A NOSSA CLASSE SETOR AUTOMÓVEL

VW Autoeuropa | Contra o roubo dos salários | Construamos um plano de lutas pelo aumento real do salário

Nos últimos anos, o discurso do patronato passa por crise pandémica, crise dos componentes, crise inflacionária… crise, crise, crise... Durante este período, em 2021, o grupo Volkswagen produziu menos carros, mas aumentou em 78% os seus lucros. Já os trabalhadores obtiveram perdas salariais. Perdas para quem trabalha, ganhos para quem explora, eis a dura verdade da situação atual em que vivemos.

Não se podem aumentar os salários, para não aumentar a inflação?

No setor automóvel, assim como no geral do setor produtivo, houve crescimento dos lucros das empresas. Apesar da redução da produção e do suposto aumento dos preços, que aparentemente poderia prejudicar os resultados das empresas, na medida em que aumentariam os preços dos fornecedores de serviços e materiais, na verdade, aumentam os lucros, e não apenas no setor energético. Este facto deita por terra a lógica de que a inflação existe devido à redução do desemprego e, consequentemente, do aumento dos salários. Temos inclusive assistido a uma perda significativa de salários ao longo dos anos. É este o motivo que leva ao crescimento dos lucros, apesar da situação inflacionária.

Da pandemia à crise energética: Sempre a aproveitar oportunidades para aumentar a exploração

Como já falámos outras vezes, a pandemia e a crise que se seguiu foram aproveitadas pelas empresas para aumentarem a exploração sobre os trabalhadores. A flexibilização das relações laborais, a generalização e normalização do saque aos cofres do Estado e o crescimento da precariedade foram as orientações dos patrões para aproveitarem a crise pandémica. Tudo isso se traduziu num ataque encapotado às condições de trabalho, ao mesmo tempo que em alguns setores, como na VW Autoeuropa, se viram aumentar os ritmos de produção.

Com a atual crise energética, as grandes empresas preparam-se para mais um assalto, como é exemplo, mais uma vez, o grupo Volkswagen. No passado compraram gás a um preço bem mais baixo que o atual, e, agora, apesar dos já significativos aumentos dos lucros de 2021, ainda querem fazer negócio com o gás, que compraram barato e agora querem vender caro. Ao mesmo tempo ainda aproveitam para chantagear emos trabalhadores com a ameaça da paralisação da produção devido à falta de gás.

Aumentar salários de acordo com a inflação

O salário dos trabalhadores, mesmo naqueles em que houve aumentos nos últimos anos, enfrenta perdas que ultrapassam o valor médio da inflação, já que esse valor médio esconde os diferentes pesos que têm os aumentos da energia e dos bens de primeira necessidade para o orçamento de uma família trabalhadora. Se por um lado a inflação mensal não chega aos 10% até setembro, o aumento dos custos da energia de mais de 20% e dos bens essenciais em mais de 11% dão uma ideia melhor da situação dramática em que se encontram as famílias dos trabalhadores.

É por isso que é urgente levantar lutas por aumentos salariais nas empresas, seja no público ou no privado. A VW Autoeuropa e o seu Parque Industrial devem ser um exemplo. Estamos diante já de uma situação de austeridade que o governo de António Costa procura encobrir com “ajudazinhas”, sem afetar os lucros obscenos de quem explora o trabalho alheio. É preciso controlar preços, taxar fortemente os lucros, mas acima de tudo que os salários subam a par com a inflação.

Para isso é necessário que nas empresas os trabalhadores lutem, mas também que haja um processo de luta geral pelo aumento de salários a que as centrais sindicais, os sindicatos e as Comissões de Trabalhadores têm de dar corpo. A manifestação do próximo dia 15 de outubro, convocada pela CGTP, é um bom sinal, mas não podemos ficar por aí. Não basta fazerem-se manifestações se depois nas lutas concretas nas empresas não se concretiza a propaganda que se faz por aumentos significativos dos salários, contra a escalada da inflação.

À luta!

João Reis