Desta forma, a nova fase do “projeto europeu” marcou o início de uma investida neoliberal que visava minar as conquistas sociais alcançadas desde o pós-guerra. O passo seguinte foi a implementação da moeda única europeia, com o Tratado de Maastricht em 1991, que foi acompanhado por uma série de medidas de austeridade e reformas contrárias aos interesses sociais, lideradas por governos social-democratas.
Por toda a Europa os PS’s começaram a protagonizar a retirada de direitos e a flexibilização das relações laborais, contando com a cumplicidade da maior parte dos sindicatos, muitas vezes dirigidos por partidos comunistas. Esse processo de retirada de direitos levou a um esvaziamento dos sindicatos e das organizações da classe trabalhadora. Ao mesmo tempo em que a destruição do estado de bem-estar social, a maior concentração de riquezas e a livre circulação de capitais, esmagou um amplo setor das classes médias do campo e da cidade.
Ano após ano, eleição após eleição, aprofundam-se a crise social e a falta de perspetiva. A UE que se diz democrática, impõe regras e tratados aos países, onde os governos eleitos determinam muito pouco. A repressão aos descontentes que se mobilizam tem sido uma marca da Europa, como vimos em França e Estado Espanhol, mas também em Portugal com as requisições civis e a polícia contra os trabalhadores em greve, durante o governo da Geringonça (PS, BE e PCP). A UE é ainda mais dura com os imigrantes que tentam aqui chegar por melhores condições de vida, deixando abandonados à morte milhares de pessoas no Mediterrâneo. Assim, os ditos valores democráticos são combatidos pela própria UE, que contém na sua essência a naturalização da repressão e da ideia de que existem cidadãos de primeira e segunda categoria.
A dificuldade em criar alternativas entre a classe trabalhadora é cada vez mais marcante e determinante. A social-democracia europeia tornou-se a grande direção burguesa do projeto europeu, levando a crises profundas dos PS´s pela Europa. O PCP, que sobreviveu à restauração do capitalismo no Leste, paga agora a fatura dos anos de colaboração com a burguesia nacional, nomeadamente através do seu papel nos sindicatos.
As novas direções que surgiram e significaram uma viragem à esquerda no seguimento das lutas contra a Troika, Podemos no Estado Espanhol, Syriza na Grécia e também Bloco de Esquerda em Portugal, não corresponderam às expectativas. Preferiram jogar mais ilusões no projeto europeu e na democracia dos ricos, não permitindo que a classe trabalhadora fosse dirigente de um projeto alternativo à crise social.
Assim, não nos surpreende que, como consequência da deterioração das condições de vida, das desilusões e falta de perspetiva, fortaleçam-se forças políticas como a extrema-direita europeia. O demagógico discurso antissistema de partidos como o Chega coincidem com um setor da classe trabalhadora e numa classe média descontente e sem alternativa.
Desta maneira, construir outra direção política da classe trabalhadora, exige apresentar um programa alternativo e radical. Que combata os governos de turno (da direita tradicional ou da social-democracia), bem como a extrema-direita e o seu discurso de ódio e antidemocrático, apontando claramente os responsáveis pela situação em que nos encontramos. Dentro da UE, Portugal é, sobretudo, um fornecedor de mão-de-obra barata e precária. A UE dos ricos é uma máquina de reprimir, submeter e liberalizar e é a grande responsável pela situação em que Portugal se encontra hoje. Os antigos partidos dirigentes da classe trabalhadora optaram por ser uma suposta ala esquerda deste projeto. As novas direções que surgiram não souberam ser uma verdadeira alternativa.
Nos 50 anos de Abril, está esgotado o atual regime. É preciso um novo projeto de país, ao serviço dos trabalhadores e dos setores mais oprimidos. Para isso é preciso uma nova direção que afirme que basta de submissão aos grandes países imperialistas. Que é necessário sair do Euro e da UE para quebrar as regras de austeridade, déficit e dívida, e devolver ao Estado o controle sobre a emissão de moeda e a intervenção na economia. Que defenda os serviços públicos, a renacionalização da banca e das empresas estratégicas sob controlo dos trabalhadores, o emprego digno com direitos para os trabalhadores e o povo pobre, o que não é possível dentro da UE e do Euro. Que defenda o estabelecimento de uma verdadeira união solidária, uma Europa dos trabalhadores e dos povos. É preciso um programa que dê uma batalha pela unidade da classe trabalhadora, contra a destruição moral e ideológica que representam o racismo, a xenofobia, a misoginia e a LGBTIfobia. E que, em oposição à barbárie capitalista, defenda uma alternativa revolucionária que coloque o poder nas mãos dos trabalhadores.
Por isso, nos 50 anos de Abril, refirmamos que não basta celebrar o passado, mas é preciso acima de tudo lutar por uma nova revolução para alcançar um verdadeiro governo dos trabalhadores e uma sociedade socialista.
É urgente a construção de uma alternativa da classe trabalhadora e do povo pobre, que apresente um programa de independência de classe, que se coloque contra a exploração e a opressão, por uma sociedade verdadeiramente sustentável, ambiental e socialmente, e que aponte para a necessidade da saída revolucionária e socialista. O Em Luta está ao serviço de construir esse projeto.

