A morte de Luís Giovani, de 21 anos, aluno do Instituto Politécnico de Bragança, choca pela brutalidade e covardia das agressões que a originaram.
O jovem cabo-verdiano tinha saído com dois amigos para uma discoteca em Bragança na noite de 21 de dezembro e, à saída, foi abordado e agredido por cerca de 15 rapazes, o que levou à sua morte.
Giovani foi atingido na cabeça com um pau, sofreu um traumatismo crânio-encefálico e foi transportado para o Hospital de Bragança. A gravidade dos ferimentos obrigou à sua transferência para o Hospital de Santo António no Porto onde viria a morrer dez dias depois.
A PSP soube do sucedido no próprio dia, mas não efetuou qualquer detenção, apesar da gravidade dos factos. O crime está agora sob a alçada da Polícia Judiciária, que não exclui a possibilidade de este ter sido motivado por ódio racial.
A leviandade e a demora no apuramento de factos tão graves e o silêncio da imprensa contrastam com o tratamento dado a outros casos, igualmente graves, mas cujas vítimas não são negras, ciganas ou imigrantes. Torna-se notório o carácter dúplice do Estado, da polícia e dos tribunais quando se trata de crimes envolvendo pessoas racializadas.
No caso de Luís Giovani, a barbaridade de que foi vítima não parece perturbar a aparente tranquilidade e placidez com que as investigações decorrem. Por outro lado, nas zonas periféricas das nossas cidades, jovens são perseguidos, brutalizados e até assassinados pelo simples facto de serem negros, viverem nos ditos “bairros problemáticos” e, portanto, serem “criminosos em potência”, como ensinam as cartilhas, oficiais ou não, de órgãos públicos de um Estado supostamente democrático e não racista.
O caso Giovani e o populismo da extrema-direita
Pessoas de diferentes quadrantes sociais e políticos estão a exigir que ao caso de Giovani seja dado o mesmo tratamento que ao caso de Pedro Fonseca. É um alerta para a diferença de tratamento de um assassinato brutal apenas por uma questão de cor de pele.
No entanto, como sempre nos tempos recentes, setores populistas e de extrema-direita aproveitaram o momento para ganharem votos às custas da morte de um jovem e lançam confusão para que não se perceba o que se está a exigir.
É importante perguntar: a quem serve esta agenda de divisão, quando insistem em divulgar falsas informações, como o vínculo entre cor da pele e, por exemplo, o Rendimento Social de Inserção, ou outros apoios sociais do Estado. Qual o objetivo da extrema-direita parlamentar e extraparlamentar?
O programa de partidos como o Chega indica a resposta. Recentemente retirado do site partidário para que não chegasse ao conhecimento dos próprios eleitores, o Chega propõe o aumento da flexibilidade laboral, a privatização de praticamente tudo o que é público e o enfraquecimento das ferramentas legais dos trabalhadores para se defenderem de leis do trabalho cada vez mais distantes de garantir uma vida digna.
Como sempre, divide-se para reinar e para que, divididos, trabalhadores negros, ciganos, imigrantes e brancos continuem cada vez mais explorados pela ganância dos patrões, levados ao colo por PS’s, PSD’s e agora também por Chegas e outros semelhantes.
Este tipo de populismos, que escondem programas políticos economicamente semelhantes aos socialistas e sociais-democratas que nos governam há décadas, levam a menos direitos laborais, a mais miséria e, portanto, a maior criminalidade. É a isto que levam estas campanhas.
Chega de racismo: Quem matou Giovani?
Primeiro declaramos toda a nossa solidariedade com os familiares e amigos de Giovanni. Exigimos também o rápido apuramento dos factos e a punição exemplar dos seus responsáveis.
Finalmente, estão marcadas para este sábado em Bragança, em Braga, no Porto, em Coimbra e em Lisboa marchas silenciosas de homenagem a Luís Giovani. Para além da evocação de uma vida tragicamente ceifada, estes eventos assumem o carácter de denúncia da ausência de medidas de combate ao racismo.
Escassos meses depois da eleição de três mulheres negras para a Assembleia da República, feito inédito em 45 anos de democracia, estes dois atos mostram que a luta por medidas de combate ao racismo tem que passar pelas ruas, para além do Parlamento, mobilizando negros, negras, migrantes e os trabalhadores que se colocam no campo da luta contra a exclusão racial.
Contra a divisão entre trabalhadores e para se fortalecer a luta contra os nossos verdadeiros inimigos, quem nos explora e oprime à frente de governos ou no trabalho.