A NOSSA CLASSE AVIAÇÃO

O QUE FAZER PARA GARANTIR OS POSTOS DE TRABALHO E OS SALÁRIOS DOS TRABALHADORES DA GROUNDFORCE?

Depois de várias manifestações e apesar de terem sido pagos os salários, a situação para os trabalhadores da Groundforce ainda não se encontra resolvida.

As manifestações na Groundforce levaram todo o país a conhecer a situação por que passavam os trabalhadores da empresa – sem salário – e, por conseguinte, a levantar o véu sobre o negócio calamitoso que foi feito há 8 anos entre o governo da altura e o ainda acionista privado, em conjunto com a TAP. Os trabalhadores da Groundforce, hoje, só têm garantido o próximo salário de abril.

Sobre o negócio feito entre o privado e o Estado há anos, recordar que o passivo de mais de 130 milhões de euros que a Groundforce tinha na altura ficou do lado da TAP (ainda antes da privatização para Azul e Barraqueiro), ficando assim o acionista privado com uma empresa sem dívidas. É hoje também conhecido por muitos que o privado não pagou inicialmente nada pela empresa, dando somente uma garantia bancária de cerca de 3 milhões de euros que só anos mais tarde veio a ser acionada pela TAP.

Para combater a corrupção e negociatas como as da Groundforce há que levantar o sigilo bancário

Durante anos, o acionista privado andou a receber um pagamento mensal que resultou em cerca de 6 milhões de euros, o que suplantou em muito a garantia bancária referida anteriormente. Para além disso, ainda foi pago por consultorias que uma empresa do seu grupo fazia à própria empresa de handling que agora detinha e geria. É também público que o referido acionista empenhou as ações da Groundforce, e também é público que este detém dinheiro num paraíso fiscal, só não se sabe quanto.

Negócios como o da Groundforce foram feitos no passado e continuarão a ser feitos no futuro, pois está na forma de atuar de patrões e seus governos. Estas situações têm de ser combatidas com o levantamento do sigilo bancário, que tem servido para tudo e para todos como justificação para demoras, mas que mais não faz do que camuflar negócios e desvios de dinheiro de empresas.

Sem nacionalização e mobilização em torno dela os trabalhadores ficam mais uma vez nas negociatas de governos e privados

É verdade que a nacionalização pode não ser a garantia e resolução de todos os problemas da Groundforce. Contudo, muito menos o é ficando na mão de um acionista privado. Qualquer privado aproveitará a crise e a situação da aviação para, mais uma vez, colocar sacrifícios sobre os trabalhadores, semelhantes aos que o ainda dono da Groundforce conseguiu aplicar com a ajuda de todos os sindicatos no início de 2012, infligindo, através de alterações à contratação coletiva, cortes líquidos nos salário na ordem dos 20%.

Quando opositores à nacionalização afirmam, ironicamente, que esta é uma ideia “simpática” e recordam vezes sem conta a impossibilidade legal por ordem da União Europeia, escolhem claramente o lado privado e aceitam a submissão à UE tão característica dos nossos governantes e que cada vez mais se acentua no país, para mal dos trabalhadores. Para estes senhores – e muitos deles representantes dos trabalhadores – o mundo já acabou há muito, reservando-se a política para negociações à porta fechada com respeito pelo sigilo bancário. Temos visto os resultados ao longo destes anos: austeridade e precariedade.

Os trabalhadores da TAP, no início do ano, viram os seus sindicatos assinar acordos no marco da restruturação, sendo-lhe mais uma vez apresentada a situação como uma derrota “inevitável” pelo gosto à Europa. Os trabalhadores da TAP, Portugália e CateringPor viram os seus acordos alterados sem lhes ser dada hipótese de lutar dada a “inevitabilidade” da Europa e da pandemia. Hoje, após a derrota no Grupo TAP, a defesa da nacionalização sem austeridade e despedimentos tem de ser acompanhada, mais que nunca, com a mobilização e o controlo democrático de trabalhadores.

Carlos Ordaz