Ao contrário do que tentam divulgar a comunicação social e as instituições do Estado, o 8 de março não é o dia de as mulheres receberem flores e bombons, mas sim de sairmos às ruas para exigirmos mudanças.
A origem do 8 de março é na luta operária. Surgiu como um movimento de base das mulheres imigrantes que trabalhavam em fábricas têxteis em Nova York e depois foi aprovado como dia de luta mundial na conferência das mulheres socialistas, em 1910. É, por isso, um dia de luta e reivindicação.
Nesta luta, quem são nossos aliados?
Apesar de o Governo Costa, junto com os seus aliados da Geringonça (BE e PCP), ter participado na manifestação do último 8 de Março, nada fez para mudar a situação das mulheres em Portugal, deixando claro que não é nosso aliado.
Tampouco as mulheres ricas e do poder são nossas aliadas. O machismo e o racismo que Isabel dos Santos e Cláudia Simões sofrem são qualitativamente diferentes. Cláudia Simões é agredida e mais explorada por ser mulher negra, Isabel dos Santos lucra em base a corrupção e à exploração de mulheres e homens trabalhadores. Tampouco Angela Merkel é aliada, quando está ao serviço da política de precariedade e da Europa fortaleza da União Europeia. Os banqueiros e empresários, o capitalismo no geral, lucram ainda mais com a opressão. Por isso, não têm qualquer interesse em atender as nossas reivindicações.
Unir a classe trabalhadora contra a opressão e a exploração
Não podemos acreditar em discursos que dizem que todas as mulheres são aliadas na luta contra o machismo, pois há aquelas que lucram com ele e aquelas que são ainda mais exploradas. Temos muitos mais interesses em comum com os homens da classe trabalhadora.
Por isso, não há combate eficaz contra o machismo se não combatermos também a exploração que atinge o conjunto da classe trabalhadora. Assim como também não há combate eficaz à exploração sem combater as opressões que dividem e exploram ainda mais a nossa classe. É preciso combater o machismo entre os trabalhadores para unir a classe trabalhadora para lutar.
Não há saída para as mulheres trabalhadoras dentro do capitalismo
O combate ao machismo exige também cortar o mal pela raiz: combater o capitalismo, que alimenta e vive das opressões para assim garantir maior exploração. Com a organização e mobilização revolucionária da classe trabalhadora temos que construir uma nova sociedade, sem opressão e exploração, para garantir a todos o direito a uma vida digna.
Em luta por…
- Direito mínimo a viver sem violência. Em 2019, foram assassinadas 30 mulheres vítimas de violência doméstica. E o número está a aumentar: em 2017, foram 20 as mulheres assassinadas.
- Direitos iguais e fim da precariedade. Portugal tem umas das maiores diferenças salariais entre homens e mulheres no mundo. Os homens portugueses ganham em média mais 22,1% do que as mulheres. Há também mais mulheres a trabalhar a tempo parcial, mais de 141 mil, quando os homens são cerca de 65 mil.
- Fim do racismo, que atinge as mulheres negras e faz com que estas estejam sujeitas a uma maior exploração e opressão, ficando nos trabalhos mais precários.
- Trabalho doméstico que não seja tarefa exclusiva da mulher, mas sim do conjunto da sociedade, assumido diretamente pelo Estado. Em Portugal, as mulheres são responsáveis por 74% das tarefas domésticas.
Em Luta, nº 19 (fevereiro de 2020)