EDITORIAL

O atraso no combate à pandemia é responsabilidade dos governos capitalistas

A pandemia do coronavírus continua a atravessar o quotidiano do país. Discute-se o processo de desconfinamento, mas a situação pandémica está longe de acabar. Hoje sabemos que a única forma de ter um regresso progressivo à normalidade é a vacinação.

Mas a verdade é que estamos muito longe da vacinação necessária para conter novas ondas e a necessidade de novos confinamentos. A quebra das patentes permitiria produzir a vacina, acelerando o processo de vacinação, poupando milhões de vidas e protegendo a saúde coletiva. Permitiria ainda poupar milhões aos Orçamentos Públicos que, comprando vacinas privadas, terão de pagar os lucros das farmacêuticas em vez de pagarem apenas os custos de produção das vacinas. Quando a UE e o governo Costa se posicionam contra a quebra das patentes mostram como são lacaios dos interesses das multinacionais e quão hipócrita é o seu discurso em defesa da saúde e da vida.

A ciência diz-nos que as vacinas e os medicamentos são fundamentais para a saúde pública, mas nenhum está isento de efeitos secundários, sendo central o equilíbrio entre os benefícios e esses efeitos. A discussão nos media sobre as vacinas da Astrazeneca e agora da Jonhson& Jonhson está rodeada de opacidade e atravessada pelo facto de estarem em jogo não apenas os interesses da saúde, mas também interesses privados das farmacêuticas. O controlo público sobre as vacinas é, por isso, não apenas uma necessidade para a sua produção e distribuição ampla e gratuita, mas é fundamental para que a confiança no processo de vacinação não seja posta em causa por interesses e disputas opacas, devendo ser tido como único critério a defesa da saúde e a utilização de critérios científicos (e não económicos) para a análise da eficiência das mesmas.

Em toda a gestão da pandemia, temos visto o Governo Costa e a UE colocarem os lucros capitalistas acima da saúde e da vida coletiva. O tratamento do caso recente de Sócrates, por oposição ao tratamento que no mesmo período recebeu o caso do imigrante Igor, que morreu durante a sua estadia no SEF, mostram como os dois pesos e duas medidas atravessam não só a pandemia, mas também a justiça. Quando se assinalam 47 anos do 25 de Abril de 1974, não podemos deixar de lembrar que esteve na ordem do dia construir uma outra sociedade que não estivesse organizada pelo lucro e pela exploração do homem pelo homem, mas uma sociedade socialista, igualitária, que garantisse a Paz, o Pão, a Habitação, a Saúde e a Educação para todos. Hoje vai-se perdendo muito do que se conquistou, porque a democracia atual é a democracia dos ricos. As contradições da atual situação só mostram como as aspirações do 25 de abril ainda estão por cumprir e que, para as alcançar, é preciso retomar a luta por uma nova revolução. Caso contrário, serão mais uma vez os trabalhadores e a população mais pobre a pagar os custos humanos, económicos e sociais da pandemia e da crise económica.