Um governo mais forte significa que a burguesia portuguesa e europeia vai apresentar sem reservas os seus planos para a transição energética e as famosas reformas estruturais. E pretendem implementá-las por cima de um país já debilitado pelos congelamentos das carreiras, que nunca foram revertidos, pelo avançar da precariedade e pelo aumento do preço das casas. Se a tudo isto somarmos a crise da inflação e do abastecimento, que resulta no encarecimento do custo de vida, vemos sobre quem a retoma do Governo, do Presidente da República (PR) e da UE se pretende construir.
Por isso, este é um 1º de Maio de desafios para a nossa classe em Portugal. Esta é uma data histórica, que lembra não só os trabalhadores de Chicago em 1886, naquele que foi um episódio fulcral para o cimentar da vitória da jornada de 8 horas de trabalho, mas também a dissidência a que a luta resoluta pelos direitos da classe trabalhadora a nível mundial conduz.
A exploração é o pilar fundamental da sociedade capitalista, sobre a qual gravitam as suas injustiças e a sua desigualdade. A nossa classe precisa de se organizar para se defender dos ataques e lutar por pequenas conquistas que o sistema nos nega. Por todo o lado, a luta olhos nos olhos contra a exploração demonstra-nos a falsidade da política de ódio, opressão e alienação que estratifica o campo dos trabalhadores e mina a luta. Só a luta muda a vida! Só a luta sem tréguas contra as opressões e a exploração será capaz de sarar as feridas e as desigualdades dentro da nossa classe.
Os 6 anos de Geringonça foram marcados pelo abandono, pelas principais direções dos trabalhadores em Portugal, da luta num campo independente dos trabalhadores. Lembramos que as principais lutas nestes anos travaram-se por fora dos aparatos da CGTP, enquanto BE e, principalmente, PCP aprovavam os Orçamentos do Estado e suportavam o Governo PS. Estivadores, enfermeiros, motoristas de matérias perigosas, trabalhadores da Autoeuropa e Aeroportuários enfrentaram o Governo, enquanto essas direções conciliavam, refreando o ímpeto dos trabalhadores, e davam sustentação a um Governo que atacou impiedosamente estes sectores com requisições civis e planos de restruturação para um novo patamar de exploração.
A Geringonça significou uma política consciente de desarmar das lutas, nas mãos de um Governo que não reverteu as medidas laborais da Troika e aprofundou a precariedade.
Temos de lembrar como derrotamos a TSU e enfrentamos Passos Coelho: nas ruas, unindo as lutas dos vários setores laborais com a da Juventude, que se via sem perspetivas, construindo um movimento de enfrentamento e rebeldia que se combinou com as Greves Gerais.
O 1º de Maio é a ocasião por excelência para nos lembrar que a luta pelos direitos dos trabalhadores é também uma luta contra a exploração, é uma luta de dissidência. Não é por acaso que é no 1º de Maio de 1974 que a classe trabalhadora portuguesa torna a Revolução de 25 de Abril irrevogável. Hoje queremos disputar todos os insatisfeitos com as direções dos trabalhadores, todas os lutadores, todos os jovens que lutam pelo futuro, para a necessidade de criarmos uma alternativa independente do sistema, dos patrões e do Governo, combativa, que una a nossa classe e que lute para ganhar – pois é assim que poderemos derrotar este sistema e construir uma sociedade que lute até ao fim para eliminar a exploração.