No início de dezembro de 2013, o Estado, através do Governo de Passos e Portas, dispersava em bolsa 70% do capital dos CTT, angariando quase 600 milhões de euros com mais uma privatização da troika. Após esta operação, 56% dos CTT estavam nas mãos de instituições e 14% nas mãos de pequenos investidores (12,6% de cidadãos em geral e 1,4% de trabalhadores da empresa); os restantes 30%, na mão do Estado, viriam a ser privatizados em setembro do ano seguinte, rendendo mais 343 milhões de euros. Esta última tranche colocava o valor das privatizações em quase 7 mil milhões de euros desde 2011.
O apelido Champalimaud voltou, nos últimos dias, a atravancar os títulos dos jornais, agora por causa dos CTT. Manuel Champalimaud, filho do falecido, é hoje o maior acionista dos CTT, com 10,24%, entre acionistas como o Credit Suisse ou o BNP Paribas, para citar os mais conhecidos. Contudo, nem sempre foi assim. A famosa Goldman Sachs e o Deutsche Bank eram, em 2013, os principais acionistas institucionais, com 5% e 2% do capital, respetivamente. De lá para cá, muito se brincou no casino da Bolsa.
Mas não foi só na Bolsa que os capitalistas brincaram aos carteiros. No mundo real, a brincadeira foi também bastante empenhada. A privatização rapinou os bens com vendas de património, fechou estações, despediu, precarizou e manteve a contratação de pessoal a níveis insuficientes, excluindo-se desta forma a prestação de um serviço público de qualidade e universal para todos.
O Plano de Restruturação anunciado para salvar e tornar os CTT sustentáveis anuncia com bondade aparente a redução de 20% dos dividendos aos acionistas de 48 para 38 cêntimos, mas recordamos que, em 2016, a distribuição de dividendos aos acionistas (72 milhões de euros) superou os lucros da empresa (62 milhões de euros), obrigando a gestão a ir buscá-los a outro lado. Por isso, o Plano inclui mais sacrifícios para os trabalhadores: despedimentos e cortes nos salários. São 1000 postos de trabalho a menos e redução do salário dos que ficam.
As multas aplicadas à Administração pela Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) por falhas no contrato de concessão poderiam levar ao cancelamento do contrato. Contudo, se a entidade reguladora não avança que avance o Governo e os seus aliados.
A passagem dos CTT para o setor estatal é um imperativo. Só com o controlo e planeamento deste serviço por parte do Estado e dos trabalhadores poderemos reconquistar um serviço público de qualidade, que possibilite a entrega de uma carta em tempo útil. Este retorno dos CTT à esfera pública não deve ser acompanhado do pagamento de indemnizações aos capitalistas. Já se fala, inclusivamente, em valores (500 a 600 milhões de euros), mas quem administra a empresa já lucrou muito, quer através de operações na Bolsa e dividendos quer através de receitas imobiliárias.
Todo o apoio à GREVE dos trabalhadores dos CTT!
Não aos despedimentos e cortes salariais nos CTT!
Por uns CTT Públicos, Universais e de Qualidade para todos!