Neste 8 de março, decorrerão novamente greves e manifestações pelos direitos das mulheres em vários países do mundo. Em Portugal, começam a existir mais mobilizações de mulheres e já há sindicatos que aderiram à greve. É necessário discutirmos, então, como podemos levar a nossa luta a bom porto.
Começámos o ano com o dado surpreendente de 8 mulheres assassinadas devido à violência machista. É um número muito superior, em proporção, ao do Estado Espanhol, onde, no mesmo período, foram assassinadas 12 mulheres. Agravam este problema as decisões judiciais, que não punem os agressores e acabam por incentivar a reincidência.
Por outro lado, a diferença salarial entre homens e mulheres por trabalho igual ou equivalente (15,8%) aprofunda a exploração da mulher, sendo mais uma violência que sofremos. Somos também as que compõem maioritariamente os empregos mais precários, como limpezas e call centres, sendo as mulheres negras e imigrantes as que mais sofrem com esta desigualdade.
Motivos não faltam, portanto, para fazer greve pelos direitos das mulheres.
Para lutar pelo direitos das mulheres é preciso enfrentar o Governo
O Governo da Geringonça pouco ou nada fez para reverter esta situação. Dado exemplificador disso é o aumento vertiginoso de mulheres assassinadas, sendo o segundo mês com mais mortes em 14 anos. A resposta do Governo a este problema é um dia de luto pelas mulheres assassinadas, ao invés de garantir a punição exemplar dos culpados e um apoio real a quem tenta sair do ciclo da violência (trabalho, casa, apoio psicológico, etc.).
O Governo PS e os partidos que o sustentam (BE e PCP) gostam de alardear a nova lei da paridade – que aumenta de 33% para 40% a percentagem mínima de um dos sexos para as listas eleitorais – como uma medida importante para garantir a igualdade entre homens e mulheres. Mas sendo o problema da representação política importante, não é o único. Pouco foi feito para combater a desigualdade salarial, que é reproduzida, apesar de ser proibida.
E quanto à precariedade, apesar de muitos discursos sobre o tema, não houve medidas eficazes. Continuam livres as empresas de trabalho temporário, os falsos recibos verdes, mantém-se os baixos salários e os abusos laborais.
Portanto, não é possível lutar pelos direitos das mulheres sem enfrentar este Governo! Infelizmente, uma grande parte das organizações que estão na construção do 8 de março silenciam a necessária denúncia do Governo, como se o mesmo não tivesse nenhuma responsabilidade sobre a nossa atual situação.
Greve de mulheres ou greve de trabalhadores pelos direitos das mulheres?
À greve de 8 março já aderiram sindicatos do setor doscall centers, indústria, ensino superior e professores, demonstrando que podemos ter um 8 de março mais representativo do que noutros anos.
A construção de uma greve pelos direitos das mulheres pelo mundo todo é um grande avanço da nossa luta, mas existe um debate necessário sobre como sermos mais eficazes. Há quem defenda uma greve só de mulheres, assim como uma greve ao consumo e aos cuidados.
Nós acreditamos que a vantagem de construirmos uma greve nos locais de trabalho é a de discutirmos junto da nossa classe – a classe trabalhadora – os problemas que as mulheres sofrem, mas que afetam todos nós. E também discutir como o machismo entre os trabalhadores nos divide e nos desarma frente aos patrãos e ao Governo, que se utilizam dessa opressão para nos atacarem, pelo que é necessário lutarmos juntos contra estes e todo o machismo.
Uma greve em que só participam as mulheres não poderá cumprir este papel. O avanço da nossa luta será efetivo quando conseguirmos mobilizar o conjunto dos trabalhadores pelos nossos direitos, que são os direitos à dignidade de toda a nossa classe.
Unir a classe trabalhadora contra o Governo e o machismo
As mulheres trabalhadoras nada têm em comum com as mulheres burguesas. Angela Merkel, Isabel dos Santos, Paula Amorim, entre outras, não sofrem os mesmo efeitos do machismo que nós. Elas lucram com o machismo, que permite ainda mais a nossa exploração. É por isso que temos muitos mais interesses em comum com os homens da classe trabalhadora. Batalhemos contra a opressão que nos divide e contra a exploração que sofremos para unirmos a nossa classe, homens e mulheres, negros e negras, imigrantes e nacionais. Juntos podemos enfrentar mais fortes os patrões e o Governo, que tentam explorar-nos e oprimir-nos cada vez mais.
Joana Salay
Publicado no jornal Em Luta, nº 13