Há muitas teorias para explicar os motivos do aumento dos preços. A explicação mais difundida é a combinação entre aumento da procura, causada pela retoma pós-pandemia sem a reversão da quebra de abastecimento para a produção, e os efeitos da invasão russa na Ucrânia, que levou a um aumento dos preços dos combustíveis e dos cereais.
Num mundo onde supostamente o mercado se autorregula, se há aumento da procura e falta de oferta os preços aumentam como se mágica fosse. No entanto, é preciso verificar que o aumento dos preços se dá num momento em que as grandes empresas e multinacionais batem recordes de lucro.

Galp, EDP, REN, SONAE e a Jerónimo Martins lucram com a guerra e com a fome
Para as grandes empresas, o trigo e o combustível são formas para lucrar, não servem para alimentar o povo ou fazer o carro andar. Aumentar os preços é, para as empresas, uma oportunidade para lucrar mais e recuperar as perdas da pandemia; para o povo significa fome, miséria e dificuldade de trabalhar.
As sete maiores petrolíferas mundiais registaram lucros extraordinários no ano passado. Antes mesmo da invasão russa à Ucrânia, a Galp já admitia que o negócio da refinação estava a contar com boas margens, potenciando a diferença entre o custo de compra do barril e o preço de venda. Com este lucro estas empresas têm planos para a recomprarem as próprias ações em valores recorde, com o objetivo de remunerarem os acionistas. É o que fará a Galp em Portugal, garantindo o lucro às custas do aumento dos combustíveis.
Atestar um depósito do carro em Portugal custa 8% do salário médio nacional. Para o trabalhador que teve de recorrer à Uber, Glovo e outras apps como forma de sobrevivência, fica vez mais inviável a sua sustentação. É pagar para trabalhar.
Governo apresenta a conta aos trabalhadores
Quando Costa diz que não pode aumentar salários sob pena de aumentar a escalada inflacionária, opta por fazer com que sejam os trabalhadores a pagarem o aumento do custo de vida. É possível aumentar salários e congelar os preços, mas a solução de Costa para o aumento dos preços é um apoio social de pagamento único de 60 euros para as famílias que têm tarifa social de eletricidade. Essa proposta não só não resolve a tendência de aumento de preços e perda de rendimentos, como conta com muitos problemas na sua aplicação.
Na atual discussão do Orçamento do Estado está em cima da mesa retomar os apoios às empresas, não bastassem os milhões que foram entregues desde a pandemia. Já sabemos que Costa governa para os ricos, por isso não vai tomar medidas efetivas que impeçam que os trabalhadores continuem a perder rendimentos.
Direita ao serviço dos lucros com a defesa da economia “liberal”
Chega e Iniciativa Liberal apontam os impostos como culpados dos preços altos, mas não dizem que a descida dos impostos sem o controlo dos preços e a taxação dos lucros não vai impedir que os preços continuem altos. O PSD segue a mesma lógica.
Quando propõem como saída apenas a diminuição da tributação, estão a dar carta branca para os grandes grupos económicos do sector de energia manterem os seus super-lucros às custas de quem tem menos.
Submissão ao Euro e à UE aumenta o custo de vida
Seguir as regras do tratado orçamental tem um alto custo para os trabalhadores. A exigência de diminuição do peso das empresas públicas levou à privatização da Galp, EDP e REN. Fazendo com que hoje não exista nem produção nem distribuição de energia pública em Portugal. A UE abre as fronteiras para as multinacionais explorarem os trabalhadores sem terem de aqui deixarem os lucros.
Esta situação, combinada com a exigência de manutenção do défice como garantia de cumprimento da dívida pública, tem como tendência mais cobrança de impostos e menos gastos do Estado, levando a um estrangulamento do estado de bem-estar social e a uma economia cada vez mais liberalizada. A vida fica cada vez mais cara e salários cada vez mais baixos.
A política monetária da burguesia passa por controlar a inflação através da alta dos juros que irá jogar sobre as costas dos trabalhadores mais uma crise. A partir da organização e da luta da classe trabalhadora podemos construir propostas que nos levam num outro caminho, que impeçam a tendência inflacionária, garantam condições dignas de vida e abram espaço para uma sociedade mais igualitária e ambientalmente sustentável.