A NOSSA CLASSE Nacional

Depois das eleições construir a greve geral contra os ataques do governo Montenegro

Como dizíamos na nota pública sobre as eleições autárquicas, este processo não se traduziu num momento de estabilização do país. As crises políticas à espreita continuam como antes a ser o pano de fundo. No entanto, é inegável um fortalecimento político do governo, com a reconquista da Associação de Municípios e a vitória nas duas maiores cidades do país, Lisboa e Porto. Há que espremer os resultados e retirar as conclusões que nos preparem para o combate que aí vem.

O governo sai fortalecido com o seu projeto de cidade dos ricos

O partido no governo, o PSD, abordava este processo eleitoral como um primeiro teste político pós legislativas e depois do anúncio de alguns ataques como a lei da Nacionalidade e a contrarreforma laboral. Para esta empreitada partia de uma desvantagem relativamente ao PS, que apesar da derrota eleitoral nas legislativas, mantinha mais 36 câmaras que o PSD e, portanto, a Associação de Municípios. Os resultados confirmam um fortalecimento do governo. Reconquista a maioria das câmaras e assim a Associação de Municípios, e a presidência das duas cidades com maior concentração populacional, Lisboa e Porto. É verdade que não há maiorias absolutas nessas cidades, mas é também verdade e indiscutível o peso político que essas vitórias têm para o partido no governo. 

O governo de Luís Montenegro sai, portanto, fortalecido deste processo, mas isso não significa que não há nada a fazer. Como dizíamos antes das eleições, a crise política mantém-se. Mantém-se um governo sem maioria absoluta, que está a dar a cara por ataques importantes aos trabalhadores e aos jovens, diante de um mundo muito polarizado e dependente de acordos principalmente com a extrema-direita, mas também com o PS.  

O PS tem derrotas em várias cidades e perde a vantagem relativamente ao PSD no número de presidências de câmara. No entanto, consegue vitórias em cidades historicamente bastiões do PSD, como Bragança e Viseu. Não é uma derrota avassaladora como as legislativas, mas não deixa de ser um resultado negativo.

Por outro lado, o Chega não consegue traduzir a vontade de se afirmar, também no poder local, como o partido que veio acabar com o bipartidarismo. Fica em quinto lugar entre os partidos que conquistam câmaras, apenas com três vitórias e atrás da CDU/PCP e do CDS-PP. No entanto, discordamos de que a derrota se  mede em relação às expectativas agitadas por André Ventura. Há votações muito relevantes em vários municípios onde a extrema-direita fica em segundo lugar (por exemplo no distrito de Setúbal). Muitas vezes com o mesmo número de vereadores que as candidaturas vitoriosas, o que demonstra uma consolidação.

No campo dos trabalhadores: preparar o contra-ataque

Entre a esquerda parlamentar há uma derrota para o BE e o Livre, ao passo que para o PCP, mais relevante no poder local, há derrotas significativas. Mantém uma redução inabalável do número de câmaras conquistadas, passando de 34 para apenas 12, nos últimos 12 anos. 

Se para Livre e BE estes resultados tem muito que ver com uma incapacidade de uma relação orgânica e estrutural com os trabalhadores e a juventude, relacionado com os projetos essencialmente eleitorais e centrados na atividade parlamentar que constroem, para o PCP, estas derrotas significam mais. Por um lado, porque a estrutura do partido é muito dependente do trabalho autárquico, por outro, porque a estas derrotas estão associadas experiências negativas dos trabalhadores e da juventude com os governos locais da CDU.

É importante lermos os resultados para armarmos o movimento das melhores ferramentas para a construção da oposição nas ruas ao famigerado pacote laboral do governo Montenegro, às consequências da lei da Nacionalidade recentemente aprovada, aos ataques ao direito à habitação e à destruição dos serviços públicos. Isso passa por começar desde já nos movimentos, nos sindicatos e pressionando os partidos políticos dos trabalhadores para que se comece a preparar uma greve geral, como confluência de resposta a todos os ataques que o governo pôs em curso. A próxima manifestação nacional da Palestina, no dia 19 de Outubro e em seguida a manifestação da CGTP em Lisboa, no dia 8 de novembro, serão momentos importantes para avançar na construção da greve geral.