Costa, UE e patrões contra trabalhadores
A Groundforce (GF) é parte indispensável da operação da TAP, sendo 70% do serviço direto para a TAP. Como temos visto nesta crise, a TAP é uma autêntica empresa-mãe, sendo ela a garantir os salários, e não o acionista privado, que nunca despendeu um cêntimo na compra da empresa (palavras do próprio Ministro das Infraestruturas). Ao mesmo tempo, temos assistido a algo que seria cómico se não significasse a penúria de milhares de famílias trabalhadoras: o espetáculo de o Governo Costa, na figura de Pedro Nuno Santos, dizer que a “Groundforce não é tão estratégica como a TAP e a EFACEC”, contrariamente ao que vemos na realidade e que ficou ainda mais escancarado na greve.
Pois bem, Sr. Ministro burguês, a GF é TAP, a assistência em terra é um aspeto logístico central do transporte aéreo e só a lógica capitalista de delapidar o património e serviço públicos em busca de receita e de novas formas de explorar tenta naturalizar o facto de vários aspetos do mesmo serviço serem geridos por entidades diferentes, com formas de organização diferentes e modus operandi diferentes. Pior: a sociedade capitalista tenta vender-nos a patranha de que é capaz de apresentar um serviço melhor.
A realidade, porém, é bem diferente: trabalho que várias vezes se sobrepõe, gastos mais avultados e mais ineficácia natural pela dificuldade de comunicação num ambiente febril de competição que só serve à rotatividade e ao esgotamento dos trabalhadores. Essa tem sido a receita do capital para a aviação. Para os trabalhadores fica bem patente que, para além de caótico, o serviço que é prestado está muito aquém das possibilidades. É a natureza da sociedade capitalista, ter empresas a fazer o mínimo, desde que o lucro funcione.
É nesse marco que se enquadra este processo de destruição da GF, que ganhou novo fôlego na criminosa “oferta” da empresa a Alfredo Casimiro, pelo Governo Passos Coelho, e assume um aspecto terminal com a política da pandemia do Governo Costa, que procura aproveitar a penúria causada pela pandemia e a falta de apoios para instaurar um novo patamar de falta de condições e direitos no trabalho no sector aeroportuário.
Não temos dúvidas de que a insolvência vem de cima. Afinal de contas, Bruxelas é bastante clara sobre o emagrecimento da despesa do Estado e sobre as reformas estruturais para cumprimento das metas.
Já foram dispensados cerca de 1000 trabalhadores na empresa, sendo que quase na totalidade trabalhadores das empresas de outsourcing (falso trabalho temporário) e precários dos quadros da empresa, como peças de sacrifício em nome da sustentabilidade do setor. No entanto, a empresa não tem dinheiro para pagar salários e tampouco os trabalhadores efetivos estão a ser poupados a horários abusivos e a sobrecarga. A lógica não só tem se mantido intacta como a crise económica e pandémica tem servido para explorar ainda mais, levando os poucos que asseguram a operação a trabalhar tanto ou mais do que nos períodos de picos do fluxo de passageiros nos tempos pré-covid.
Keep Calm que estamos a negociar
Em todos os momentos, os trabalhadores têm sido presenteados com comunicados a aconselhar calma e serenidade, porque a empresa os defenderia, o poder político seria aliado, e as organizações representativas dos trabalhadores (ORT’S), bem, seria óbvio que representariam o interesse da nossa classe nos embates na mesa das negociações.
Permitam-nos então perguntar: Por que razão não houve um único plenário desde o início do período do layoff há sensivelmente um ano? Onde esteve a defesa dos colegas temporários e precários? Porque deram força à fábula de que a saída dos colegas era sinónimo do salvamento da empresa ? Qual é o saldo da negociação à porta fechada com os patrões?
Já dissemos em publicações passadas: não vale de nada dizer-se de esquerda e defender a nacionalização no palanque, mas assinar, nas negociações e no secretismo, cada manuscrito que condena os trabalhadores. O compromisso de qualquer representante dos trabalhadores é com os trabalhadores, e não com a empresa, com um núcleo fechado de trabalhadores ou com qualquer outro interesse superior.
Não tem sido isso que temos visto. No caso da GF, é preciso dizer que se existe esperança de barrar a insolvência, ela existe apesar das direções das ORT’s (sindicatos e Comissão de Trabalhadores), cujo comportamento conciliatório e secretista tem bloqueado o acesso a informação, desmobilizando e desarmando os trabalhadores. Exemplo prático tem sido o silêncio com que a ausência de plenários durante o início da pandemia se estendeu até à explosão provocada pelo ausência dos salários. Os principais sindicatos e a maioria da CT foram incapazes de mobilizar perante um milhar de trabalhadores despedidos, as comunicações das ORT’s só serviam como legenda das comunicações da administração e em momento algum houve seriedade em dar a conhecer os planos da Administração para a empresa, tampouco o real perigo de insolvência. Aliás, o discurso no maior dos sindicatos foi, até à última instância, de que a insolvência era um cenário a descartar.
É preciso tirarmos as devidas conclusões e tomar as ferramentas de defesa dos trabalhadores das mãos daqueles que os adormecem! A unidade de que precisamos é para lutar, e não para mandatos para negociações à porta fechada!
Contra a insolvência, nacionalização, já!
É preciso ir além das direções, que parecem não confiar na força dos trabalhadores da GF, que construíram nas suas costas e no seu sacrifício pessoal os lucros que Casimiro fez desaparecer e por cujo paradeiro o Governo foi incapaz de perguntar.
Acreditamos que é possível reverter este desfecho. Tal como em março foi de repente possível receber os salários depois de uma dezena de mobilizações, também agora, depois da greve, voltou a brotar dinheiro para os subsídios de férias. Tendo em vista impedir uma insolvência que se traduzirá no poder absoluto para, ao final deste mês, os administradores judiciais poderem prescindir de um número indeterminado de trabalhadores que não sejam “necessário à operação”, será necessária uma organização e mobilização dos trabalhadores em greves e ações cada vez mais combativas que fortaleçam a sua posição face ao Governo burguês, e que obriguem a um passo atrás, como já obrigou as ORT’S. Neste sentido, os trabalhadores não devem arredar um pé que seja da liderança do enfrentamento. A realidade será cada vez mais nacionalizar o sector ou ficar em terra!
Bloquear a insolvência! GF é TAP! Nacionalização sem perda direitos! Abaixo os despedimentos colectivos na TAP!