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EDITORIAL: Enfrentar os desafios do futuro com as aprendizagens do passado

Vivemos uma situação insólita no mundo hoje. A pandemia virou as nossas vidas do avesso. Mas a quarentena ou a impossibilidade de a fazer levou-nos também a pensar sobre o que é realmente importante na sociedade em que vivemos.

Em tempos de medo e de crise, a pandemia mostrou o que de melhor e de pior existe no nosso mundo. Por um lado, a dureza da morte e da doença, agravada ao nível de barbárie pelas desigualdades sociais, mostrou como, perante esta situação de sofrimento, os grandes hospitais privados ainda se tentam aproveitar para ganharem dinheiro; mostrou como os grandes patrões se apressaram a decretar o layoff e milhares de despedimentos que arrastam para a fome ou para a extrema necessidade milhares de trabalhadores, enquanto distribuem dividendos e lucros exorbitantes entre os seus acionistas.

Mas a pandemia deu-nos também esperança, pois mostrou a força e a abnegação de quem trabalha, mesmo em situações extremas; mostrou-nos a capacidade de autoorganização
e de reinvenção para encontrar soluções para os problemas atuais; mostrou a solidariedade dos de baixo, que se mostraram capazes de ajudar, mesmo nas situações mais difíceis; mostrou que o nosso planeta consegue respirar melhor, agora que a vida abrandou.

Não poderíamos olhar para todos estes problemas sem nos perguntarmos: é nesta sociedade que queremos viver? Por isso, neste jornal especial, quisemos trazer algumas das reflexões mais importantes que hoje se colocam a todos nós. Para que serviu o Estado de Emergência? Que lugar queremos reservar ao Serviço Nacional de Saúde no futuro da nossa sociedade? Vamos voltar a injetar dinheiro a privados para salvar os seus lucros? Queremos uma sociedade incapaz de proteger os setores mais precarizados

e excluídos de direitos básicos, como trabalhadores negros e imigrantes? Como é possível que a nossa economia não consiga reorganizar-se para produzir bens que se tornaram essenciais, como máscaras, ventiladores e viseiras? Como é possível que o Governo “de todos” permita a generalização do layoff e dos despedimentos, que transformaram a doença numa crise social sem precedentes? Porque é que a unidade nacional e o patriotismo não respondem a uma situação em que são os trabalhadores que pagam a fatura? Como é que a União Europeia, em vez levar solidariedade aos seus membros mais afetados, se dividiu ainda mais?

Os tempos que se seguem serão duros. Somos chamados
a voltar à “normalidade”, mas o Governo, as empresas e instituições já mostraram que não nos garantem o básico em situações normais, quanto mais no pós-pandemia. Por outro lado, enfrentaremos uma crise económica e social em que, mais uma vez, os trabalhadores serão chamados a pagar a conta. Não podemos aceitar isso.

Perante esta pandemia, muitos são tentados a querer mão dura do Governo e do Presidente, mas o passado mostra-nos que isso não só não resolve os problemas, como nos prende e oprime ainda mais. Mas está também cada vez mais claro que a democracia atual está ao serviço dos ricos e que, portanto, também não responde às necessidades da maioria da população.

Estamos à beira de comemorar 46 anos do 25 de Abril. Mas para nós, mais do que uma comemoração do passado, é uma ocasião para aprendermos com a sua história para revolucionarmos o nosso presente; para aprendermos com as suas conquistas e derrotas e vermos os caminhos que precisamos trilhar daqui para a frente, porque a pandemia e a crise social mostram, como em 1974, que o capitalismo é incapaz de responder às necessidades essenciais dos trabalhadores e da população mais pobre, e que, por isso, precisamos de uma nova revolução!