Hoje, milhares de pessoas estão novamente nas ruas do Irão, como quase permanentemente nos últimos anos, um microcosmo para uma longa luta por justiça social durante todo o último século. Seguem os passos das mulheres de março de 1979 e tem uma mensagem para o mundo: “mulheres, luta, pela liberdade”. O brutal assassinato de Mahsa (Zhina) Amini pela Patrulha de Orientação (gasht-e ershad), uma polícia “moral” estatal, em 13 de setembro, por suposto “uso impróprio” do hijab incendiou sua fúria. Mas não os aterrorizou, ao invés disso estimulou de novo as massas a lutar. Zhina, uma mulher curda cuja comunidade sofre discriminação étnica no Irão, morreu sob custódia policial em circunstâncias suspeitas. O estado recusou-se a dar explicações transparentes sobre a sua morte. Pelo menos oito manifestantes foram assassinados até agora, e o número de baixas continua a crescer. Na segunda-feira, uma greve geral estourou no Curdistão iraniano.
Manifestantes em dezenas de cidades exigem o fim da ditadura, o desmantelamento da Patrulha de Orientação, que o uso do hijab seja opcional e de acordo com a escolha de cada indivíduo, e muitas outras reivindicações. O policiamento dos corpos das mulheres tem de parar. Mas estes protestos vão muito para além da questão da vestimenta e são parte de uma luta muito maior por justiça de género, social e económica. Para entender como, observemos as recentes greves dos trabalhadores da educação em todo o Irão desde dezembro de 2021. Pelo menos 60% desses profissionais são mulheres, e além de estarem a lutar contra os seus patrões quando são assediadas por uso “impróprio” do hijab, muitas dirigentes do movimento de educadores levantam outras reivindicações interrelacionadas. Exigem a construção de mais escolas em regiões rurais, apontando que é menos provável que meninas sejam enviadas para escolas mais distantes do que meninos. Exigem pagamento igual para homens e mulheres, e um salário digno no geral, já que o salário da categoria no geral sequer ultrapassa a linha de pobreza oficial do Irão. Muitas também cobram a transformação do conteúdo das aulas e livros didáticos para estimular a igualdade de gênero.
Aquelas que já o fazem por iniciativa própria são forçadas a submeter os seus planos de aula para a administração das escolas. Mulheres educadoras exigem educação sexual que aborde temas como saúde sexual, contracepção e combate ao assédio e abuso sexual. Também exigiram um aumento na licença maternidade e a construção de creches nos locais de trabalho. Muitas também se solidarizaram com outras categorias de trabalhadores iranianos em greve por dignidade. Como a maioria do sistema de educação pública do Irão foi monetizado e privatizado, com as direções das escolas cobrando taxas aos alunos (contrariando a própria constituição iraniana), exigem educação gratuita como um direito de todo o estudante. A exigência de educação livre para todos encontra eco em todo o mundo noutros países em que a educação se transformou numa mercadoria capitalista. Exigem o fim das crescentes contratações precárias temporárias de professores, uma prática que atinge a maioria da classe trabalhadora no Irão e no mundo todo. Cobram a libertação de todos os prisioneiros políticos. Tudo isso junto é, em resumo, o significado de “mulher, vida e liberdade”.
No mundo todo mulheres, pessoas trans, não binárias e seus apoiantes estão numa luta renovada por igualdade de género. Como os iranianos em luta contra o policiamento dos corpos femininos, as massas protestam nos Estados Unidos contra a revogação da decisão Roe vs Wade e o direito ao aborto. Se pensarmos a fundo nessa situação, vemos a incrível hipocrisia dos políticos norte-americanos, que retiram direitos das mulheres nos EUA, mas se dizem apoiantes dos direitos das mulheres no Irão. Essa hipocrisia é ainda mais visível quando os EUA, sob governos tanto dos Republicanos quanto dos Democratas, impõem sanções que aprofundam os problemas económicos que as mulheres do Irão enfrentam e que já são graves devido à ganância de seus próprios governantes e elite económica. Em nenhum momento isso é tão óbvio quanto quando essas sanções dificultam o acesso das mulheres à saúde reprodutiva. Nenhum líder dos EUA pode levar liberdade ao povo do Irão, já que o histórico imperialista de intervir violentamente no destino deste e de MUITOS outros países mostra que o governo norte-americano só responde aos seus próprios interesses políticos e corporativos e aos da sua burguesia.
Hoje é obrigação de todas as pessoas conscientes do mundo lutarem para amplificar as vozes do povo iraniano por “mulher, vida e liberdade”. É obrigação nossa ampliar as exigências dos atuais protestos, que clamam por um fim ao policiamento dos corpos das mulheres do Irão. Temos que apoiar as reivindicações da classe trabalhadora e dos oprimidos do Irão e a sua exigência de fim da ditadura da República Islâmica. Temos que apoiá-los para que resistam à cooptação e exploração da sua luta por liberdade por parte do imperialismo dos EUA e de outros oportunistas, e amplificar as suas lutas locais por autodeterminação e democracia. Enquanto os poderes dominantes no Irão e no mundo os oprimirem de toda forma, os iranianos continuarão a resistir. São fortes, e um dia conseguIrãoo a liberdade.