A NOSSA CLASSE SETOR AUTOMÓVEL

Parabéns aos trabalhadores da VW Autoeuropa Por mais um exemplo de luta e organização | A nossa contribuição para o debate

Os trabalhadores da VW Autoeuropa viveram uma importante luta por aumento de salário. E, como sempre, as lutas são importantes momentos de experiência e aprendizagem que os trabalhadores devem aproveitar para avançar. Esta não poderia ser diferente...

O resultado melhora, mas não resolve o problema da inflação

O resultado desta luta reduz as perdas salariais fruto da inflação, mas não resolve o problema. Como se sabe, a inflação será mais alta que o aumento salarial conseguido e continuará durante os tempos que se seguem. Portanto deve fazer parte dos objetivos dos trabalhadores continuar a lutar por aumentos salariais na empresa. No entanto, a resposta à inflação não se reduz à fábrica. O governo do PS tem orientado a resposta dos patrões ao introduzir os prémios como forma de responder à inflação, deixando de lado o controlo dos preços dos bens essenciais, da habitação e da energia. O controlo dos juros do crédito habitação, a renacionalização das empresas do setor energético para poder controlar os preços da energia, um plano de construção de habitação para pressionar para baixo o valor das rendas e das casas, são algumas das medidas de que o governo foge e que têm de estar no horizonte de quem quer lutar contra a perda dos salários.

Empresa e trabalhadores têm os mesmos interesses?

Nesta batalha ficou mais uma vez exposto que os trabalhadores e a empresa não têm os mesmos interesses. Ao contrário da lógica, demasiado vincada na VW Autoeuropa e defendida pela maioria da CT, de que trabalhadores e empresa caminham lado a lado e no qual a CT junto com a empresa resolvem os problemas dos trabalhadores sem ser necessário recorrer a greves ou outras formas de luta, o que se viu neste processo foram interesses completamente antagónicos. Apesar dos resultados que a fábrica e o grupo VW têm conseguido, os salários dos trabalhadores perdem valor. E se por um lado os trabalhadores necessitam de aumentos para resistir à inflação, por outro a empresa não verá os seus lucros crescerem tanto se aumentar salários de forma digna. Uns trabalham para o lucro e outros lutam para reduzir a sua exploração. É uma discussão semelhante à vivenciada pelos trabalhadores durante a Geringonça, onde PCP e BE diziam estarmos diante de um governo bom, mas os trabalhadores sentiam a sua vida na mesma, pois era um Governo dos patrões.

A participação e as lutas coletivas

A participação dos trabalhadores nos plenários, o seu envolvimento nas greves e a rejeição da primeira proposta de aumento em referendo foram determinantes para desbloquear este processo. Ao contrário da lógica da cogestão que tudo pretende resolver sem a demonstração de força por parte dos trabalhadores, a verdade é que os trabalhadores sentiram que foi a sua participação nos plenários e as greves de novembro, bem como o chumbo em referendo que fizeram avançar o processo além da vontade da empresa.

A necessidade de olhar o mundo e não apenas a empresa

O mundo atravessa várias mudanças e os que o governam procuram incansavelmente resolver os seus problemas aumentando a exploração e piorando as condições de vida dos trabalhadores. É por isso que têm surgido processos de luta em vários cantos do globo através dos quais os trabalhadores resistem. A Europa tem sido atravessada por importantes ondas de greves, como agora se volta a ver no Reino Unido ou em França, assim como na Ucrânia tem sido heroica a luta do povo contra a invasão russa. Do outro lado do globo, também na China os trabalhadores lutam contra as medidas repressivas de um governo ditatorial. Em Portugal as greves têm aumentado o tom, como se viu na VW Autoeuropa, ou agora recentemente na luta dos professores, mas é necessário trabalhar na sua unificação rumo à construção de uma greve geral que imponha as medidas necessárias de combate à inflação que Costa não quer aplicar.

A importância de um partido comprometido com os trabalhadores

Estes processos servem de alerta para que os trabalhadores percebam que o que vivem faz parte de uma realidade global, que necessita de respostas políticas de conjunto, porque tem que ver com a política dos que gerem o mundo e que os processos de luta na nossa empresa, inserem-se nesse contexto. É necessário, além de sindicatos e CTs que não andem de braço dado com as empresas e o governo, partidos políticos que apoiem os trabalhadores nas suas lutas, os façam perceber a força que têm e não deixem órfãos os trabalhadores, como recentemente vivemos no país durante a Geringonça.

É este o desafio que o Em Luta deixa para os tempos que aí vêm!
Desejamos um feliz natal a todos os trabalhadores!
Boas festas e um 2023 de lutas e conquistas para todos os trabalhadores!