Metalgest – Sociedade de Gestão, Associação Coleção Berardo (ACB), Fundação Berardo (FB), Fundação de Arte Moderna e Contemporânea Centro Cultural de Belém Coleção Berardo (FAM), Caixa Geral de Depósitos (CGD) Banco Espírito Santo (BES) e Millennium BCP (BCP). Acrescenta-se o nome de Joe Berardo (JB) e, por fim, tempera-se com quadros do PS e PSD nomeados para gerir o banco público e o Banco de Portugal (BdP). Reserva-se durante alguns anos e obtemos uma dívida de mil milhões de euros a ser paga pelos trabalhadores portugueses.
Entre 2004 e 2005, a CGD emprestou a JB cerca de 350 milhões de euros. Ou melhor: emprestou não a JB, mas sim à Fundação Berardo e à MetalGest. A primeira, enquanto fundação, está ao abrigo de um regime fiscal próprio e tem por finalidade atividades “socialmente relevantes”; a segunda é uma empresa de gestão de investimentos. Com este dinheiro, JB, que ocupa cargos executivos tanto na FB como na MetalGest, comprou ações do BCP até se tornar um dos seus maiores acionistas. O facto de uma Fundação, pretensamente de fins sociais, utilizar um empréstimo para adquirir ações de um Banco não mereceu qualquer reparo quer do BdP, quer do Governo, quer da comunicação social. Neste negócio, JB deu apenas como garantia as próprias ações. E o aval pessoal de JB, que garantia o pagamento do empréstimo, até hoje não foi encontrado. Era um “cliente especial” dizem hoje, sem definir o “especial”, os antigos gestores da CGD.
Compreende-se porquê. Estávamos no tempo em que JB tinha honras de abertura de telejornal. O capitalista simpático, algo tosco, o português nascido pobre mas trabalhador. Nem o facto de que no mesmo dia, pelo peso dos 7% de ações do BCP que detinha, em que era eleito para o Conselho de Remunerações do BCP, JB estar a ser investigado por indícios da prática de fraude fiscal, utilização de faturas falsas e branqueamento de capitais beliscou minimamente esta imagem.
Durante anos, com o nosso dinheiro, JB passeou-se nos gabinetes do BCP. Aliou-se a Salgado contra a Sonae na luta pelo domínio da PT. E até teve “reuniões estratégicas” com o BdP. Ao mesmo tempo, diluía o seu património no carrossel de fundações, empresas e offshoresque controla, até ao ponto de não se saber quem deve a quem e a quem pertence o quê. JB é um capitalista competente que desde cedo percebeu que o Estado serve o capital e não as pessoas.
Por isso, é difícil perceber a indignação que tomou conta de comentadores, Governo, deputados, Presidente e comunicação social. Em primeiro lugar, porque há mais de 10 anos que a CGD sabia que JB não estava a pagar nem juros nem a amortização do empréstimo que lhe tinha sido feito. Em segundo, porque as ações que JB tinha entregado à CGD desde 2008 não valiam nem 10% da dívida. E, por último, sabe-se hoje que os técnicos dos empréstimos de risco há muito que tinham alertado a gestão da CGD para a mais que certa impossibilidade de vir a recuperar o dinheiro.
JB não é um ladrão. É um capitalista e como capitalista é um predador que vive da riqueza criada pelo trabalho e da impunidade que o poder político burguês lhe garante. Porque sabe isso, JB tratou os deputados como crianças, mostrou quem manda e foi honesto connosco. A sua história só mostra os dois pesos e duas medidas do capitalismo: a impunidade para os capitalistas e a mão dura para os pobres e trabalhadores. Quem sabe ainda veremos JB a pedir que entreguemos, para ajudar em despesas várias, via IRS, os 0,5% a que a sua fundação (a mesma que comprou as ações do BCP) tem direito a receber.
José Luís Monteiro