Da redação do Em Luta, prestamos a nossa solidariedade com a dor do povo turco e sírio.
No nordeste da Síria vivem quatro milhões de pessoas refugiadas da guerra que já leva 12 anos nesse país – 90% das quais já dependiam de assistência humanitária. Essa região foi uma das mais afetadas pelo terramoto e, até há poucos dias, havia apenas uma passagem para ir até lá através da Turquia. Foi por ela que chegou, quatro dias após o desastre, o primeiro comboio de ajuda enviado pela ONU, com mantimentos não alimentícios, cobertores e kits de higiene. Sem ajuda estatal para procurar sobreviventes nos escombros, a população só pôde contar com o apoio dos Capacetes Brancos, a organização não governamental de defesa civil que opera nas áreas controladas pela oposição a al-Assad.
Construções inadequadas
Todos assistimos horrorizados às imagens que mostravam a derrocada de edifícios como se fossem castelos de cartas nas cidades turcas afetadas pelo terramoto. Boa parte desses prédios não cumpria as regras de construção antissísmicas exigidas na legislação. Esse descumprimento foi forjado através de “aministias” dadas aos construtores em troca do pagamento de uma taxa. Estima-se em 75 mil os edifícios “amnistiados” nas áreas atingidas pelo terramoto. Certamente haveria menos vítimas se a legislação tivesse sido rigorosamente cumprida.
A enfrentar temperaturas abaixo de zero, a população turca e síria tentava desesperadamente salvar os seus parentes, amigos e vizinhos dos escombros e acusava os serviços de emergência de lentidão. Com o passar dos dias, restará a essas pessoas enterrar os mortos e tentar reconstruir a vida num cenário de terror.
Há heróis
Nessa catástrofe também há heróis. São a população que escavava as ruínas com as suas próprias mãos na tentativa de encontrar sobreviventes; os Capacetes Brancos e outros voluntários que vieram de várias partes do mundo para ajudar a população vitimada; são pessoas como o cirurgião sírio Nehad Abdulmajeed, citado pelo jornal New York Times. Ele conta o drama vivido no hospital onde trabalha, em al Atarib, perto da fronteira com a Turquia: “Desde segunda-feira (6 de fevereiro), os corpos não param de chegar. Alguns chegam sem cabeça. Outros sem membros”.
Ele conta que pensara já ter visto o pior do sofrimento humano, mas não foi assim. Em 2016, sobreviveu ao cerco de Alepo durante a guerra civil; depois que a cidade foi tomada pelas forças de Bashar al-Assad, foi embora para Al Atarib, onde trabalha num hospital cavado no subsolo para resguardá-lo dos bombardeios russos e sírios. “Nosso hospital sempre foi cheio de tragédias”, disse, mas ele e a sua equipe nunca tinham visto uma carnificina como a provocada agora pelo terramoto. “Eu acreditava que talvez tivesse visto tudo, mas estes são os dias mais trágicos que já vi em toda a minha vida.”