EDITORIAL

Os partidos do regime numa confusão

Após a queda precipitada da maioria absoluta do PS, a vitória apertada da AD, herdeira de Passos Coelho, coloca as perspetivas políticas nacionais sob uma nebulosa.

Luís Montenegro assume o governo em meio a uma grande confusão para eleger o presidente da Assembleia da República, mostrando que não haverá um governo de estabilidade. Os 50 deputados do Chega, e a possibilidade de que venham a ser ainda mais em futuras eleições, colocam os partidos do regime, principalmente PS e PSD, diante de várias incógnitas. Vai o PS servir de salvaguarda à AD, quando o Chega impuser as suas vontades, como fez no caso da Assembleia da República? O facto é que quanto mais a AD e o PS dão as mãos, mais se afundam na lama em que se colocaram.

A AD (PSD/CDS) vai fazer um governo clássico da direita sem responder aos problemas sociais do país. Mais: a composição do governo, e a pressão que irá ter da IL e do Chega, faz antever o seu caráter fortemente neoliberal e contra os trabalhadores, que trará ainda mais destruição dos serviços públicos e a privatização do pouco que resta nas mãos do Estado. Também é verdade que o PS, com ou sem o BE e o PCP, trouxe-nos até à situação atual, pelo que não é alternativa. Contudo, o Chega não é uma rutura com o regime, é sim um aprofundar dos graves problemas que enfrentamos, pelo seu programa de destruição de direitos (democráticos e sociais).

Passados 50 anos do 25 de abril, a democracia dos ricos está perante uma grave crise e mostra os seus limites, colocando importantes desafios à classe trabalhadora. Governo a governo as conquistas de Abril vão sendo destruídas e a necessidade de uma nova revolução é ainda mais premente.

É vital debatermos a situação atual diante da possibilidade de uma renovada onda de ataques, de insegurança associada ao crescimento explosivo do Chega e de crise do regime democrático no país. Como chegamos até aqui? Quais são as perspetivas? Qual a saída? Tentaremos, neste jornal, responder a estas e outras perguntas e convidamos todos os que estejam interessados, a desenvolver ainda mais este debate connosco.