Nos últimos dias fomos tomados por uma polémica ao redor do legado do Militar Marcelino da Mata. O seu enterro contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e foram propostas homenagens e honrarias, pelo facto de ser o militar mais condecorado da história do exército. Marcelino foi parte ativa da repressão às lutas pela independência nacional, sendo comandante dos Comandos Africanos que tinham missões de incursões nos países que lutavam pelas suas independências e países que os apoiavam e de punir as populações que apoiavam o PAIGC. Marcelino era um criminoso de guerra que cometeu barbáries gravíssimas condenadas pelas Nações Unidas. Negar este facto é negar todo o mal causado pelo estado português durante o período colonial ao povo colonizado. Após 25 de abril não cabe a presença do Presidente da República num cerimónia de um inimigo do 25 de abril .
A petição que circula com o objetivo da deportação de Mamadou Ba, é prova também disso mesmo. Uma vez que perpetua o discurso usual e racista de que se não está contente, que saia.
Por outro lado, Chega e o CDS-PP fazem coro a este discurso, tentando de alguma forma impedir o direito democrático de Mamadou Ba de expressar as suas opiniões. Nem André Ventura e tampouco Francisco Rodrigues dos Santos reagem com tão rapidez e eloquência, perante todos os graves problemas que estão a ocorrer no país, com a crise sanitária e social que vivemos. Mostram mais uma vez a que vieram: reforçar o racismo em Portugal e atacar direitos, liberdades e garantias. Direitos estes que estão a ser atacados também pelo Governo, quando normaliza a utilização do Estado de Emergência, proíbe greves e permite a ilegalização de sindicatos. É preciso também exigir do Governo, que para além de organizar campanhas antirracistas, que condene veementemente estes factos. Parte fundamental de combater o racismo em Portugal é reprimir e punir as expressões do mesmo. E sobre isso, pouco ou nada fez o Governo Costa.
Ainda que fique bastante nítido que o ataque aos direitos democráticos de Mamadou Ba, tem um conteúdo político, que é a necessidade de tentar calar qualquer discurso que de alguma forma denuncie o racismo e as agressões coloniais do Estado Português. Acreditamos que não se trata aqui de apoiar politicamente a Mamadou, mas sim de prestar apoio e solidariedade e a defesa, essa sim incondicional, do direito de Mamadou Ba de se expressar sem que seja alvo do ódio racista que segue presente em Portugal.