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Para acabar com a austeridade, é preciso outro 25 de Abril

As polémicas das últimas semanas em torno do limite do défice defendido por Mário Centeno, às custas da recusa de aumentos salariais na Função Pública, são expressivas da situação do país e da política da Geringonça.

Temos o feroz embate com a realidade quotidiana: salários que não chegam ao fim do mês; milhares sem médico de família ou acumularem-se nas urgências sem tratamentos dignos; famílias expulsas das casas e sem alternativa perante a especulação imobiliária; ausência de creches públicas e uma longa lista de etc. Resumindo: no mundo real de quem trabalha, a austeridade não acabou. E enquanto isto: são milhares para os bancos e para pagar a dívida.

44 anos depois do 25 de Abril, fica claro que a democracia (dos ricos) não resolveu os problemas mais básicos da classe trabalhadora. Paz, Pão, Habitação, Saúde, Educação foram as reivindicações que, junto à luta contra a ditadura e os direitos democráticos, alavancaram a revolução que se iniciou em Portugal a 25 de Abril de 1974. A ditadura salazarista caiu, mas estas reivindicações estão cada vez mais longe de ser alcançadas num país governado aos serviço dos patrões, dos banqueiros e da UE.

A Geringonça não mudou essa realidade, mas PS, PCP e BE procuram convencer-nos que esta é a saída e que não podemos aspirar a mais que um mal menor, enquanto tentam puxar o PS um pouco mais à esquerda. Da mesma forma no Brasil, a maior parte dos partidos da esquerda estão a serviço de reerguer o PT através de uma manobra eleitoral. Mas a verdade é que quando a esquerda chama os trabalhadores a confiar nos governos dos patrões e na conciliação de classes, desarma-os. Torna-os órfãos de uma alternativa. É isso que se passa hoje em Portugal e que querem construir no Brasil.

É preciso, por isso, relembrar que as conquistas do 25 de Abril foram arrancadas das mãos dos banqueiros e patrões, pela luta e auto-organização dos trabalhadores. Não foram dadas por nenhum Governo. Pelo contrário: foi essa conciliação entre patrões e trabalhadores que serviu para derrotar a revolução e trazer-nos ao ponto de austeridade sem fim em que estamos hoje.

Comemorar o 25 de Abril não pode ser por isso outra coisa que retomar as lições da luta revolucionária: nenhuma conciliação de classes, a mobilização independente dos trabalhadores para acabar com a austeridade, pela Paz, Pão, Habitação, Saúde e Educação. E para conseguir o que parece tão básico é preciso uma luta consequente por uma nova revolução, por um outro 25 de Abril. O caminho não passa pela Geringonça, mas por uma alternativa independente e revolucionária dos trabalhadores e de todos os oprimidos.