A fábrica de Palmela tem sido uma das mais produtivas e lucrativas do Grupo, mesmo no ano pandémico de 2020. Os seus trabalhadores alcançaram, nos anos 2018-2020, produções-recorde de 223 mil, 257 mil e 192 mil automóveis, na sua quase totalidade vendidos para exportação.
Os mais de 5 mil trabalhadores da AE sabem que algumas daquelas pretensões fazem parte da “dança habitual” das negociações: os capitalistas sediados em Wolfsburg entram a ameaçar cortar as mãos para saírem como santinhos depois de cortarem “apenas” alguns dedos. No final, a empresa fica sempre a ganhar mais alguma coisa, e os trabalhadores vão perdendo direitos (recorde-se, por exemplo, a recente imposição do trabalho regular aos fins de semana).
Não ceder nem uma unha!
Mas este ano há alguns elementos novos neste velho cenário: os trabalhadores, ainda que atingidos recentemente pelo despedimentos de mais de 300 colegas contratados, o que aumentou os ritmos de trabalho, sentem-se unidos, pois são agora na sua esmagadora maioria efetivos, sabem que a administração precisa da sua força de trabalho para alcançar os próximos projetos de produção, ou mesmo a captura de novos investimentos. Sentem-se não só os produtores dos enormes lucros da Autoeuropa nos últimos anos, como também querem justamente ser recompensados pelos riscos para a sua saúde – e a dos seus familiares – que significou trabalhar em plena pandemia.
Não há, pois, razão para aceitar a perda de uma unha sequer! Pelo contrário, é justo que os seus direitos sejam reforçados!
Enquanto o capital governar, nenhuma conquista estará segura!
Perante esta realidade sempre ameaçadora, não será o governo português que os protegerá perante eventuais ataques e crises futuras: é preciso construir fortes laços de solidariedade com a restante classe trabalhadora portuguesa – que continua a sofrer a “pandemia” da crise social e económica – e também com os operários das outras fábrica do grupo.
A recente chamada “crise dos chips”, que levou à paralisação de algumas fábricas de vários produtores mundiais de automóveis – incluindo a Volkswagen Autoeuropa – ilustra bem que nenhum trabalhador pode estar descansado sobre o seu futuro enquanto este for dominado por meia dúzia de bilionários e pela sua disputa selvática pelo lucro e rentabilização dos capitais. Apesar de a indústria automóvel e as ‘bolachas de silício’ e chips serem duas das indústrias mundiais mais desenvolvidas e planificadas até ao pormenor, o desajuste entre os dois setores instalou-se. É que a perspetiva de fabulosos lucros com a produção de chips para a indústria de consolas de jogos, computadores e equipamentos móveis, TVs, assistência à saúde remotamente, etc. fez com que os respetivos fabricantes reorientassem as linhas de produção, deixando os fabricantes de automóveis à espera.
Esta é uma crise passageira, mas a disputa intercapitalista e a rentabilização de capitais com o aumento da automação e o avanço da indústria 4.0 continuará a resultar em ataque aos direitos dos trabalhadores e em pressão sobre os postos de trabalho. Um futuro seguro, uma sociedade justa, onde o trabalho de cada um e de todos seja sempre reconhecido e orientado para as necessidades da maioria, exige mais do que uma luta entre as quatro paredes de uma empresa ou fábrica. A construção de uma organização política revolucionária, nas mãos de quem trabalha, é a melhor estratégia de futuro.