O Orçamento de Estado de 2019, apesar de ser o último da Geringonça, não traz mudanças de fundo relativamente aos anteriores. São dois pesos e duas medidas: não há dinheiro para aumentar mais o Salário Minimo Nacional, a Função Pública ou repor os anos de carreira as professores, mas há 850 milhões para pagar a banqueiros e para ter o “défice mais baixo da democracia”. PCP e o BE continuam a dizer que estamos a mudar a página do país, mas quem trabalha sabe que o aperto e a violência da austeridade não foi revertido (baixos salários, precariedade, despedimentos fáceis, despejos e casas impagáveis, etc.), sendo as mulheres e os negros, dentro da classe trabalhadora, os que mais sofrem.
No combate ao racismo, a Geringonça abriu o diálogo, mas recusou-se a mudar a lei da nacionalidade para que todos os que nasçam em Portugal, possam ser portugueses, impedindo, assim, que se acabasse um dos elementos centrais da discriminação de estado contra os afrodescendentes.
Também no que toca à violência sobre a mulher, a Geringonça nada fez. Os nossos Tribunais continuam a banalizar a violência sexual e não houve qualquer mudança no apoio às vitimas de, como casas abrigo e instituições que possam acolher as denúncias e encaminhar as vitimas.
Por isso, este não é nosso Orçamento! Não merece o nosso voto, nem o nosso apoio, porque é um Orçamento dos banqueiros e da União Europeia, que mantém a austeridade e não um Orçamento dos trabalhadores.
A situação recente do Brasil deve lembrar-nos que quando as organizações que dizem representar os trabalhadores, governam para os banqueiros e grandes capitalistas, e quando a esquerda que se diz alternativa defende os corruptos e vendidos, abrem as portas a forças, como Bolsonaro, que se dizem “anti-sistema”, mas servem os mesmos banqueiros, só que com a brutalidade da maior violência contra os trabalhadores e todos os setores oprimidos.
A luta em curso na Autoeuropa contra o trabalho obrigatório ao fim-de-semana mostra as desilusões e também as alternativas. Ficou clara a falência da Comissão de Trabalhadores, Sindicatos e da Geringonça (incluindo BE e PCP) na sua defesa da “paz social” da imposição dos lucros da Autoeuropa e a sua incapacidade de luta contra a austeridade na fábrica e pelos direitos dos trabalhadores até ao fim. A alternativa na luta pela base começou a surgir e deu origem no passado dia 27 de Outubro a um novo sindicato independente, democrático e combativo.
A alternativa à austeridade e às imposições dos banqueiros e UE, nas fábricas, nas empresas ou no Parlamento, não podem vir do discurso do mal menor e da desculpabilização dos que governam para os banqueiros e capitalistas; a alternativa só pode crescer nas lutas e no combate consequente contra as direções que se mostrarem incapazes de defender os tralhadores. Por isso, hoje, mais que nunca, nas lutas das mulheres, do movimento negro, na Autoeuropa ou em qualquer empresa, é preciso uma alternativa revolucionária à direita e à Geringonça para os trabalhadores.