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VW Autoeuropa | Trabalhadores não querem ser mão-de-obra barata para as multinacionais. Aumento salarial já em 2021 !

Com uma participação a rondar os 80%, os trabalhadores da VW Autoeuropa rejeitaram de forma esmagadora a proposta de acordo para os próximos anos.

Ao contrário do que veiculou a imprensa, este acordo não propunha aumentos de 4,6% para todos os trabalhadores. Para a grande maioria dos trabalhadores o aumento seria bastante inferior e, pelo contrário, para todos implicava um ano sem aumento salarial, num contexto em que a fábrica continua com grandes volumes de produção e o T-Roc é um dos modelos mais vendidos pelo Grupo VW em toda a Europa.

Otimizações de lucros para a empresa, mais exploração para os trabalhadores

Ao mesmo tempo, a empresa tem “otimizado” a produção, leia-se, fazer o mesmo número de carros (ou mais) com menos trabalhadores, com consequências para os últimos, que se veem confrontados com o aumento do ritmo de trabalho à custa do desgaste da sua saúde. Os acidentes de trabalho têm sido muitos, assim como os trabalhadores que contraem doenças profissionais, fruto do trabalho repetitivo, com graves problemas ergonómicos. Os trabalhadores com estes problemas de saúde são muitas vezes descartados pela empresa, que os deixa sem posto de trabalho e com perdas financeiras.

Melhores condições de trabalho em tempos de pandemia

Perante a situação que se vive numa das maiores concentrações industriais do país, o Governo tem sido muito omisso. Aliás, como fez durante a imposição do trabalho aos fins de semana, em 2017/18, com a conivência de BE e PCP. Costa, que tem sido duro com os fracos, com as imposições da pandemia sem salvaguardar a vida e o trabalho dos que têm sido afetados nesta grave crise, é subserviente a estas multinacionais. Milhões foram retirados aos cofres do Estado para injetar em empresas muito lucrativas, como a VW Autoeuropa; já os pequenos negócios não  contaram com o mesmo apoio e muitos tiveram de fechar. Em 2014, foram injetados 36 milhões na VW Autoeuropa sem sequer garantir todos os postos de trabalho.

O posicionamento do Governo condiz com uma política de tornar o país numa concentração de trabalho de excelência a baixo custo, para os grandes tubarões dos diversos setores poderem vir construir os seus lucros sem deixar uma migalha. Em tempos em que os patrões usam e abusam das desculpas da pandemia para cortarem direitos aos trabalhadores e abocanharem dinheiro dos cofres do Estado, é importantíssimo que, numa empresa como a VW Autoeuropa, os trabalhadores e as suas organizações consigam conquistas que mostrem que é possível um caminho que não ceda à cegueira das empresas pelo lucro.

É importante a unidade dos trabalhadores para lutar pelos seus interesses e conseguir um bom acordo

Nesse sentido é importante que os trabalhadores se mantenham unidos. Mas unidos para quê? Na fábrica tem-se vivido uma interessante discussão em torno da palavra unidade. Nesta discussão formaram-se dois blocos de opinião. Os que pensam que unidade significa o silenciamento das divergências entre trabalhadores e os que defendem que a unidade dos trabalhadores é uma ferramenta que deve servir para lutar pelos interesses dos trabalhadores.

Os trabalhadores devem ficar alerta com quem entre eles defenda a opinião dos patrões, ou outros que priorizem atacar quem defende os trabalhadores ao invés de voltar a sua indignação para a empresa. O Em Luta defende que a discussão democrática de divergências é saudável e necessária para se garantir a unidade dos trabalhadores na luta pelos seus interesses. É nisso que se devem focar os trabalhadores da VW Autoeuropa, para mostrar a todo o país e ao seu Governo, que pandemia não pode ser pretexto para piorar direitos e salários ou para não reconhecer quem trabalha.

João Reis