A vitória de tirar Bolsonaro do Governo deve ser comemorada, e foi conquistada contra a máquina do Estado brasileiro usada ilegalmente por Bolsonaro para tentar ganhar as eleições. Bolsonaro chegou a usar a Polícia Rodoviária Federal para impedir o voto de potenciais eleitores de Lula. O resultado eleitoral mostrou que a vitória de Lula não estava garantida. Foi a eleição mais disputada do período democrático do Brasil.
Mau perder ou provocação golpista?
Todos acompanhamos o show de horrores protagonizado por parte da base eleitoral de Bolsonaro após as eleições. Apesar do esvaziamento dos protestos, os grupos bolsonaristas mostraram radicalização e organização e, principalmente, a disposição de tentar um golpe militar no país. O silêncio de Bolsonaro foi também uma tentativa de sondar as forças que teria para questionar o resultado eleitoral. Facto é que a maior parte das Forças Armadas se recusou a tal empreitada, e Bolsonaro teve de dar aval para a transição e pedir que a libertação das estradas pelo país.
Não podemos achar que os acontecimentos dos últimos dias no Brasil são apenas expressão do mau perder de Bolsonaro; são muito mais a prova de disposição antidemocrática do bolsonarismo e da sua base radicalizada. Ainda que, por agora, não tenha forças suficientes para levar às vias de facto o golpe que tanto propagandeia.
Um governo de frente amplíssima que não vai atender às reivindicações/necessidades da classe trabalhadora
Na segunda volta das eleições brasileiras o nosso partido irmão do Brasil, o PSTU, chamou ao voto na candidatura de Lula, para derrotar eleitoralmente Bolsonaro. No entanto, sempre alertou para os limites programáticos da candidatura de Lula.
O PT ganhou dessa vez com o apoio de setores que tradicionalmente representam a burguesia do sector da banca e da indústria no Brasil, que no período anterior apoiavam as candidaturas do PSDB. Geraldo Alckmin, é o coordenador da transição entre o governo de Bolsonaro e do Lula e será o vice-presidente do país.
Por outro lado, Lula faz acenos também aos partidos que foram base de apoio do Bolsonaro, como o União Brasil e até mesmo à setores do próprio PL de Bolsonaro. É evidente que este mandato terá de atender às necessidades dos setores da burguesia com quem Lula se alia.
Apenas uma alternativa da classe trabalhadora poderá fazer frente às ameaças golpistas
Os grupos bolsonaristas mostraram que estão dispostos, se puderem, a destruir as conquistas democráticas que existem no Brasil. Lula e o PT optaram por canalizar o combate ao bolsonarismo para a via eleitoral. A derrota eleitoral de Bolsonaro, ainda que seja uma vitória, é uma vitória tática perante a guerra que a classe trabalhadora e os setores oprimidos terão de travar contra o bolsonarismo.
Não podemos ter nenhuma ilusão no governo de Lula e do PT. Até mesmo para garantir que Bolsonaro e seu gangue paguem pelos crimes que cometeram será preciso muita luta. Assim como terão de ser as organizações sindicais, dos movimentos populares e dos oprimidos a organizarem a sua autodefesa. Será necessário construir, na luta contra a extrema-direita e também em oposição ao futuro governo do PT, uma alternativa política que não se contente com o menos mau.
A luta no Brasil contra a extrema-direita trará lições importantes para Portugal e para a Europa. O crescimento da extrema-direita é um fenómeno internacional. E cada avanço no Brasil contra o bolsonarismo é uma vitória para a classe trabalhadora em todo o mundo.