Essa banalização da violência de género tem consequências nas vidas das mulheres em Portugal e no mundo: um estudo recentemente publicado pela revista Lancet dá conta de que mais de 25% das mulheres entre os 15 e os 49 anos já sofreram violência por parte do seu parceiro ao longo da vida.
A opressão contra a mulher também está no mundo do trabalho
A violência contra a mulher, no entanto, não se encerra aí: sua outra face está também na sobrerrepresentação das mulheres nas estatísticas do trabalho temporário e do trabalho a tempo parcial, nas duplas e triplas jornadas de trabalho que resultam do trabalho doméstico e de cuidados relegado às mulheres, e nas diferenças salariais que persistem entre homens e mulheres.
Segundo dados de 2019, a remuneração média mensal das mulheres em Portugal é 14% menor do que a dos homens. Muitas vezes, mesmo quando ocupam postos de trabalho iguais, as mulheres ainda recebem menos do que os homens. E, apesar da ausência de dados étnico-raciais, sabemos que no caso das mulheres racializadas e imigrantes a situação é ainda mais desigual.
O pior: tudo indica que, com a crise económica e a crise social agravadas pela pandemia, nos últimos dois anos houve ainda mais retrocessos no que toca à desigualdade de género.
Machismo e exploração andam de mãos dadas
A precariedade, que hoje atinge o conjunto da classe trabalhadora portuguesa, atinge ainda com mais força as mulheres e os setores oprimidos, agravando ainda mais as condições de vida destes setores. Por outro lado, o rebaixamento dos salários das mulheres serve ao rebaixamento dos salários do conjunto da classe trabalhadora, alimentando ainda mais a precariedade que atinge a todos.
Da mesma forma, a sobrecarga das mulheres com o trabalho doméstico e de cuidado não remunerado, quando este trabalho é necessário a toda a sociedade e deveria ser coletivo, no fundo, serve apenas aos patrões e à manutenção deste sistema de exploração.
O Governo é o primeiro responsável pela situação das mulheres trabalhadoras
Os últimos governos são todos cúmplices da situação em que vivem as mulheres trabalhadoras hoje em Portugal.
A Geringonça e Costa, além de não terem priorizado o combate às desigualdades de género e à violência, mantiveram a precariedade laboral imposta pelos governos da austeridade e da Troika, e que tanto atinge as mulheres.
Agora, a perspetiva que temos com um Governo de maioria absoluta do PS, sem dúvidas, e com todas as incertezas que ainda há, é de que precisaremos continuar a lutar contra a precariedade e pelos direitos das mulheres trabalhadoras.
O aumento da presença do Chega no Parlamento, com seus discursos de ódio explícitos, acende também outro alerta: é preciso acabar com a banalização da violência, com a qual o Governo, as instituições e a Justiça continuam a ser coniventes.
Diante da atual crise do capitalismo, que tenta impor-nos patamares cada vez maiores de exploração, e tenta se fazer valer da opressão contra a mulher para isto, mais do que nunca é preciso recordar a origem do 8 de março, que nasceu das lutas das mulheres operárias, e fazer dessa data um dia de luta contra a opressão e a exploração!