O verão foi mais uma vez marcado por notícias de catástrofes ambientais. Das cheias na Alemanha e Bélgica, aos incêndios no Canadá e Austrália, levando ao extremo de uma Turquia com cheias no Norte e incêndios no Sul. Fica nítido que passamos por grandes transformações climáticas com graves consequências. Os próprios negacionistas, na sua maioria, já não negam as alterações climáticas; agora afirmam que a mesma é fruto do desenvolvimento natural do planeta. Mas mesmo esta tese já é insustentável, como podemos ver no gráfico abaixo.

As grandes alterações climáticas passaram a ocorrer com o capitalismo, mostrando que é a forma como a sociedade capitalista produz que destrói o planeta; e é contra eles que temos de lutar.
A crise climática e ambiental
Em agosto de 2021, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicou um relatório destacando que a temperatura da Terra está a subir mais rápido do que o esperado e alertando para as consequências da catástrofe climática. O relatório fornece evidências de que há mudanças no clima da Terra como um todo e afirma que muitas delas não têm precedentes em milhares e até centenas de milhares de anos, salientando que parte das que já estão a ocorrer, como o aumento do nível do mar, não poderão ser revertidas em séculos.
A região que vivemos, a Península Ibérica, será particularmente afetada. Nesta região, a temperatura média tem estado a aumentar a um ritmo superior ao da escala global, na ordem de 1,5 graus Celsius. Também já se observa uma redução da precipitação média anual, aumentando as secas e os riscos de incêndio. No entanto, o problema não é só a seca, mas também a possibilidade de acumulação de chuva em pequenos espaços de tempo, levando à ocorrência de cheias. As alterações climáticas têm consequências ambientais. Incêndios e cheias serão cada vez mais frequentes, levando à catástrofes ambientais.
Os governos em Portugal são cúmplices
Os consecutivos governos portugueses têm atuado na contramão da emergência climática e ambiental. Sendo que os dois últimos governos do PS, tanto da Geringonça (com o apoio do BE e PCP), como o atual, não são exceção.
Mesmo após a catástrofe do incêndio em Pedrogão, em 2017, o Governo manteve a sua política florestal ao serviço de garantir os interesses das grandes empresas de celulose, como a Navigator, que plantam eucaliptos irresponsavelmente pelo país inteiro. Tampouco garantiu a contratação necessária de trabalhadores voltados para a prevenção e contenção de incêndios, sendo que a atividade dos bombeiros florestais continua a ser muito precária e, em grande medida, voluntária.
O Governo insiste na exploração de lítio em oito áreas do país, mesmo sabendo que o processo de extração deste minério tem grande impacto ambiental, tanto pelos resíduos que gera como pelo facto de utilizar uma enorme quantidade de água no processo. É mais uma prova de que colocam o lucro em primeiro lugar.
Por isso, afirmamos que o Governo de Costa faz apenas discursos sobre o meio ambiente, mas a prática é muito distinta. Aceitam de tudo para garantirem os lucros das grandes empresas, que são as mesmas que contratam trabalhadores precários, beneficiando-se também das medidas de austeridade que nunca foram revertidas. O projeto é o mesmo: vender todas as riquezas do nosso país, trabalhadores e natureza, visando o lucro imediato. Esta lógica tem-se mostrado inviável e estamos a sofrer as consequências ambientais e sociais fruto da ganância capitalista.
Por que não há planeta B é preciso agir agora
A emergência climática e ambiental é imediata, por isso é preciso agir agora. São necessárias medidas que coloquem a sustentabilidade ambiental e o direito ao emprego no centro, em vez dos benefícios para as grandes empresas. É preciso:
– Mudar a política florestal. Combater a monocultura do Eucalipto. Contratar trabalhadores para prevenção e contenção de incêndios.
– Parar todos os projetos que destroem o meio ambiente.
– Investir numa ampla rede pública de transportes que responda verdadeiramente às necessidades da população e que seja gratuita e sustentável.
– Criar empregos para o clima (nos setores-chave que têm impacto direto nas emissões de GEE, como energia, transportes, construção, gestão de florestas e agricultura).
– Nacionalizar as grandes empresas de produção e distribuição de energia (EDP, GALP, REN). Priorizar energias renováveis e medidas de poupança energéticas.
– Fazer a reconversão ecológica da indústria e limitar rigorosamente as emissões de gases com efeito estufa. Nacionalizar as indústrias estratégicas. A durabilidade dos produtos, reutilização e reciclagem devem ser critérios obrigatórios, eliminando produções supérfluas ou destrutivas, cujo único objetivo é alimentar a sua rápida substituição.
– Suspender o pagamento da dívida e nacionalizar o sistema bancário para obter recursos financeiros para estas medidas.
– Controlo democrático dos trabalhadores dos diferentes setores económicos estratégicos.
Essas medidas não devem significar a perda de um único posto de trabalho. Todos os trabalhadores cujos postos de trabalho sejam afetados devem ver garantidos os seus salários e direitos e ser realocados para os novos postos de trabalho.
O capitalismo não apresenta alternativa, é necessária uma nova sociedade
Hoje diversos setores políticos falam em soluções ambientais. Até propõem um capitalismo verde, voltado para os setores não poluentes, mas temos de ter claro que o capitalismo transforma tudo em lucro, e aquilo que poderia ser solução vira destruição e crise humanitária ou ambiental.
A política de Costa para a transição energética, por exemplo, é generalizar os parques eólicos e fotovoltaicos, que já são vistos de norte a sul na paisagem do país. No entanto, quando implantados em grandes extensões provocam a destruição de inúmeros ecossistemas. Não basta fazer transição energética. É preciso discutir qual o nível de utilização de energia que precisamos manter e para quê.
O recente caso da Galp na refinaria de Matosinhos é emblemático. Fecha-se a empresa e demitem 1600 trabalhadores. O Primeiro Ministro, agora, chora lágrimas de crocodilo, mas de facto nada fez para impedir os despedimentos e garantir a reconversão dos empregos.
São precisas medidas para salvar o planeta, mas não podemos cair no engodo de um capitalismo verde ou sustentável. Não podemos ter ilusões. No marco do capitalismo não há solução viável. Acabam por vender a vida dos trabalhadores em nome de uma falsa sustentabilidade ambiental. Para revolver a crise climática e defender a Humanidade, é necessária uma luta anticapitalista que se enfrente com o coração do problema: o modo de produção capitalista.
Por uma sociedade ao serviço dos interesses do conjunto, não de poucos; por uma sociedade socialista
Fazem muito bem os jovens que estão a ser vanguarda da luta por soluções ambientais. Por isso, somamo-nos à greve climática estudantil. É preciso despertarmos para esse problema. E temos também de discutir a solução. Não há solução para a crise climática e ambiental enquanto houver capitalismo.
Lutar contra a crise climática exige a luta contra o capitalismo, por isso esta luta tem de ser em unidade com a classe trabalhadora, sobretudo a classe trabalhadora dos setores poluentes. Só com esta unidade poderemos conquistar a força necessária para uma revolução social. Quem tudo produz é quem pode garantir uma transição para uma sociedade sustentável, que garanta a vida, o emprego, a saúde, o ambiente e o clima.
Não existem leis e reformas que possam resolver as contradições do capitalismo. É necessária uma revolução socialista para salvar o planeta e os seus habitantes da catástrofe. É necessária uma alternativa revolucionária.