobiliários. O país onde a presença do Estado se reduz a uma polícia, que com o enquadramento das “Zonas Urbanas Sensíveis”, tem autorização para reprimir a população negra, cigana e pobre. Além da saúde, educação e habitação, também a igualdade e liberdade de circulação, consagrada na Constituição, não chega a estes bairros, onde deixou de haver “presunção da inocência”, pois todos são culpados à partida.
Os ricos e a sua imprensa querem dizer à classe trabalhadora que os mais pobres e racializados são perigosos, criminosos e vândalos, enquanto abafam os critérios e atuação racista, violenta e abusiva da mesma polícia que, quando necessário, bate nos trabalhadores em greve para garantir os lucros dos patrões. Mas ninguém diz que quem roubou o BES, o Banif e o BNP, vestido de fato e gravata, ainda nos continua a cobrar só neste orçamento, 200 milhões de euros. Afinal quem são os verdadeiros criminosos?

