Os acontecimentos do verão deste ano mostraram as contradições que continuam a atravessar o nosso país, mesmo quando tudo parecia “calmo”.
Os incêndios são uma tragédia anunciada. A busca desenfreada por incendiários esconde, na verdade, a responsabilidade de governos PS e PSD, numa situação que se arrasta há anos e que Costa não aponta para mudar.
A greve na Autoeuropa mostrou uma outra face dos problemas do país. Em vez de investir na estrutura da fábrica para produzir o novo modelo, a Autoeuropa apostou em explorar os seus funcionários! Esta greve foi um exemplo da resistência necessária para travar este modelo de crescimento assente num aumento da precariedade e na queda brutal dos salários (cerca de 20% da população ganha o salário mínimo) que se impôs no pós-troika e que o Governo Costa não alterou. Veja-se que, no setor industrial, os salários portugueses caíram de 5,9€/hora, em 2007, para os atuais 4,25€/h, próximos dos a 3,4€/h na China. Se os trabalhadores da Autoeuropa vencerem contra a precarização de horários e salários, ganham os direitos de todos! Se perderem, será a motivação para ataques similares noutras empresas!
A recente greve de enfermeiros ou os protestos de professores são mais uma expressão de como o novo modelo de país pouco respeita o trabalho, os salários e a dignidade.
Finalmente – e já que estamos em tempo de Autárquicas – não podemos esquecer o modelo de país e de cidades que se está cada vez mais a impôr, agora às mãos da Geringonça. Se, na Autoeuropa, a preocupação é com a Administração e os carros, a preocupação nas cidades é com a indústria do turismo. Ela é o mote para a expulsão dos trabalhadores das cidades e para a imposição de baixos salários nos setores associados (ex. hotelaria, restauração e aviação). A experiência de Costa/Medina em Lisboa mostra que alianças com o PS significam manter este modelo de cidade para os ricos. Esta é a verdadeira discussão nas próximas autárquicas.
Nas cidades e nos locais de trabalho, vemos, cada vez mais, que a atual “recuperação económica” promovida pela Geringonça (PS-BE-PC) está assente no novo patamar de exploração e destruição dos serviços públicos concretizada por Passos Coelho e mantida por Costa e que, para os trabalhadores, representa a continuação da austeridade por outros meios.
O direito à cidade para os trabalhadores e população pobre, bem como a vitória das lutas nas empresas e no setor público, só pode passar por uma alternativa independente quer da direita quer da geringonça (PS-BE-PC), e não pela escolha de um mal menor.