Alika Ogochukwu, pai de dois filhos, um de 8 e outro de 10 anos, morava a 50 quilómetros de Civitanova Marche e percorria todos os dias essa distância para ganhar sustento como vendedor ambulante. Pedia também esmola aos pedestres que passavam. Há cerca de um ano sofreu um acidente e desde então necessitava do apoio de muletas para caminhar.
Segundo narram as testemunhas, naquele dia, após Ogochukwu se dirigir a uma mulher pedindo que comprasse lenços ou lhe desse um euro, um homem de 32 anos correu atrás dele, arrancou-lhe a muleta e agrediu-o na cabeça. Ogochukwu caiu após o golpe na cabeça e, entretanto, o homem continuou a agredi-lo. Pessoas que passavam à volta assistiram passivamente e filmaram, e nada fizeram para acudir Ogochukwu e fazer cessar as agressões.
A imprensa local estima que as agressões brutais, assistidas por diversas pessoas que não intervieram, continuaram por cerca de 3 ou 4 minutos, até resultarem na morte de Ogochukwu. Os vídeos que viralizaram na internet mostram o agressor a estrangulá-lo. Ao final, o agressor pegou o telemóvel da vítima e saiu andando.
A indignação com o assassinato brutal, e com a passividade e indiferença com que as agressões foram assistidas, varreu Itália e gerou protestos.
O agressor, identificado como Filippo Ferlazzo, foi detido, mas segundo as declarações dos investigadores será autuado por homicídio doloso e por roubo, e não por racismo. Entende a polícia que a agressão ocorreu por “motivos fúteis”, porque o agressor alegou que Alika Ogorchukwu havia flertado com a sua namorada – e, portanto, não teria sido motivada por racismo.
Diante da repercussão do caso e da indignação causada, até a hipócrita e cínica extrema-direita italiana foi levada a pronunciar-se. Giorgia Meloni, presidente do partido Irmãos de Itália, escreveu que espera que o assassino “pague caro”, e Matteo Salvini, da Liga, em seu Twitter, atribuiu de maneira populista o assassinato ao problema da segurança – apenas para depois alegar, diante das denúncias de racismo acerca do caso, que “os italianos são o povo menos racista do mundo” e que “uma esquerda desesperada” estaria utilizando o caso para “acusar a ele, à Liga e a milhões de italianos de racismo”.
Antes de tudo, expressamos a nossa mais profunda solidariedade com a família de Alika Ogorchukwu. O assassinato de Ogorchukwu é uma dor intolerável que precisa ser ferozmente denunciada, e todos devem ser sensibilizados para lamentar!
A polícia e as autoridades, incapazes de negar a brutalidade do assassinato, dizem que irão apurá-lo e puni-lo, mas, absurdamente, insistem em negar o racismo.
É imprescindível denunciar: Alika Ogorchukwu foi mais uma vítima da violência racista e xenófoba!
Não basta que o assassino seja punido por homicídio enquanto as autoridades continuam a encobrir o racismo e a xenofobia por trás da violência. O assassinato cruel, a sangue frio, de Ogorchukwu, e a indiferença com que foi assistido, põem a nu mais uma vez a bárbara normalização da violência contra negras e negros. Essa violência, na Itália como em outros países, não apenas é tolerada, mas é também praticada pelas instituições que compõem o próprio Estado – a começar pelas polícias – e diretamente incentivada pelo discurso dos setores abertamente xenófobos e racistas, a exemplo de Meloni e Salvini na Itália. É impossível sequer falar em justiça para Ogorchuwku sem a apuração e punição do seu assassinato como um crime de ódio racista!
É importante observar que o assassinato de Ogorchukwu tomou as notícias ao mesmo tempo em que eram transmitidas reportagens sobre a chegada de 1200 imigrantes, africanos e asiáticos, à ilha de Lampedusa, no sul da Itália, e enquanto a mesma extrema-direita de que falamos defendia mais medidas contra os refugiados e imigrantes, continuando a insuflar o ódio racista e xenófobo.
Não temos dúvidas de que Ogorchukwu é mais uma vítima do projeto racista do Capitalismo italiano, europeu e mundial, que desbarata as vidas de milhões de negras e negros, para os ter esmagados na divisão internacional do trabalho, para lhes impor que façam todo o tipo de funções sem qualquer vislumbre de direitos ou reclamações. Também são consequência desse projeto as mortes no mediterrâneo e a degradação do já precário modo de vida nos países africanos, onde a instabilidade e a miséria promovidas pela rapina das burguesias nacionais e internacionais deixa pouca alternativa aos jovens senão sujeitarem-se às amarguras da Europa Fortaleza.
É por isso tão importante que a classe trabalhadora branca europeia e o conjunto da classe trabalhadora no mundo encarem o racismo como uma das principais fontes da destruição promovida pelo capitalismo. O racismo tudo facilita para esse sistema: é um dos principais aliados da exploração e da degradação da classe trabalhadora mundial. Não podemos tolerar este flagelo que reclama e boicota vidas e envenena as hipóteses de emancipação da classe trabalhadora. Os racistas fazem o papel do patrão! O ódio cego e lucrativo do racismo divide e aprofunda a desigualdade racial na nossa classe e impede-a de se unificar contra os seus inimigos! Em todo o lado os socialistas revolucionários devem erguer a bandeira da luta antirracista sem tréguas. É preciso acabar com a ordem exploradora e opressora capitalista que nos divide entre brancos e racializados! Basta de violência racista!
Alika Ogorchukwu, Presente!
Justiça para Ogorchukwu! Punição do seu assassinato como um crime de ódio racista!
Abaixo o Racismo! Abaixo os Crimes Racistas!
Não há verdadeira justiça racial no capitalismo! Morte à Ordem Exploradora e Opressora Capitalista!