No artigo escrito por Ihor Burdyga, do Deutsche Welle (DW), e publicado no G1-Globo, é descrita a situação de Kherson, cidade reconquistada pelo exército ucraniano em novembro, após nove meses de ocupação. Ainda a enfrentar forte bombardeio por parte das tropas russas, posicionadas na outra margem do rio Dnipro, os habitantes de Kherson contam, a quem os queira ouvir, as suas histórias de resistência ao ocupante russo.
Este foi o caso de Yuri Savchuk, diretor de um museu sobre a participação da Ucrânia na Segunda Guerra Mundial. Ele foi a Kherson recolher depoimentos e já fizera 50 entrevistas. Segundo ele, a vontade de falar é muito grande. Como a de Vladimir. Já velho para ingressar no exército, registou-se para a defesa territorial.
Uma de suas atividades foi relatar a movimentação das tropas russas num aeroporto das redondezas. “Eu me agachei em um cemitério e fingi estar de luto por minha esposa”, disse ele. “Memorizei tudo e o transmiti aos nossos oficiais de reconhecimento ucranianos. Eu disse que havia dois ventiladores e cinco latas de carne em uma loja. Esse era nosso código secreto para helicópteros e transportadores de tropas.”
“Eu deixei a Rússia por um lugar como a Rússia”
Imagine-se o sentimento de frustração e revolta de uma pessoa que consegue fugir do seu país para não ser preso e acaba preso num outro país que alardeia estar ao lado dos que lutam por justiça e liberdade. Foi exatamente isso que aconteceu ao casal de médicos Mariia Shemiatina e Boris Shevchuk, em fuga da Rússia por se oporem à invasão da Ucrânia.
Eles contaram à jornalista Miriam Jordan, do The New York Times, que, na porta de entrada dos EUA pelo México, entregaram seus passaportes e pediram asilo. A resposta foi imediata: algemaram-lhes mãos e pés e os enviaram para centros de detenção de imigrantes. “Achei que, quando deixássemos a Rússia, nosso sofrimento teria acabado”, disse Shevchuk.
Não foram só eles que se iludiram com a possibilidade de conseguir asilo nos EUA. Estima-se que milhares de ativistas antiguerra russos estejam presos em centros de detenção nesse país, muitos deles pertencentes à iniciativa privada. De acordo com o artigo do The New York Times, só este ano 21.763 russos foram processados pelas autoridades norte-americanas na sua fronteira com o México, contra 467 em 2020.
“Eu deixei a Rússia por um lugar como a Rússia”, lamentou um deles. É verdade. A atitude dos EUA para com os refugiados russos é a demonstração mais categórica de que a classe trabalhadora e a juventude russas e ucranianas só podem confiar na solidariedade da sua própria classe.
Link dos dois artigos:
nytimes.com/2022/11/28/us/russian-activists-asylum.html?searchResultPosition=1