EDITORIAL

Da luta contra a Troika à maioria absoluta do PS: como chegamos aqui?

A 12 de março de 2011, 300 mil pessoas ocupavam as ruas em Portugal. A batalha era para que a conta da crise económica não caísse sobre as costas dos trabalhadores e da juventude. A crise fez-se sentir com particular força em Portugal, a partir de 2011, e teve como consequência colocar a nu o lugar periférico e subordinado da economia portuguesa dentro da União Europeia.


Depois da manifestação de 15 de setembro de 2012 ter derrotado a TSU e aberto uma brutal crise política no Governo, estava aberta a oportunidade para derrotar o Governo na rua.
No entanto, o que se seguiu foram a aplicação das medidas de austeridade, um esvaziamento das lutas e a canalização do processo para “levar a luta até ao voto”, “levar o descontentamento às urnas”, ou seja, respeitar as dinâmicas da legalidade burguesa e esperar as eleições de 2015 para derrotar o Governo nas urnas.
As eleições de 2015 mostraram que os principais partidos do regime democrático-burguês estavam em profundo desgaste. Só houve um Governo maioritário porque BE e PCP aceitaram governar com o PS, formando a Geringonça.
A esquerda parlamentar canalizou a sua força política para sustentar um Governo que não reverteu, no essencial, a política da Troika-Passos-Portas.
Ficaram as leis laborais da Troika, ficou a lei das rendas de Cristas e a precarização dos serviços públicos. Todos se fizeram sentir ainda mais agora na pandemia.
A Geringonça foi, assim, um bom aluno da UE e do FMI: pagamento da dívida adiantada, obsessão e rigoroso cumprimento do défice, relação estreita com instituições europeias e FMI. O governo da Geringonça enfrentou mais greves que o de Passos e o que primou foi a repressão do Estado sobre quem lutava: enfermeiros, motoristas, estivadores, luta antirracista.
Perante a forte crise do regime que se abre com a constatação do 12M, a postura da esquerda parlamentar foi apresentar como saída a sustentação ao governo do PS nos limites da UE e do Euro. Vimos esta ausência em todas as candidaturas que se apresentaram nas legislativas.
A esquerda parlamentar não só esvaziou de conteúdo um programa alternativo para a classe trabalhadora, que podia ganhar hegemonia nas ruas com o processo de contestação da troika, como jogou contra os trabalhadores que lutavam.
O resultado dessa estratégia de lutar por migalhas num governo dos ricos submisso à UE vimo-lo agora nestas legislativas. O PS sai mais fortalecido do que nunca e o BE e o PCP derrotados.
Para nós a lição que fica é que a saída é construir uma alternativa política para os trabalhadores, assente na independência de classes, na mobilização dos explorados e oprimidos e com um programa nítido de saída do Euro e da EU, o que só é viável se construído com a perspetiva revolucionária.