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Nas lutas e nas eleições, qual a saída para a crise climática?

No tema dos incêndios, aeroporto do Montijo, dragagens do rio Sado, exploração de Lítio e gás, o que vemos é que o Governo da Geringonça faz apenas discursos sobre o meio ambiente, mas a prática é muito distinta. Aceitam de tudo para garantirem os lucros das grandes empresas, que são as mesmas que contratam trabalhadores precários, beneficiando-se também das medidas de austeridade que este Governo não reverteu. O projeto é o mesmo: vender todas as riquezas do nosso país, trabalhadores e natureza, visando o lucro imediato. Esta lógica tem-se mostrado inviável e estamos a sofrer as consequências ambientais e sociais fruto da ganância capitalista.

Este sempre foi o projeto que o PS defendeu e implementou em Portugal, portanto aí não há novidade. Mas aqueles que viabilizaram este Governo, aprovando quatro Orçamentos do Estado, têm também responsabilidade. BE e PCP/Verdes fazem um discurso de defesa dos interesses dos trabalhadores e do meio ambiente, mas estão ao serviço de um Governo que fez o oposto. E, agora, nestas eleições, insistem na mesma solução governativa.

Só com medidas anticapitalistas podemos salvar o planeta

Analisando a fundo a maioria dos programas dos partidos para a questão ambiental, vemos que, longe de apresentarem propostas estruturantes, ficam pelas medidas de incentivos e penalizações fiscais. O próprio PAN, que cavalga no espaço eleitoral da “onda verde”, tem um programa de adaptação aos efeitos das alterações climáticas: “Perante estes cenários, é crucial não só implementar medidas de adaptação, mas também garantir a resiliência das populações humanas, dos animais e dos ecossistemas.”

Também BE e PCP/Verdes, apesar de proporem algumas medidas concretas, vacilam em propor medidas efetivas, que permitam avançar para a mudança da nossa forma de produção. Recusam-se a apontar o único caminho possível – que é destruir o capitalismo – porque fazem um programa com uma lógica de governabilidade viável dentro do sistema burguês. Insistem no mesmo erro: garantir a estabilidade e viabilidade de um Governo no Estado burguês que, inevitavelmente, governará para os ricos, banqueiros e multinacionais e que, portanto, não poderá encarar a fundo os problemas sociais e ambientais.

Os governos e as grande empresas tentam inclusivamente aproveitar economicamente a “onda verde” quando criam novos mercados e novas necessidades de consumo. Exemplo disso é a grande propaganda ao redor dos carros elétricos, que não resolve o problema ambiental pelo facto de a produção da sua bateria ser extremamente poluente, mas incentiva o consumo e a troca de carros. As empresas olham apenas o lucro, fazendo com que seja impossível um “capitalismo verde”, pois ele é insustentável do ponto de vista ambiental.

A única maneira de enfrentar o desafio das mudanças climáticas de forma realista e eficaz é tomar medidas anticapitalistas, revolucionárias e socialistas que planifiquem a economia, colocando a sustentabilidade ambiental e a justiça social no centro, em vez de benefícios privados. Por isso, nós do Em Luta defendemos:

  • Mudar a política florestal. Combater a monocultura do Eucalipto. Contratação de trabalhadores para prevenção e contenção de incêndios.
  • Parar todos os projetos que destroem o meio ambiente.
  • Investimento numa ampla rede pública de transportes que responda verdadeiramente às necessidades da população e que seja gratuita e sustentável.
  • Criação de empregos para o clima (nos setores-chave que têm impacto direto nas emissões de GEE, como energia, transportes, construção, gestão de florestas e agricultura).
  • Nacionalização das grandes empresas de produção e distribuição de energia (EDP, GALP, REN). Priorizar energias renováveis e medidas de poupança energéticas.
  • Reconversão ecológica da indústria e limitação rigorosa das emissões de gases com efeito estufa, sem prejuízos para os trabalhadores. Nacionalização das indústrias estratégicas. A durabilidade dos produtos, reutilização e reciclagem devem ser critérios obrigatórios, eliminando produções supérfluas ou destrutivas, cujo único objetivo é alimentar a sua rápida substituição.
  • Todas essas medidas não devem significar a perda de um único posto de trabalho. Todos os trabalhadores cujos postos de trabalho forem afetados devem ver garantidos os seus salários e direitos e ser realocados para os novos postos de trabalho.
  • Suspensão do pagamento da dívida e nacionalização do sistema bancário para obter recursos financeiros para estas medidas.
  • Controle democrático dos diferentes setores económicos pelos trabalhadores.

Trabalhadores e estudantes juntos na mobilização pelo clima

As propostas que fazemos só são possíveis de conquistar através da luta de trabalhadores e estudantes. Os mais afetados pelas alterações climáticas são os trabalhadores, estudantes e a população pobre; só com a nossa mobilização conseguiremos travar a destruição do planeta.

Felizmente, as mobilizações contra as mudanças climáticas e pelo meio ambiente estão a crescer. Estamos agora na semana de mobilização pelo clima (20 a 27 de setembro). Na última sexta-feira (20 de setembro), milhões de pessoas saíram às ruas pelo mundo todo e, no próximo dia 27, as mobilizações continuam. Nós, do Em Luta, somamo-nos a estas mobilizações.

Muitos ativistas enfatizam a necessidade de educar a população para adotar hábitos sustentáveis. Estes hábitos, sendo necessários, não são suficientes e não atacam o fundo do problema. Isto fica claro quando vemos que apenas 100 grandes empresas são responsáveis ​​por 70% das emissões globais. Por isso, o centro da nossa luta deve ser contra os Governos e as multinacionais, que trabalham juntos na destruição do planeta.

Para uma luta efetiva, precisamos da classe trabalhadora, de mãos dadas com a juventude, a assumir e liderar a luta em defesa do meio ambiente. No final, os patrões apenas dão ordens, mas são os trabalhadores que fazem a economia realmente funcionar, são as nossas mãos que têm a capacidade de a transformar. Somente se nós, trabalhadores, tomarmos o poder nas nossas mãos, evitaremos desastres ambientais e sociais e reconstruiremos o mundo de maneira humana, ecológica e racional.

Joana Salay