No momento em que o fogo consome grande parte do território acima do Tejo, as nossas primeiras palavras são de solidariedade para com as vítimas de mais esta catástrofe e de reconhecimento pelo esforço sobre-humano das populações e bombeiros no combate às chamas.
No entanto, não podemos calar a nossa revolta e repúdio face às declarações inaceitáveis do Secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes. O país não arde porque as populações não são pró-ativas no combate aos incêndios e ficam à espera dos bombeiros. Não fosse pela ação das populações – que, com o conhecimento que têm do terreno e os poucos meios de que dispõem, são a primeira linha de combate ao fogo e de socorro aos mais desprotegidos – a perda de vidas e bens seria ainda maior.
O país arde porque os sucessivos governos – incluindo os do PS – entregaram a gestão da floresta à indústria da celulose, desmantelaram os serviços florestais de limpeza e prevenção, desinvestiram na formação de recursos humanos e aquisição de equipamentos próprios de combate aos incêndios, e deixaram desertificar o interior do país.
O Governo de António Costa mantém esta política florestal, que dá dinheiro a ganhar a interesses privados em vez de defender os interesses do país. O país arde porque o Governo ignorou a manutenção das temperaturas altíssimas e mandou fechar todos os 236 postos de vigia contra incêndios no final de setembro.
O país arde porque o dinheiro que deveria servir – entre outras coisas – para o ordenamento do território e para a prevenção e combate aos incêndios é canalizado para o pagamento da dívida imposto pela UE; a mesma UE que não deu ainda resposta ao nosso pedido urgente de ajuda para combater os incêndios que lavram um pouco por todo o país e que já ceifaram mais três dezenas de vidas.
Por isso, o que é preciso não é mais pró-atividade das populações no combate aos incêndios. O que é preciso, como propúnhamos no texto que publicámos a propósito da tragédia de Pedrógão, é uma nova estratégia nacional de ordenamento, gestão e exploração da floresta que ponha os interesses do país em primeiro lugar.
O Governo é parte do problema e continua a olhar para o lado. O relatório de Pedrogão aponta falhas graves, mas até agora não houve nenhuma consequência disso. A Administração Interna continua sem assumir responsabilidade, enquanto trata o tema como um problema de incendiários e de populações pouco pró-ativas. É preciso a demissão imediata da Ministra e do Secretário de Estado e a mudança, já neste Orçamento de Estado, da política florestal e do combate aos incêndios!
Por isso, uma vez extintos os incêndios e enterrados os mortos, o que é preciso é uma onda enorme de “pro-atividade” na exigência de responsabilidades e de implementação de uma nova estratégia para as nossas florestas. Só a mobilização popular poderá cobrar responsabilidades e reverter esta situação.