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Justiça para o ator Bruno Candé: para que não se esqueça e nunca mais aconteça

O dia 25 de julho de 2020 foi ensanguentado pela morte de Bruno Candé, ator de 39 anos e pai de 3 filhos, barbaramente assassinado com cinco tiros à queima-roupa. As razões para este crime? Uma só: Candé era um homem negro.

Dias antes de assassinar Candé em plena luz do dia na avenida de Moscavide, Evaristo Marinho, um ex-militar da Guerra Colonial, não deixou dúvidas quanto à motivação racial do crime: proferiu um rol de insultos racistas, “preto, vai para a tua terra!”, “volta para a sanzala!”, ameaçando-o de morte na frente de vizinhos. Todavia, a Justiça em Portugal poderá, mais uma vez, descartar a acusação de ódio racial, a exemplo do que fez em outras condenações, como a do caso dos polícias da esquadra de Alfragide.

Está em curso a Campanha “O racismo matou de novo. Justiça por Bruno Candé”

De forma a impedir a impunidade desse crime racista, um conjunto de ativistas e organizações antirracistas e do campo artístico, conjuntamente com familiares e amigos de Bruno Candé, decidiram criar de forma ampla e unitária a campanha “O racismo matou de novo. Justiça por Bruno Candé”. A primeira ação da campanha foi um ato no Tribunal de Loures, aquando do julgamento do seu assassino. Um novo ato está marcado para o dia 18 de junho às 9h no mesmo Tribunal. Evocar a imagem e memória de Bruno Candé é outro dos objetivos dessa campanha, que prevê desde uma iniciativa cultural e política em sua homenagem um ano após a sua morte à criação de uma petição a exigir a mudança de nome da avenida de Moscavide para avenida “ator Bruno Candé Marques”. O Em Luta é parte das organizações promotoras dessa campanha, apelando a todas e a todos para que se juntem a nós na exigência de Justiça para Bruno Candé.

A Justiça em Portugal é Racista: nenhuma confiança neste Governo

Não voltamos às ruas à toa. Sabemos que o racismo vigora nos tribunais e nas instituições portuguesas, com o consentimento do governo Costa, para quem a fissura na sociedade portuguesa é causada, não pelos crimes racistas, mas por quem não se cala e os denuncia. A impunidade do racismo em Portugal é de tal modo gritante que apenas 1,7% das queixas de discriminação racial recebidas pela Comissão para a Igualdade Contra a Discriminação Racial (CICDR) resultaram em condenação. Não por acaso, o atual Governo nada propõe de concreto para alterar a impunidade da atual lei, mantendo um quadro legal que não o criminaliza. Racismo não é contra ordenação, é crime!

Este Governo também é conivente com as desigualdades económicas e sociais em que vivem as populações afrodescendentes, ao impedir a recolha de dados étnico-raciais (no Censo 2021) – o que permitiria um conhecimento aprofundado das condições de vida das comunidades negras e ciganas – e não propor qualquer tipo de quotas raciais.

Foi também este Governo que, diante desta brutal crise económica no contexto da pandemia, tem tomado medidas que resgatam “a economia” (e o lucro) dos patrões, deixando “afundar” e reprimindo o conjunto dos setores mais explorados e oprimidos da população. Por isso, mais do que nunca, não podemos confiar neste Governo, tampouco depositar a esperança em negociações que querem domesticar a combatividade e independência das lutas antirracistas, dissociando-a das ruas e dos bairros.

Não existe capitalismo sem racismo

O monstruoso assassinato de Bruno Candé mostra a face mais violenta do racismo, cuja base histórica e ideológica não pode ser desligada do sistema capitalista. O capitalismo não abre mão da violência sobre as populações racializadas para fomentar o ódio e a divisão entre a classe trabalhadora: de nacionais para estrangeiros, de brancos para negros. Por isso, sabemos que não é possível resolver o racismo por dentro deste sistema. Como afirmou Malcom X: “Não existe capitalismo sem racismo”.

É no caminho da mobilização independente que a luta antirracista deve seguir, com a perspetiva de que só a luta por uma sociedade socialista, onde a produção esteja nas mãos de quem cria riqueza com o fruto do seu trabalho, poderá destruir as razões das desigualdades, das injustiças, da violência e do racismo.