Internacional

Emergência climática, qual a solução?

Novembro de 2022 foi marcado pela ação dos ativistas da greve climática estudantil. Ocuparam escolas e universidades para exigir medidas pela transição energética.

As ocupações colocaram em debate a solução para a emergência climática. Alguns criticavam os estudantes por usarem telemóveis e automóveis com motor a combustão, como se isso demonstrasse incoerência com as exigências apresentadas.

Na verdade, os estudantes colocaram o problema exatamente onde era suposto estar: na ação coletiva e na necessidade imediata de políticas públicas.

Por mais importante que seja, nos países mais ricos, mudar os hábitos de consumo, a perspetiva individual como saída ambiental é completamente insuficiente.

Os maiores responsáveis pela emissão de gases poluentes estão entre as 100 maiores empresas do mundo. Por isso, não basta mudar os hábitos individuais, é necessária uma saída coletiva que enfrente estas empresas.

Governo e UE, grandes amigos das empresas poluentes

Os estudantes tiveram o mérito de colocar a crise climática novamente na ordem do dia e de exigirem medidas emergenciais do Governo.

Os governos pelo mundo, na melhor das hipóteses, muito falam e pouco fazem. Sequer se dignaram a assinar um acordo na COP-27 para um problema que é global. A verdade é que nenhum deles pretende meter-se com as empresas mais lucrativas do mundo. É por isso que a solução não virá de cima, mas sim da união dos de baixo.

Unir trabalhadores e estudantes por uma sociedade sustentável

Trazemos esta realidade para Portugal. Os trabalhadores da Volkswagen Autoeuropa produziram cerca de 240 mil unidades de automóveis no ano de 2022. No ano de 2020, a sua produção correspondeu a 1,4% do PIB português. A solução da Volkswagen Autoeuropa para ser uma “empresa ambientalmente sustentável” é passar a produzir carros elétricos. Essa proposta não só é um engodo para o problema ambiental, como também vem junto com ataques e perdas de direitos dos trabalhadores do setor automóvel.

O Governo e a União Europeia, longe de enfrentarem a empresa, dão mais dinheiro público à Volkswagen, que depois vai enviar os seus lucros para a Alemanha.

A solução para enfrentar o lobby das empresas poluentes é unir a luta dos estudantes com a luta dos trabalhadores destas empresas. É desta união que poderemos arrancar as verdadeiras medidas para uma transição energética e para uma sociedade ambientalmente sustentável.

Distopia ou realidade?

O recém lançado filme “Avatar: o caminho da água” apresenta uma disjuntiva: tecnologia e grandes corporações ou sociedade primitiva.

Queremos apresentar uma disjuntiva diferente.

Imaginemos um mundo onde a produção e organização social é orientada para as necessidades sociais e não para o lucro. Onde as decisões políticas e também económicas são feitas de maneira coletiva, num tipo de democracia onde os representantes são eleitos com mandatos revogáveis. E a política não é só de alguns poucos privilegiados com tempo livre, mas é parte da vida e do cotidiano da maioria da população. Essa sociedade não é uma distopia, é socialismo. A disjuntiva que temos hoje é: socialismo ou barbárie.

E a nossa luta por uma sociedade democrática, sem exploração, nem opressão e ambientalmente sustentável é a luta socialista revolucionária.

Lutar pelo clima não é crime!

Não basta o Governo ignorar completamente a urgência da crise climática: além de tudo, os estudantes que lutam para exigir as medidas necessárias enfrentam ataques e repressão.

Quatro estudantes foram detidas ao protestarem no Ministério da Economia e do Mar. Depois, na ocupação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a PSP deteve outros quatro estudantes, que enfrentaram processos criminais e foram condenados por nada mais do que se manifestarem e lutarem pelo clima.

São ataques graves e inaceitáveis ao direito de manifestação. Repudiamos as detenções e condenações e solidarizamo-nos com os ativistas: lutar não é crime!

Joana Salay