Quando este voto de pesar foi aprovado, no dia 20 de outubro, já haviam morrido em virtude dos bombardeamentos feitos por Israel à Faixa de Gaza, desde o dia 7 de outubro, 3.793 pessoas, a maioria civis, incluindo mais de 1.500 crianças, segundo dados do Ministério da Saúde palestiniano divulgados pela Amnistia Internacional. Nesse mesmo dia, calculava-se em 12.500 o número de feridos e em mais de 1.000 os corpos ainda presos sob os escombros.
Só no dia seguinte à aprovação voto de pesar, no 15º dia de bombardeamentos ininterruptos por parte de Israel, é que os primeiros 20 camiões de ajuda humanitária atravessaram a fronteira com o Egito. Uma ajuda humanitária insuficiente para satisfazer as necessidades dramáticas de alimentos, água, medicamentos e combustível de uma população traumatizada de 2,3 milhões de habitantes, que nem em hospitais, igrejas, escolas ou abrigos de organizações de solidariedade podem estar em segurança.
Em seu item n. º 2 – o único não aprovado pelo Bloco de Esquerda (BE) e PCP, mas sim pelo Livre – o voto de pesar reconhece o direito do Estado de Israel se defender contra atos de terrorismo. Os demais itens são apelos à libertação dos reféns feitos pelo Hamas; a que não seja cortado o acesso a água, comida ou energia em Gaza (que Israel já tinha cortado desde o início dos ataques); à criação de corredores humanitários para apoiar os palestinianos (que Israel sempre rejeitou); e uma anódina declaração de apoio a uma saída pacífica para o conflito.
Por que este voto de pesar não incluiu um apelo ao fim imediato do bombardeamento em Gaza? Por que não condenou esse bombardeamento? Porque esse bombardeamento não foi qualificado como terrorista? Por que o BE e o PCP o aprovaram na sua quase totalidade?
A esquerda de que precisamos para enfrentar as graves consequências de um capitalismo em fase de barbárie não pode ajustar as suas posições políticas à realidade manipulada e hipócrita apresentada pelos patrões, pelos seus partidos e pela sua imprensa. O apoio incondicional ao povo palestiniano em sua luta contra a colonização sanguinária levada a cabo por Israel e a denúncia das atrocidades cometidas pelo colonizador não podem ser tratados como questões táticas. São questões de princípio com as quais a esquerda não pode tergiversar.

