Vivemos uma forte crise sanitária e social. Em Portugal cerca de 17 mil pessoas morreram de COVID-19, e no mundo já são mais de 3 milhões. A fome e a pobreza crescem até para quem tem emprego. O medo do desemprego ou da perda de rendimentos é parte das preocupações na maior parte das famílias portuguesas.
No país onde o turismo era responsável por quase 10% dos empregos do país, é natural que esteja colocada a insegurança sobre o futuro. O mesmo podemos dizer sobre os 25% da população empregada atualmente por pequenas e médias empresas, que são as mais afetadas pela crise social, uma vez que as medidas do Governo favoreceram principalmente os grandes empresários.
A crise rebenta sempre no elo mais fraco
Neste contexto de crise, o facto de Portugal ser um país subordinado aos desmandos da União Europeia e economicamente dependente dos países centrais europeus faz com que sejamos um elo fraco nesta cadeia. E como sabemos e vimos na crise 2008/09, a crise rebenta sempre no elo mais fraco.
A entrada de Portugal na União Europeia significou o desmantelamento das grandes empresas nacionais, a privatização das empresas nacionalizadas, a perda do controlo da banca, a precarização dos serviços públicos. Como alternativa, deram-nos o turismo e a implementação de algumas empresas multinacionais, que se beneficiam da mão de obra barata e especializada portuguesa. Uma economia frágil e subordinada, que faz com que hoje estejamos muito mais expostos aos efeitos da crise económica e social.
A derrota da revolução deu no que está à vista
Portugal protagonizou uma grande revolução, mas, nesse processo, não era apenas o direito à democracia que estava em questão. A revolução questionou as bases do sistema capitalista, colocando na ordem do dia uma revolução socialista. Como vimos do ponto de vista do controlo operário, mas também nos vários aspetos da revolução, foi preciso um grande esforço dos principais partidos da época – PS e PCP – para que se pudesse desviar a revolução e controlar o impulso do movimento operário.
Ainda assim conquistamos muito: os nossos direitos democráticos, a nacionalização das grandes empresas e da banca, o SNS, a melhoria e crescimento do sistema público de ensino. Mas estando o Governo e o Estado nas mãos dos representantes da burguesia, tudo isso foi sendo desmontado aos poucos, fragilizando cada vez mais a economia portuguesa e os direitos dos trabalhadores.
Mas pode ser diferente
Tudo o que foi conquistado está cada vez mais frágil. Hoje atacam, inclusivamente, aquilo que nos prometeram como central: os nossos direitos democráticos. Costa e Marcelo, muitas vezes com a cumplicidade de BE e PCP, não hesitam em renovarem sucessivamente o Estado de Emergência, em reprimirem greves e apoiarem a ilegalização de sindicatos, em mandarem a Polícia “garantir” o confinamento nos bairros da periferia, reprimindo a população negra e imigrante. Tudo isso porque precisam de assegurar as medidas que permitem a manutenção dos lucros dos grandes empresários. É só ver como atuaram perante o processo da TAP e da Groundforce para percebermos de que lado estão: contra os trabalhadores e o povo pobre, ao lado dos ricos e das multinacionais.
Eles sabem, e nós também temos de saber, que não estamos todos no mesmo barco. Para garantir a vida, os rendimentos e os direitos dos de baixo são necessárias medidas que enfrentem os ricos e poderosos.
É preciso salvar empregos, e não os lucros dos capitalistas! Taxar as grandes fortunas! Nacionalizar, sob controlo dos trabalhadores, as empresas essenciais! Suspender o pagamento da dívida! Sair do Euro e da União Europeia!
É preciso uma nova revolução!
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