Cresce a oposição
Na 12ª Convenção do BE houve um considerável aumento da oposição interna, tendo sido apresentadas cinco moções, mais duas do que na última convenção. Os delegados da Moção A, que representa a direção maioritária liderada por Catarina Martins, caíram de 83,7% em 2018 para 67,9%. A Moção E consolidou-se como a maior oposição, obtendo 19,2% dos delegados e três representantes na Comissão Política do BE: Mário Tomé, Ana Sofia Ligeiro e Bruno Candeias.
Entre as principais críticas das moções de oposição estava a falta de democracia interna. Acusam a direção de não ouvir as bases do partido e de não ver de forma autocrítica a política do BE. A crítica também bastante presente é de maior institucionalização do Bloco, de privilegiar as iniciativas parlamentares e a mediatização das políticas do partido em detrimento da relação com os movimentos sociais e sindicais e os organismos de base do partido.
Sem questionamento à política da Geringonça
Apesar do crescimento da oposição há que destacar que nenhuma das moções se opõe de forma contundente à política da Geringonça. Há uma exigência de maior demarcação do BE frente ao PS, mas de conteúdo nenhuma vê como negativo a apoio do partido a um governo do PS, não ficando por isso afastada a hipótese de repetir o apoio ao PS no futuro.
Porém, em nossa opinião, só é possível compreender a institucionalização do BE a partir da sua relação com o Governo.
O resultado do Governo da Geringonça não foi um virar da página da Austeridade, como afirma a maioria bloquista, mas sim a manutenção da essência da política do PS/PSD – a submissão económica do país -, fazendo com que hoje, perante a esta nova crise, os trabalhadores e os pequenos empresários estejam muito mais expostos. E apesar de o BE ter votado contra o último Orçamento do Estado, ajudou a aprovar o Estado de Emergência que reprimiu os direitos dos trabalhadores e não garantiu as medidas necessárias de combate à pandemia. Por outro, a política da Geringonça permitiu ao PS recompor as suas forças eleitorais, ao mesmo tempo que o BE aumentou a sua institucionalização, estando presentes no Conselho de Estado e focado nas medidas parlamentares.
Um caminho anunciado?
O Bloco de Esquerda é hoje a terceira força eleitoral do país e sabemos que tem aproximado vários ativistas que querem atuar para a transformação da realidade e acreditam que o BE é um instrumento para essa luta. No entanto, a direção do partido está centrada na transformação via as eleições. Basta olhar para o Estado Espanhol e para a Grécia, para vermos como os projetos do Podemos e do Syriza falharam, por alimentarem a ideia da transformação radical pela via eleitoral. Qualquer esperança numa saída para os trabalhadores pela via parlamentar acaba a levar à adaptação ao Estado. Infelizmente é este o projeto que o BE vem sucessivamente reafirmando.
Evitar adaptação ao Estado passa por construir uma alternativa revolucionária dos trabalhadores, por combater a ideologia de que é possível a conciliação de classe, por prezar pela mobilização independente dos trabalhadores, afirmando que as mudanças estruturais não passam pelo Parlamento. E passa, principalmente, por afirmar que, no capitalismo, não há solução para a classe trabalhadora e para o povo pobre,e que é necessária uma revolução para construir uma nova sociedade, socialista, que nos permita viver plenamente.