Quem foi Rui Nabeiro?
Falamos aqui de uma figura cujo negócio familiar lhe permite a riqueza que leva Rui Nabeiro a fundar a Delta Cafés, que rapidamente se torna importante no mercado nacional. Não era qualquer um naquela época que erguia rapidamente uma empresa. As boas relações que Rui Nabeiro mantinha com a ditadura podem ser comprovadas também com as duas nomeações que teve para a presidência da Câmara de Campo Maior em 1962 e 1972, bem como o acesso privilegiado que conseguiu ao mercado angolano ainda nos tempos da outra senhora.
Como nascem os bons patrões?
Este grupo económico encontra-se numa região do país assolada por um desemprego elevado e por baixos salários. São estes os elementos que permitem ao Grupo Nabeiro, o principal empregador da região, uma boa imagem. Associando ao elemento de principal empregador, uma figura carismática conhecida pela população, que foi presidente da câmara por diversas vezes e alguma caridadezinha, obtemos o “bom patrão” Rui Nabeiro. Mesmo que os salários sejam baixos e haja a mesma precariedade que conhecemos noutras empresas do país.
Os “bons patrões” não são novidade no país
Encontramos Alfredo da Silva no Barreiro, que com a mesma mão “dava” casas, saúde, escolas e teatros (para alguns) e também bastonadas da GNR nas costas daqueles que lutavam contra os salários de fome e pés descalços que se praticavam na CUF.
Também encontramos os “bons patrões” da modernidade na VW Autoeuropa. Uma multinacional que procura em Portugal mão-de-obra barata embora qualificada para produzir um dos carros VW mais vendidos no continente europeu. Tudo com milhares de postos de trabalho e salários acima da média (da miserável média portuguesa) que escondem centenas de acidentes de trabalho e doenças profissionais, num trabalho por turnos rotativos extremamente desgastante.
E como reage a esquerda a isto?
No dia da morte de Rui Nabeiro, Paulo Raimundo, Secretário-Geral do PCP, passava por Serpa em atividade partidária. Questionado pela imprensa, Paulo Raimundo diz que “[Rui Nabeiro]… é uma pessoa justamente reconhecida no país… E eu acho que há, de facto, princípios e formas de estar que muito mais gente devia acompanhar”. Esta é a leitura que o líder do PCP, partido com presença na região em que Rui Nabeiro era bem visto e ao mesmo não deixava de explorar com baixos salários o trabalho alheio, faz da figura deste patrão.
Diante da miséria crescente, é normal que mais exemplos destes apareçam. Gente de posses que usa de carisma e mão dura quando é preciso, para manter o povo nas mãos e na ordem que permite explorar o trabalho humano com pouca oposição. Exemplos bons para quem quer passar a imagem que o capitalismo com um sorriso nos lábios, até nem precisa de pagar muito para ser bem aceite e funcionar.
A lógica do lucro nunca pode ser boa
Já o papel de quem vive a realidade dos trabalhadores deve ser o de dizer que no mundo em que vivemos não existem bons patrões. Seja na antiga CUF que “oferecia tudo”, na Delta que nunca despediu ninguém, ou na Autoeuropa onde “em diálogo” se impõe cada vez mais um trabalho de sofrimento, a lógica é a mesma.
Pagar aos trabalhadores abaixo do que eles produzem de forma a obter o máximo de lucro possível, é esta a realidade de roubo legalizado de todo e qualquer patrão, tenha chicote nas mãos, ou um sorriso nos lábios.