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Capitalismo: “economia de guerra” constante contra os pobres e trabalhadores

Inacessibilidade de testes em massa rápidos para verificação sobre contaminação do Covid 19; carência de materiais de proteção como máscaras e viseiras e o alto custo para adquiri-los; falta de ventiladores mecânicos suficientes para uso em pacientes com dificuldades respiratórias nos hospitais; déficit de profissionais de saúde e leitos; aumento da pobreza, fome e do desemprego. Tudo isto evidencia como a lógica anárquica do sistema capitalista não atende às reais necessidades da humanidade. A reconversão da indústria ao que realmente interessa à população é uma urgência para além de tempos de pandemias.

Com o discurso da necessidade de implantar uma “economia de guerra” contra a pandemia de coronavírus, os governos do mundo inteiro injetaram pesadas somas da poupança pública no setor privado, de bancos a grandes empresas. Além disso, dispensou cobrança de impostos ao empresariado e incentivou o lay off supostamente para salvar empregos, mas sem garantias que tal não aconteça.

Toda essa intervenção estatal na economia aconteceu sem que tivesse ocorrido uma necessária reconversão industrial para que as fábricas passassem a produzir, com boa qualidade e preço baixo, materiais de extrema e urgente necessidade para a população se proteger ou se recuperar da doença, como ventiladores mecânicos. Nenhuma medida também foi realizada para que os alimentos tivessem redução e congelamento de preço.

Os planos de “reindistrialização” capitalista

Toda guerra exige um plano, uma estratégia. Em Portugal, não satisfeita com a soma de recursos públicos destinados aos grandes empresários na pandemia, a Associação Empresarial de Portugal (AEP) anunciou que vai apresentar ao governo um plano de “reindustrialização” no país. O financiamento do projeto, segundo o sítio Jornal Económico, 10 mil milhões de euros, deveria ser garantido pelo orçamento público, para as empresas gastarem como quiserem, ao definirem o que é essencial para ser produzido para o mercado.  Além de produzir o que melhor lhes conviessem em termos de lucratividade, as empresas pagariam os empréstimos com tratamento privilegiado, no melhor estilo de negócio de pai para filho.

Da leitura do projeto “Estratégia de Crescimento” entregue pela AEP ao governo português ainda em novembro do ano passado, ou seja, antes da pandemia, vê-se que o empresariado exigirá não somente mais recursos públicos para manterem níveis de lucratividade. Eles reivindicam ainda uma maior redução de impostos e o aumento da precarização dos trabalhadores através da aprovação de legislação que permita aprofundar a flexibilização das relações de trabalho.

A promessa do empresariado, no documento “Estratégia de Crescimento” e nos discursos públicos, é sempre no mesmo tom de chantagem: se não houver mais flexibilização de direitos trabalhistas, as indústrias estão livres para automatizar “tudo o que for possível”, com consequência direta no aumento do desemprego. Como se o de costume não fosse exatamente o governo e empresários ajustarem um “mix” de flexibilização e automação que resultam em baixa de salários, aumento da jornada e despedimentos em massa. Ou seja, com a desculpa de recuperar a economia, os ricos planeam ações para atacar os direitos dos trabalhadores. Aliás, mesmo em tempos normais, a economia gerida pelos governos a favor dos patrões é uma verdadeira guerra contra os trabalhadores. Em situações limite, de grandes crises, a guerra é “declarada”, sem maquilhagem, e a classe trabalhadora é usada como carne de canhão.

É assim que funciona o planeamento da economia no capitalismo. Em momentos de normalidade ou não, os recursos públicos e as leis devem sempre estar prioritariamente à disposição da “livre iniciativa” e do “livre mercado”, ou seja, para garantir o enriquecimento de um punhado de empresários. Mesmo que isso represente a diminuição de investimentos em serviços públicos, como o Sistema Nacional de Saúde (SNS), cada vez mais precarizado, mesmo que aumentem as filas nos bancos de alimentos, ainda que milhares sejam despejados de habitações.

O novo produto torna-se rapidamente obsoleto

Na sociedade em que vivemos, de tipo capitalista, as grandes empresas definem quais são os produtos e serviços mais necessários à população. Aliadas a um poderoso sistema de propaganda, as corporações buscam induzir necessidades, comportamentos e padrões de consumo de produtos que podem garantir o máximo de lucratividade para as empresas, ainda que de pouca durabilidade ou vida útil.

A indústria de eletrônicos, a título de ilustração, através da “obsolescência programada” despeja produtos no mercado que em pouco tempo serão pela própria marca considerados de tecnologia superada ou limitada, provocando os consumidores a fazerem constantes trocas de aparelhos. Isso é provocado pelo alto preço das peças de reposição em caso de alguma simples avaria, mas também por um apelo propagandístico que nos é incutido para não nos sentirmos deslocados do mundo das novas tecnologias.

Por exemplo, com o lançamento de um novo modelo de telemóvel que prometa mais qualidade e melhores recursos de áudio, imagem, armazenamento e rapidez no processamento de dados, uso de aplicações e navegação na internet, somos praticamente tensionados pela indústria a comprar um outro produto a partir de uma necessidade criada propositadamente pela estratégia da “obsolescência programada”.

Reconversão da indústria e planificação da economia

Os ricos não param de elaborar planos e estratégias supostamente essenciais para o país. O projeto de “reindustrialização” de Portugal apresentado pelos grandes empresários, baseado na dispensa de impostos, no financiamento público e no ataque aos direitos laborais não atende aos interesses da classe trabalhadora portuguesa.

Obviamente, esta estratégia de produção capitalista se configura também como altamente danosa ao ambiente, uma vez que desde a recolha de matéria prima até o empacotamento do produto, que já sai da fábrica com curto tempo de vida útil predefinido, há todo um de gasto de energia, emissão de gases e descarte de substâncias tóxicas em aterros sanitários.

Contra este e outros projetos que mantêm a anarquia de produção capitalista voltada para o lucro em detrimento das reais necessidades para uma vida digna de todos em sociedade, é mais que necessário defendermos uma alternativa de fato socialista: a de planificação da economia, com a estatização dos setores estratégicos, e com a reconversão da indústria para produção daquilo que realmente é mais importante para o povo pobre e trabalhador, com redução da jornada, sem redução de salários, para que todos possam ter o direito de trabalhar, e com a efetivação de todos os contratos que hoje são precários.

Só uma revolução socialista, em nível mundial, poderá salvar as pessoas e o planeta da catástrofe ambiental que cada vez mais se aproxima, com mais e mais pandemias e esgotamento de recursos naturais.

Por Daniel Gajoni