No final de julho do ano passado, terminou uma greve de seis dias na fábrica da Volkswagen (VW) na Eslováquia. Lá como cá, houve ameaças de deslocalização e acusações de irresponsabilidade. Os cerca de 12 500 trabalhadores mantiveram-se firmes e a greve terminou com 14,1% de aumento ao longo de 2 anos, a revisão em alta dos salários mais baixos e mais um dia de férias.
Nesta luta, para além da esperada oposição da Administração da fábrica, os trabalhadores eslovacos tiveram a oposição do sindicato metalúrgico, ligado ao partido social-democrata que apoia o atual Governo eslovaco. O resultado da luta dos trabalhadores eslocavos não se ficou apenas pelo aumento salarial. Hoje, 3 em cada 4 trabalhadores abandonaram o sindicato metalúrgico e criaram o Moderné Odbory (que em português poderíamos traduzir como Novo Sindicato).
Desde dezembro que os trabalhadores da Autoeuropa em Palmela têm lutado contra tudo e contra todos em defesa dos seus direitos. A maioria dos membros da nova Comissão de Trabalhadores, assim que subiu o primeiro degrau de acesso aos gabinetes da Administração, esqueceu tudo o que tinha dito aos trabalhadores durante o processo eleitoral, e assinou um pré-acordo pior do que aquele que já tinha sido recusado anteriormente.
A comunicação social tem feito o seu papel ao isolar a luta dos trabalhadores da AE . Ameaças de deslocalização, de desemprego e classificação dos trabalhadores da AE como privilegiados.
Rápida a noticiar os milhões que pretensamente a Autoeuropa perde pela greve dos trabalhadores , nada se diz quando a fábrica para quatro dias por “falta de peças”. Quanto custa esta paragem e de quem é a sua responsabilidade não é motivo de notícia.
Comparar os custos associados às mais que modestas reivindicações dos trabalhadores face aos 25 mil milhões de euros que a VW já pagou devido ao Diesel Gate não ocorre a nenhum jornalista ou comentador da nossa comunicação social.
À esquerda, o silêncio é quase total. Para o BE, o problema da Autoeuropa é apenas “uma crise de crescimento”. A CGTP e o PCP, sempre prontos a defenderem os trabalhadores, apelam, como sempre, à união e à negociação. Mas a CGTP recusa-se a entregar o pré-aviso de greve aprovado pela grande maioria dos trabalhadores da Autoeuropa. De facto, a unidade da CGTP é a unidade deles com eles mesmos. Só a direita mais ignorante pode continuar a acusar o PCP de ser o responsável e a direção da luta dos trabalhadores da Autoeuropa.
Face à decisão da Administração da Autoeuropa de impor unilateralmente um novo horário de trabalho que, na prática, significa menos direitos e mais exploração, os trabalhadores responderam com a aprovação, por larga maioria, de 2 dias de greve. Nem Comissão de Trabalhadores nem sindicatos parecem estar interessados em fazer aquilo que é a principal razão da sua existência: cumprir com a vontade democrática dos que os escolheram como seus representantes.
O isolamento da luta dos trabalhadores da Autoeuropa torna a vitória difícil. Mas, em Palmela como em Bratislava, é possível vencer. Não está escrito nas estrelas nem em qualquer desígnio divino que tenha que ser o capital a comandar as nossas vidas.
A luta dos trabalhadores da Autoeuropa é a mesma luta dos trabalhadores do LIDL, do Dia, do Pingo Doce e dos hipermercados Continente. O supermercado Dia pretende avançar com a abertura de lojas entre a 7h00 e as 24h00, impondo horários de trabalho por turnos que irão dificultar ainda mais a vida familiar dos seus trabalhadores. Se o conseguirem, é só uma questão de tempo até Pingo Doce, LIDL e Continente adotarem o mesmo horário. Na verdade, o LIDL já deu o primeiro passo, ao alargar o horário de trabalho em mais duas horas diárias. Aquilo que a lei permite de “forma pontual”, o LIDL já está a transformar em prática corrente. Por estas razões, os trabalhadores dos supermercados já realizaram uma greve entre os dias 22 e 24 de dezembro.
Desde dezembro que os trabalhadores da fábrica da Mitsubishi, no Tramagal, estão em luta contra a imposição do horário de trabalho. Neste caso, não se trata de um problema de turnos, mas do facto de a empresa impedir os trabalhadores de trabalharem à sexta-feira para os poder chamar ao trabalho apenas quando entenderem necessário.
Entre todos estes casos, o mesmo denominador comum: para o capital aumentar os seus lucros precisa de aumentar a taxa de exploração do trabalho. Por isso, a luta na Autoeuropa é a luta de todos os trabalhadores portugueses. Apoiar esta luta é defender os nossos direitos e as nossas condições de trabalho, é defender o direito à conciliação da vida profissional e pessoal para todos os trabalhadores.
Esta é a nossa Luta!