A morte de Moïse é fruto da violência, do racismo e da xenofobia. O jovem, que deixou o Congo em virtude da guerra com apenas 11 anos de idade, foi espancado com socos, pontapés e ao menos 30 pauladas, com extrema crueldade.
O racismo e a xenofobia são agravados pela exploração capitalista, que coloca África e os africanos numa condição subhumana. Relembramos que o Congo, país arrasado por uma rapina permanente do imperialismo norte-americano, europeu e chinês, teve o conflito mais mortífero pós 2ª Guerra Mundial. Apesar da riqueza da extração de minerais como o lítio e o bauxito, uma elevada percentagem da população vive abaixo do limiar da pobreza. Enquanto isso, a classe capitalista congolesa, herdeira de Mobutu e dos Kabilas, continua a sugar o sangue dos locais em disputas entre senhores da guerra e outros poderes locais, como o de Paul Kagame, herói autorizado do imperialismo que cumpriu um papel criminoso na 2ª Guerra Congolesa.
Para muitos jovens congoleses a única opção é a emigração, por rotas dominadas pelo tráfico em todo o mundo e que os levam a uma situação extremamente vulnerável e isolada nos países onde acabam por ser explorados. Moïse no Brasil encontrou o trabalho ultra precário, sem registo e sem quaisquer direitos, e foi assassinado ao cobrar o mínimo do mínimo: o salário pelos dias trabalhados. No Brasil e no mundo, a violência racista e xenófoba continua a tirar vidas negras e imigrantes.
A história de Moïse retrata a verdadeira cara do capitalismo, a verdadeira cara da farsa “humanitária”, e o drama ao qual milhões de africanas e africanos são fadadas ao nascimento. Há registo, nos últimos anos, de outros quatro imigrantes congoleses assassinados pela violência racista e xenófoba no Brasil – sem apuração e justiça.
Desde Portugal, expressamos toda a solidariedade à família de Moïse e às comunidades congolesas e imigrantes no Brasil. Repudiamos a violência racista que o Estado brasileiro promove diariamente, herança dos séculos de colonização e escravatura pelos quais até hoje não houve reparação, e que é hoje fortalecida pela ofensiva ultra reaccionária e a guerra aos pobres que o governo genocida de Jair Bolsonaro impõe.