Perante a brutalidade da pandemia de Covid19, está cada vez mais claro que não estamos todos no mesmo barco. Exemplo disso é que, segundo o relatório da Oxfam (associação que atua no âmbito da pobreza e da desigualdade) – O Vírus da Desigualdade – os dez homens mais ricos do mundo viram, apenas desde o início da pandemia, a sua riqueza conjunta aumentar em cerca de meio trilião de dólares. Para termos uma ideia, isto daria para pagar vacinas para a população mundial e para fazer muito mais. Esta é a cara do sistema capitalista: enquanto milhões morrem e são jogados na miséria, um punhado de multimilionários vê aumentar a sua riqueza durante a pandemia.
Por isso, a atual telenovela das vacinas em Portugal é apenas uma expressão lamentável de um problema mais grave – a escassez de vacinas e de como a corrupção e uso indevido do poder também chega a este campo. Mas o que deveríamos estar verdadeiramente a discutir é o porquê da vacinação na União Europeia, e em Portugal por arrasto, estar tão atrasada? Será porque quer pagar o mínimo pelas vacinas, porque o dinheiro está acima da saúde? Ou será porque se recusa a quebrar a patente das vacinas, porque tem os pés presos aos interesses das multinacionais farmacêuticas? Pensamos que as duas coisas são verdade, e que o Governo de António Costa, seguidor e subserviente que é das orientações de Bruxelas, nada mais faz do que gerir a escassez deste bem precioso em tempos de pandemia.
Ao mesmo tempo, chegam-nos diariamente as cenas dramáticas de um SNS em colapso. A propaganda do PS, coadjuvado pelo PCP e BE, de que a Geringonça teria retirado o país da austeridade mostra a sua face mais mentirosa quando vemos o custo de anos de cortes e desinvestimento no SNS, não revertidos pela Geringonça. Mas o drama é ainda maior quando, mesmo perante a situação limite que estamos a viver, continuam a ser os lucros privados a estar em primeiro lugar. Assim, Portugal vai receber ajuda de médicos alemães e equaciona enviar doentes para a Áustria, mas continua a recusar a fazer a requisição dos hospitais privados, que estão aqui ao lado. Se salvar vidas fosse a prioridade, não deveria isso estar em primeiro plano?
Para nós está claro que o Governo Costa e o Presidente da República são incapazes de resolver os problemas da pandemia no país. É assim no que toca à saúde e à vacina, mas é também assim relativamente aos problemas prementes do desemprego e da perda de rendimentos. Os trabalhadores não querem viver de caridade, querem trabalhar com dignidade. Para isso, é preciso proibir os despedimentos, os cortes de rendimentos e acabar com a precariedade. Mas isso Costa e Marcelo são incapazes de fazer, pois são meros administradores dos interesses da burguesia, por cima das necessidades coletivas do país.
Na saúde e na vida laboral enfrentamos hoje grandes e dramáticos desafios, que implicam uma maior unidade para lutar, mas também a maior intrangigência contra os males menores, como é a proposta de tantas direções sindicais. Jogar para o empate nesta conjuntura é derrota certa. Por isso, para fazer frente à atual pandemia e à crise económica, os trabalhadores precisam de (re)organizar-se e construir alternativas, alternativas de luta, com independência dos patrões e dos governos, contra a exploração e a opressão, com democracia e combatividade.
Mas precisam também de alternativas políticas. Essas alternativas não são os falsos projetos antissistema como o de Ventura, que são financiados por patrões e grandes corruptos e mais não fazem do que dividir os mais pobres para imporem derrotas ainda mais graves aos trabalhadores e pequenos proprietários. Também não são alternativa aqueles que, ainda que com discursos pelos trabalhadores, sistematicamente levam água ao moinho do Costa (e inclusive da extrema-direita) por serem incapazes de romper com o regime e a lógica das “migalhas” e da subserviência à UE. Os tempos que vivemos não podem ser de socialização da escassez, mas sim de luta contra a apropriação individual da riqueza coletiva. A pandemia mostra que o capitalismo mata. Respondamos: é preciso uma nova revolução.